Capítulo 3

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Estalei os dedos e passei a mão por detrás da orelha

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Estalei os dedos e passei a mão por detrás da orelha. Salvatore andava à minha frente, provavelmente para evitar ter que olhar para mim e mostrar que estava puto por eu saber o que ele tinha e não tinha feito ao mesmo tempo. Com meus braços atrás do corpo, assobiava enquanto andávamos até onde o rei me aguardava. E apesar da minha tranquilidade, todos os meus alertas estavam ligados, podia sentir o cheiro de merda chegando.

No corredor que levava até onde me queriam, meus olhos foram atraídos pelo relógio adornado pendurado na parede. Meia noite. Suspirei. Considerando tudo o que me cercava, havia me enganado sobre ter me comportado.

Quando a porta escura surgiu diante de nós, meu sangue correu mais rápido. Controlei minha respiração afoita e apertei os dedos das mãos. Salvatore parou, coçou a garganta e virou a cabeça para trás. Seu olhar frio e calculista, o meio sorriso no rosto, as sobrancelhas arqueadas e a postura de quem sabia que eu estava ferrado. Antes de entrar, alisou os cabelos grisalhos e a lapela do paletó.

Ele se preparava para me arregaçar e estava eufórico com isso.

Dentro da pequena sala, apenas meu pai me esperava. A saleta escura era iluminada apenas pelos três abajures, que devido à sua luz baixa, protejavam uma sombra assustadora sobre meu pai. Ajudando a deixá-lo ainda mais intimidante e amedrontador.

De pé, olhando para a janela, e também com os braços para trás — maldita genética —, tinha as costas viradas para mim e para Salvatore. Sem o paletó, as mangas da camisa perfeitamente dobradas até os cotovelos e os cabelos curtos e escuros penteados sem um fio fora do lugar.

— Deixe-nos, Salvatore — sucinto e frio. Não se moveu um centímetro. Mantinha-se imóvel olhando para o horizonte escuro e vazio. Virei de lado e vi o juiz sair sem falar nada. A porta se fechou e ficamos somente nós dois ali.

Ergui a cabeça e fitei suas costas. Ele estava tranquilo e relaxado, agindo como se aquilo não passasse de algo corriqueiro e sem importância. A camisa não tinha uma rusga ou amassado. Nem seus músculos estavam tensos. O silencio era o que ele mais gostava, depois de gritos de dor e misericórdia.

— Até quando vai continuar comendo essas putas ignorando acordos e acertos entre famílias? — direto ao ponto, sem vacilar. A fala não foi dita alta ou exaltada. Eu sabia muito bem que a versão incisiva, calma e despretensiosa que assumia nessas situações era a pior. Era na linearidade que revelava seu pior lado e a besta que era.

Exalei o ar e retruquei.

— Até quando vai se fazer de cego para os pilantras que lhes sorriem afáveis mas que pelas costas maquinam tentando derrubá-lo? Fazendo escondido aquilo que não deveriam?

Dois podiam jogar, pai.

Ele soltou uma risada irônica. Seus ombros subiram e desceram, seus pés se arrastaram pelo chão e então se virou para mim. Nem que quisesse poderia negar nosso parentesco, eu era a versão mais nova dele. Suas sobrancelhas grossas, o olhar penetrante e altivo, os lábios finos, o nariz empinado. Como se reinasse sobre o mundo, e sobre mim, tinha uma expressão de asco e desprezo no rosto.

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora