Capítulo 4

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KATE

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KATE

Os sapatos estavam guardados. As roupas dobradas e acomodadas nas gavetas da cômoda. Arrumei mais uma vez as bonecas nas prateleiras presas na parede. Meus olhos passeavam pelos pequenos rostos de pano, meus dedos delicadamente tocavam e sentiam a textura do brinquedo sob a pele, que mesmo com seu sorriso estático, me fazia lembrar todos os momentos de gargalhadas e alegria.

Fechei os olhos e repuxei a boca para dentro reprimindo as lágrimas. Lutando para não deixar os sentimentos ruins e a agonia me quebrarem mais uma vez. Precisava me controlar. Passei a mão pelo pescoço e soltei o ar pela boca, olhava para baixo quando abri os olhos. Levantei o rosto e engoli o bolo em minha garganta.

Era injusto tudo aquilo. Por que ela? Por quê?

O quarto decorado do jeito que ela amava, os desenhos coloridos por todos os lados, sua coleção de princesas todas perfeitamente enfileiradas sobre a cama. Tudo meticulosamente escolhido por ela. Desde as cortinas que cobriam as janelas até ao formato de flor dos puxadores do guarda roupa.

Virei o rosto para o lado, apoiando o queixo sobre o ombro. O quarto exalava Natasha. Todas as cores vibrantes, as flores e estrelas pintadas em folhas de papel que cobriam todos os cantos livres que ela encontrou. Sorri minimamente quando avistei sua foto no porta retrato que solitariamente acompanhava o abajur ao lado da cama. Andei até a mesinha branca deixando a mão escorregar pelo pano gelado da boneca. Esticando o braço, inclinei o corpo para frente e o apanhei.

Vestida com sua roupa de bailarina, saia de tutu e coque na cabeça, tinha as duas mãos apoiando o rosto sorridente que olhava para a câmera. Seus olhinhos estavam fechados com o seu sorriso aberto no rosto, o tom bem avermelhado de suas bochechas me fazia recordar do dia em que tiramos a foto.

"Mamãe, no meu aniversário nós podemos ir ver o Quebra Nozes?"

Tentei, mas não consegui evitar que as lágrimas enchessem meus olhos. Sem minha permissão elas escorreram por meu rosto e solucei ao tocar a fotografia. Minha Natasha, minha pequena bailarina. Ela estava tão ansiosa e nervosa naquele dia. Tinha acordado cedo e passou a manhã inteira pulando pelo quarto do hotel, perguntando se estava na hora.

Eu dizia que ainda não e ela fazia seu biquinho de choro. E com uma carinha entristecida, que me fitava enquanto seu corpinho se balançava para os lados, me amolecia por inteiro. O poder que Natasha possuía sobre mim era infindável e eu não me importava.

Jamais esqueceria seu olhar impressionado quando as cortinas vermelhas do Teatro Bolshoi se abriram revelando o grupo de bailarinos. Ela arregalou os olhos e abriu a boca, mostrando todos os dentes da boca em um sorriso aberto. Durante todo o espetáculo fiquei a olhando sem que percebesse. No ato final, Natasha pegou minha mão e a apertou forte. Quando as palmas denunciaram o fim do show, pulou em meu colo e me abraçou.

"Muito obrigada, mamãe".

Sacudi a cabeça e deixei os lapsos de memória se esvaírem da minha mente. Coloquei a fotografia no lugar e saí dali, apagando as luzes e fechando a porta, não sem antes dar uma última olhada no quarto vazio. Do lado de fora, me escorei na porta branca e apoiei a cabeça na madeira.

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora