Capítulo 22

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DYLAN


Ele não me respondeu. Nem ao menos abriu a boca. Não que eu esperasse algo do tipo ou um bem vindo cordial. Soltou minha mão com se algo ali pudesse o contaminar. Repuxei os lábios para esconder minha reação por sua cara de nojo. Sem fazer questão alguma de esconder, encarava-me enquanto esfregava os dedos na calça de linho.

Elevou as sobrancelhas e pigarreou. Assenti sarcasticamente e o homem virou o rosto para cumprimentar Mikhail antes de puxar sua cadeira e se sentar. Algo foi dito e um novo aperto de mãos foi dado. E daquela vez sem expressão de desprezo. O presidente até arriscou dar um risinho. Enquanto ele chamava alguém com um leve balançar da mão no ar, imitei-o.

Acomodei-me na cadeira, dobrei as pernas e tornei a segurar o copo. Rapidamente meus olhos passearam pela sala, gostava de saber onde estava. Era como se o meu inconsciente calculasse as possíveis rotas de fuga.

As cortinas claras, o tapete no meio do chão, os vasos de planta ao lado das janelas. Tirando a porta de onde ele saiu e a porta por onde entrei, mais nada. Às claras, nada que pudesse ser perigoso ou que chamasse a atenção. Às escuras, tinha plena consciência de que me tinham sob uma lupa, aumentada mil vezes caso necessário para antecipar qualquer artimanha minha.

Um secretário engravatado apareceu e lhe entregou o que fora pedido. Trocaram poucas palavras e então apenas nós três permanecemos.

Apesar de estar ali fisicamente, minha presença era ignorada com maestria. O presidente de estatura alta e olhos acizentados era pálido na maior parte do tempo, mas quando a conversa tomava um caminho mais complexo, suspeitei, ele mudava. O tom da voz, a respiração, a vermelhidão no rosto. Hora ou outra o punho fechado acertava a mesa fazendo com que algumas folhas de papel voassem e caíssem.

Fosse lá o que discutiam, eu não interrompi. Foi evidente o desprezo quanto a mim, mas por pior que fosse para ele, precisaria da minha ajuda. Todos ali precisariam. Os tais russos não seriam extraditados facilmente, ainda mais por serem suspeitos de vazar informações sigilosas.

Era aquele o meu trunfo.

Os minutos passaram e em nenhum momento fizeram questão de permitir que eu adentrasse na conversa. Pouco me importava. O segredo para destruir uma fortaleza não era somente atacá-la por fora com força máxima, mas adentrar os muros fortificados e implodi-la.

O americano que eles desprezavam era a tábua de salvação.

E era por causa daquilo que não me tocariam. Não enquanto eu não mexesse os pauzinhos. Se, e quando "se" decidissem me pegar, estaria bem longe.

— Então acho que estamos combinados, senhor — foi a última frase que Mikhail disse, em inglês, obviamente de propósito, antes de virar a cabeça para mim.

O encarei rapidamente enquanto que com o canto dos olhos reparei no outro russo. Não tinha mais a postura exaltada nem o rosto enfurecido. Ao contrário, reclinou-se como se nada tivesse acontecido e começou a tamborilar os dedos sobre a mesa.

— Agora você entra, Dylan — Mikhail falou próximo ao meu rosto, meneando as sobrancelhas grossas, suscitando de modo irônico. — O que eu tinha que falar foi resolvido.

Era nítido o brilho maldoso em seu olhar. Uma coisa que ele adorava, talvez mais do que eu, era instigar sem se preocupar com as consequências. O homem tinha contato direto com a maior autoridade política do país e não se importava em agir como se fosse o mais importante do lugar.

Consciência de que suas mãos eram grandes o bastante para quebrar o pescoço de alguém, ou então que o seu porte rígido e forte seria capaz de acabar com qualquer um sem o mínimo de esforço. Mesmo sabendo que o exército vermelho não hesitaria em acabar com ele.

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora