Capítulo 26

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KATE


Todos os dias, precisamente às oito e meia da manhã, não importando as condições do tempo, seu Alexei e dona Tatiana chegavam de braços dados ao clube de tiro. Ele tinha sessenta e dois anos enquanto ela tinha cinquenta nove. Casados há trinta e sete anos, junto há trinta e nove. Quando comecei a dar aulas, apenas ele fazia. Era o típico machão, cara dura, olhar orgulhoso quando queria mostrar que sabia o que estava fazendo, mesmo que não soubesse.

Até que bateu de frente comigo. Naquela época, nos meus vinte e poucos anos, ele achou que eu era inexperiente. Chegou a desdenhar do que eu podia fazer, reclamou com a coordenação, disse que era de um despreparo enorme colocarem uma menina como eu para fazer aquilo. Escutei a tudo sem me exaltar ou reclamar.

Havia apenas um jeito de fazê-lo mudar de ideia.

O levei até a área de tiros e o coloquei parado lá. Coloquei uma pistola bem simples de ser manuseada em suas mãos e pedi que mirasse no alvo. Ressabiado, pegou a arma, se posicionou, mirou e atirou. A bala pegou de raspão na área mais externa do alvo. Olhando-me de esgueira, deu de ombros e falou ter sido má sorte.

Mantendo o rosto sério, balancei a cabeça, ainda sem sorrir.

Homens. Por que não podiam simplesmente assumir que não eram bons em tudo?

Pedi licença e tomei a frente. Mas como eu queria sim provar o quão boa era, não me dava a falsa modéstia, sabia muito bem que eu era foda naquilo, apimentei um pouco mais. Pus uma venda sobre os olhos. A expressão de espanto que ele deu ao notar o que eu fazia me fez prender os lábios. Amarrei o pedaço de pano preto ao redor da cabeça e relaxei o corpo.

E mesmo não podendo enxergar nada, fechei os olhos. Para me concentrar, precisava limpar da mente tudo aquilo que pudesse ser um empecilho. Esquecia tudo, qualquer ruído, qualquer pessoa ao me redor. Quando se limitava um sentido, os outros eram impelidos a serem mais efetivos.

A audição, o tato.

O gatilho era gelado sob o toque do dedo indicador.

Em teoria, eu não precisava de nada daquilo. Mas era mais forte do que eu. Um dos treinamentos que fiz por muito tempo era aquele. Ser preciso e certeiro em acertar o alvo mesmo quando não se tinha a visão dele. Tinha que visualizar onde ele estava, os pontos fracos, a melhor maneira de acertá-lo.

Lara era feroz naquilo. Repetia incansáveis vezes a mesma coisa.

"Enxergamos com o corpo inteiro e não apenas com os nossos olhos, Ekaterina. Quando for capaz de entender isso, vai perceber que a visão é apenas um acessório, e não a parte principal".

Puxei o gatilho e imediatamente as vibrações varreram meu corpo. Era como receber pequenos choques que começavam na mão, se alastravam pelo braço, e tomavam conta de tudo. A melhor parte era sentir a tensão se esvair depois do fato consumado. A adrenalina chegava a um nível tão alto que a sensação de saciedade era viciante.

Quando tirei a venda e olhei para o alvo, sorri.

Todas as balas entraram perfeitamente no mesmo lugar.

E bem, depois daquele dia, seu Alexei se convenceu de que eu não era uma menina inocente. E muito menos despreparada. Por que seria, não é mesmo? Tanto que arrastou a esposa com ele, a desculpa dada foi que ele tinha descoberto alguém diferente e que ela precisava conhecer. De início ela pensou que ele estivesse mentindo, mas quando viu do que se tratava, não é que pegou na arma e nunca mais soltou?

Quando digo que russos são peculiares, não é mentira. Pense então em uma russa de idade, um tanto estressada, tendo livre acesso a armamento.

Não ando perto dela sem estar com o meu colete. Melhor prevenir.

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora