Capítulo 32

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DYLAN



Eu odiava hospitais.

E tava nervoso pra porra.

E levando em conta que a bailarina – não diabinha, bailarina – estava em um, era motivo mais do que suficiente para a minha inquietação. Nunca soube lidar com pessoas doentes. O que eu poderia fazer? Desejar o melhor? Era muito vago e superficial, fora que sempre que se dizia aquilo, provavelmente a pessoa não durava muito tempo. E tendo em vista que a minha boca poderia não ajudar em nada por se tratar de uma criança, e principalmente por ela ser a filha da russa, pela primeira vez em muito tempo pensava com cautela no que faria. Se algo fosse dito ou feito de maneira errada, aí mesmo que eu foderia com tudo.

— Você me parece nervoso — Nathan comentou, me chamando a atenção.

Vire-me para encará-lo, seu rosto era um misto de curiosidade e ironia com o meu silêncio nada convencional.

— Acho que tá mais pra cú trancado — Nina, a tal amiga da russa emendou ao cutucar o purpurinado com o cotovelo. — Não há com o que se preocupar, Dylan.

Deu um risinho debochado a terceira perna do tripé que envolvia além deles o espanhol que observava a tudo. Aliás, falando nos três, tinha certeza que rolou alguma coisa entre eles. Que Nathan e a russa de cabelos curtos e olhos pequenos haviam se grudado eu sabia, mas a proximidade repentina da tríade significava uma coisa.

Rolou um ménage fodido ali.

Será que se eu sugerisse algo do tipo pra diaba ela aceitaria?

Não com eles, até porque a ideia de pegar o meu primo era nojenta, mas a suposição era interessante, além de que pensava há dias no que mais Kate podia fazer. Caso ela concordasse, já sabia exatamente o que fazer e onde levá-la, mas caso negasse, o plano B de igual modo estava mais do que pronto e engatilhado para ser posto em ação.

Copo meio vazio? Só se você não tivesse imaginação, e isso eu tinha de sobra.

— Crianças são inofensivas e não mordem.

— Na verdade eles mordem sim — Nathan disse para ela. — Eu já fui presa de um pestinha que ficou os dentes no meu braço.

— É verdade — confirmei, rindo ao me lembrar da história. — O moleque corria que nem uma porra louca numa festa da irmã nojenta desse aí, seu amiguinho começou a ficar sem paciência e soltou um fique quieto pro capetinha. E é claro que ele não ligou. Correu mais um pouco entre as mesas, esbarrando em todo mundo, até que teve o braço agarrado por Nathan, o impedindo de continuar. O moleque se enfezou, deu a língua e pronto, mordeu Nathan que não teve alternativa a não ser se segurar para não gritar e derrubar algumas lágrimas de arco íris.

— Isso não é verdade — se retratou para ela, balançando a cabeça. — Apenas fiz uma expressão de surpresa ao ver que o garoto decidiu brincar de Drácula comigo.

— Expressão de surpresa no meu rabo — tratei de desmascarar o mentiroso. — Eu vi tudo, a cara de dor, a boca aberta, a testa franzida, a respirada para não fazer uma cena daquelas.

Gargalhei.

— Devia estar lá, russinha — falei para ela. — Se eu ri, tu ia se escangalhar. Seu querido amante não sabe lidar muito bem com o uso dos dentes, imagino como ele faz para se virar em situações onde eles inevitavelmente acabam se fazendo bem presentes, se é que me entende.

Olhando-o pelo canto dos olhos, Nina repuxou a boca, mordendo os lábios para não rir.

— Não me lembrava que ele era assim — Miguel, o espanhol de cabelos enrolados e sorriso mais fácil que a minha inclinação para a devassidão murmurou para Nathan. — Ele me parecia mais...

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora