KATE
Deslizando os dedos pelos fios de cabelo cada vez mais finos e mais ralos de Natasha, a observava trocar a roupinha da boneca mais uma vez. Ela colocava um vestido, ajeitava o lacinho na cabeça, arrumava os sapatos e sorria. Mas logo em seguida torcia o nariz e chacoalhava a cabeça. Minha bailarina sabia ser enfezada. A expressão de descontentamento era a minha, sem tirar nem por.
E como gostava de ter as coisas como queria, trocava tudo. Era a quarta vez que repetia o processo e a cara emburrada não mudava.
— Amor... — sorrindo, sussurrei em seu ouvido — já tinha colocado essa antes.
— Eu sei mamãe... — virando o rosto, me encarou com a testa franzida — mas não tá ficando como eu pensei. Queria que ela ficasse igual a mim naquele vestido que a tia Nina me deu, mas não tô conseguindo. Tá vendo como não tá igual?
Natasha chacoalhou a boneca na minha cara como se aquilo me fizesse prestar mais atenção, mas ao invés disso, só enxergava cabelos loiros de mentirinha que eram jogados para os lados.
— Tá vendo? — disse tão séria que tive que me segurar para não gargalhar — E também não é rosa. Rosa é mais bonito. Por que tudo não pode ser rosa? É melhor que tudo.
Outro ponto importante. A vida dela girava ao redor de coisas rosa. Vestidos, blusas, arquinhos de cabelo, mochila, sapatos, meias, roupas de cama. Se fosse rosa e tivesse alguma relação com bailarinas e afins, era aí mesmo que ela endoidava.
E que o meu dinheiro ia embora.
— Tudo rosa? Bem... — peguei a boneca de sua mão e a analisei de perto — eu acho que ela está linda, não mais do que você, mas linda. Esse vestido azul até que é bonito. Reparou que tem essas pedrinhas aqui na frente? E essa saia aqui? É bufante do jeito que gosta.
Usava meu tom mais meloso na tentativa convencer a pequena emburradinha. Mas Natasha era parecida demais comigo. Simplesmente cruzou os braços e ergueu o queixo. Apesar de nova, a personalidade não era tão doce e delicada todo o tempo, ainda mais quando ficava irritada. Outra coisa minha. Podia até brigar com ela, mas fazer o que quando você via uma cópia sua?
Vendo que se eu continuasse a encher o vestido azul de elogios não daria certo, decidi seguir por outro caminho. E sabia exatamente o que falar para mexer com ela. Girei o corpo sobre a cama e me acomodei melhor.
— E se eu conseguir um vestido pra sua boneca como aquele da Julieta que vimos no teatro? — desembaraçando os fios embaraçados da boneca, soprei a pergunta como se não quisesse nada.
Pelo canto dos olhos a vi desmanchar a carranca e deixar um sorriso escapar.
Continuei a olhar para frente, me preocupando com o bebê de plástico enquanto Natasha aos poucos se voltava para mim.
— Aquele todo cheios de pedrinhas coloridas? — perguntou com uma pitada de esperança na voz.
— Aham.
Balancei a cabeça.
Natasha se achegou até mim, emparelhando nossos corpos.
— Com aquela saia que parecia uma nuvem fofa?
Elevei a cabeça e fitei a parede, habilmente reprimindo minha expressão vitoriosa.
— Fofa? — repuxei os lábios — Acho que é ela mesma. Parecia feita de algodão doce, né? Pelo menos foi o que pareceu quando a bailarina entrou no palco.
Dei de ombros.
Depois de desfeito todos os nós, recostei-me na cama e fechei os olhos, deixando a boneca ao meu lado e entrelaçando os dedos das mãos sobre minhas pernas.
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SEDUÇÃO FATAL [HIATO]
Romance[+18] Dispa-se de todas as algemas e vista-se da liberdade de ser quem e o que desejar. ▪▪ Dylan Travis cresceu sabendo que nada em sua vida era ordinário. Com um pai autoritário e exigente, uma família que coman...