Capítulo 11

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KATE



Segunda feira, 23 de julho. 05h47min.

Era o que brilhava na tela do celular. A luz que incidia em meu rosto era ínfima, o brilho quase não me permitia ver muita coisa. Meus olhos vidrados e sem um pingo de sono contemplavam pouco a pouco os minutos passarem. Devia estar olhando a mesma coisa a mais de meia hora, desde o momento em que desisti de tentar de enganar que estava dormindo e rolei sobre a cama.

Soltei o carregador do celular e peguei o aparelho nas mãos. Deitada de bruços esperava dar seis da manhã, mas não consegui. Eram coisas demais que borbulhavam na minha cabeça, o tratamento intensivo e agressivo da Natasha, minha preocupação com a minha mãe, eram as contas do hospital que cresciam e eu não tinha de onde tirar dinheiro, era minha inquietação por causa do trabalho, era o bendito americano.

Numa escala de prioridades, ele com certeza ocupava a última posição, mas para a minha grande desilusão, era o estranho sem nome que gerava uma confusão mental ao ponto de me deixar sem chão. Estar de volta naquela situação cheia de insinuações e provocações era esquisita. Como se experimentasse tudo pela primeira vez. O mais intrigante era que por mais que eu me fizesse de dura, as coisas fluíam num ritmo estranhamente natural.

E era esse pequeno detalhe que não me passava despercebido. Eu não namorava, não flertava, não fazia charme esperando que o cara me ligasse no dia seguinte com um convite para jantar. Aprendi a direcionar minhas expectativas e sentimentos para um único lugar, precisamente em uma única pessoa que não podia ver nada rosa que imediatamente me implorava para ter.

Depois de um par de decepções amorosas, comecei a fazer aquilo que não era comum para mim, até que provei e o sabor foi atrativo demais. Poderia ser o meu erro, e talvez fosse. Mas a sensação explosiva e incandescente tinha o poder de seduzir e transformar. Caí nas mãos daquilo que sem pressa, com leves sopros e indiretas me deixava inquieta.

E essa mesma voz ludibriosa não parava de indicar o americano como aquele a ser testado. Porque o proibido é mais gostoso, foi o que sempre ouvi. Mas até que ponto o proibido seria seguro? Até que ponto eu conseguiria saber limitar e diferenciar onde o desejo terminava e a afeição começava?

O melhor com certeza era manter distância. E ainda bem que nunca mais o veria. Tinha minhas dúvidas acerca de tudo o que o envolvia.

Perigo era o que estampava seu rosto.

O último relacionamento sério que tive foi com o doador de sêmen da minha bailarina. Recusava-me a chamá-lo de pai. Não. Ele nunca foi e jamais seria. Mais do que errado, era um pecado denominá-lo assim. Sua contribuição foi mínima, quase nula. Minha mãe era muito mais pai do que aquele imbecil que não soube ser homem. Coisa também que ele não era, não passava de um moleque sem responsabilidade alguma.

E desde o momento em que ele me largou naquela lanchonete na minha antiga cidade, enquanto eu chorava por segurar o exame de sangue nas mãos que confirmava minha gravidez, simplesmente desisti de sequer pensar em me relacionar sério com alguém. Suas palavras dizendo que aquilo era uma palhaçada e que o filho não era dele me destruíram.

Tola apaixonada eu fui, me deixei levar por palavras doces e mentirosas que souberam me enganar. Não mais, ninguém faria o mesmo outra vez.

O tempo passou e nenhuma das tentativas que tiveram comigo funcionou, apenas reforçou o que já pensava. Não que eu passasse a ter aversão ou rejeitasse completamente a ideia de ter alguém, não podia colocar todos os homens numa mesma categoria só por causa de um que foi um desgraçado, mas caso acontecesse, não seria tão fácil e nem rápido.

SEDUÇÃO FATAL [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora