Capítulo três

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Jordan na foto 



Paulo...

- O que foi isso que acabei de presenciar? – Sentei-me diante do meu amigo-irmão.

- Minha impaciência que cresce a cada dia mais.

- Eu poderia jurar que você é cria do Pierre e não do Lucca.

- Duvido que não tenha tido os mesmos pensamentos que eu. Agora, mantenha sua postura, após sair de uma puta fisioterapia, que no momento mais parece te destruir que te ajudar, e encontrar uma pessoa que só pensa em seu próprio umbigo, não se importando com a situação do outro, eu fico possesso mesmo. A mulher acusando, sugerindo, agredindo gratuitamente. Para mim, não passa de uma pessoa sem ética, sem educação, metida a besta. Eu quero morrer. A pobrezinha da Agnes estava a ponto de chorar.

- Eu só não sei como a Agnes sobreviveu até hoje, e não falo nesses dois dias como secretária não. É no mundo. Vê bondade em tudo e em todos.

- Porque tem a todos nós protegendo-a. Pensa em uma pessoa insegura, medrosa e indefesa. A quem terá saído?

- Me faço a mesma pergunta todos os dias, e o JP concorda plenamente. Na Itália a gente vive conversando sobre ela, e não se espante em saber que até mesmo seu pai e a Vanessa compartilham de nossa opinião. Claro que o amor que sentem por ela não deixa que ela desconfie nunca que é diferente de nós. E olha que cresceu entre nós.

- Mas chega a ser preocupante. Talvez agora com ela trabalhando, melhore. Essa é a ideia de meu pai. Que o trabalho traga mais sociabilidade à ela.

- A faculdade também vai abrir novos horizontes, e criar novas oportunidades.

- Evangelho segundo dona Vanessa. Minha mãe, ainda ousa a dizer que a culpa da filha ser tão retraia é nossa que afastamos todas as suas amizades e possibilidades de namoro. Quem sabe quando namorar não se abra um pouco mais.

- Então o juramento está quebrado? – Esse juramento nos acompanhava desde o batizado da Agnes e da Francesca. Não havia como ser esquecido. Ali, foi como se eu me tivesse tornado de fato mais irmão dos meninos.

- Não é bem assim. Estamos os dois aqui, não é? E com o JP na Itália a gente dá uma maneirada, sem ser liberal demais. – Ele riu. Isso significava que o bom e velho Jordan estava de volta. Falar sobre família geralmente acalmava qualquer um.

- Ainda mais agora que ela está deixando de ser moleca, deixou de ser gordinha.

- Verdade. Não tinha me atentado a isso. Será que já tem alguém na área? Sua tarefa será descobri isso. Se ela está namorando.

- Eu? Me acha mesmo com cara de babá?

- Não é por isso Paulo. É que...Ela conversa mais com você.

Retirei todo o ar do pulmão e inspirei novo ar diante da tarefa que me era confiada.

- Talvez no fim de semana eu a chame para um café e sonde sobre o assunto. É que talvez eu vá jantar fora no sábado.

- Já? Tinha ouvido a tia Suzana dizer que nada de namoro por enquanto.

- Não... Não é nada de namoro. É só uma menina que ajudei e advinha quem é?

- Nem ideia.

- A Sabrine.

- Piorou. Não faço ideia de quem seja.

- Irmã do seu amigo que eu entrevistei.

- Mesmo? A menina mal foi contratada e estamos nesse ponto?

- Eu a ajudei antes mesmo de que chegasse na empresa. Não sei se coincidência ou providencia divina. E agora, o pai quer me agradecer por ajuda-la. - O sorriso do Jordan desapareceu.

- O que foi Jordan? Parece que não gostou?

- Nada não. Impressão sua. Se ela te convidou, vai lá.

- Olha... Se você for a fim da mina pode dizer... – Ele me interrompeu.

- Não. Nem conheço a garota. Pensei que tivesse deixado claro.

- Bom... Vou embora! Vou ver se alcanço a Agnes, não nos falamos desde que cheguei.

Despedi-me dele e sai. Embora sua fisionomia ao saber do meu jantar, não saísse de minha mente. O Jordan não sabia esconder nada da gente, era muito simples e verdadeiro. Alguma coisa estava errada com a Sabrine e ele. Mas acho que teria que descobrir por ela, ele não me contaria.

A mesa da Agnes estava vazia, liguei para ela e segundo ela, já estava em casa almoçando. Que garota de dezoito anos vai em casa almoçar ao invés de ir ao shopping que fica muito mais perto, ainda mais que tem que ir de ônibus ou pedir ao motorista para leva-la?

Quase ao fim do expediente nos esbarramos no corredor. Como também estava de partida, ofereci carona.

- Já tinha visto o Jordan bravo do jeito que viu hoje? Comecei o assunto.

- Nunca. Mas, no fundo acho que ela mereceu. Estava um cão bravo. - Desculpe a palavra.

- Hoje está sendo tudo novo. Jordan bravo, você atribuindo adjetivos negativos à alguém.

- Já pedi desculpas.

- Não estou te repreendendo Agnes, só achei engraçado. E por falar em engraçado. Hoje a Sabrine me convidou para ir jantar na casa dela no sábado, só por que a livrei de uns rapazes que tentavam agredi-la no último fim de semana.

- Quem é Sabrine? – Eu havia apresentado a garota à ela quando entrou em minha sala ou era impressão minha?

- A menina que estava comigo hoje quando entrou em minha sala.

- E o que tem a ver um assunto com o outro?

- Eu iria te perguntar se faria o mesmo? Se ficaria tão grata a ponto de convidar alguém para jantar.

- Minha resposta é...

- Deixa. Você ainda é muito criança para ter uma opinião sobre isso. No mais, não tem experiência alguma, não é?

Ela se virou para o vidro do carro e colocou sua cabeça apoiada ali. Sem dizer outra palavra sequer.

- Esse jantar será a noite toda? – Disse de repente.

- É um jantar Agnes, não sei se será a noite toda. Somos adultos, por quê?

- Não. Nada.

- Agnes...

- Não é nada mesmo.

- Senti que queria dizer algo hoje mais cedo e agora isso? Está querendo me contar algum segredo? Está com algum problema?

– Sério, não é nada.

Deixei-a na casa dela, e fui para casa. Estava ainda exausto pela viagem. Foi um dia longo e difícil e por diversas vezes me peguei pensando em minha ex... Nem mesmo a imagem da Sabrine conseguia me afastar das imagens dolorosas que ocupavam minha mente e coração. Será que isso nunca mais teria fim meu Deus. Nunca mais?

Paulo - Amor e GratidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora