Bônus - Nina

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Nina

Quando cheguei, ele ainda estava dormindo. O Tio Lucca estava sentando, na poltrona ao lado e acordou com minha presença.

- Nina.

- Oi. Quer dormir um pouquinho eu vou ficar com ele.

- Não vai trabalhar hoje?

- Não.

Eu não consegui dormir bem à noite pensando em um jeito de matar quem tiver magoado meu amigo. Quando cheguei no restaurante ontem foi difícil acalmá-lo, ele estava muito revoltado dizendo que não devia ter sobrevivido... Que odiava vier preso àquela cadeira, e eu pensei: "Aquele não era o meu Jordan". O cara é bonito, tinha dinheiro, e muito mais mobilidade que teve quando criança.

- Então vou dormir um pouco, porque sei que ele está em boas mãos. - O Lucca se levantou e passou fechando a porta do quarto.

Peguei um livro e depois escolhi uma música no aparelho sobre a mesa. Deixei o volume bem baixinho. Deitei na cama e ajeitei os travesseiros... Olhei para ele e beijei seu rosto.

Foleei o livro, mas não achei nada de interessante. Embora eu soubesse que o problema estava comigo. E quando duas horas depois a cozinheira trouxe o café, eu ainda estava na mesma página.

- Desisto. – Deixei o livro sobre o criado, e me servi com o café que cheirava divinamente.

- Eu sabia que não leria duas páginas sequer. - Ele disse de olhos fechados e com a voz bem embaraçada.

- E como sabia? Acaso, está se fazendo de coitado, fingindo dormir para ver até onde eu iria?

- Não perderia a chance.

- Eu sei. Eu gosto de ler... – Sentei-me ao lado dele na cama.

- Gosta de ler romances... Acha que a vida é cor de rosa.

- Romance é leitura. Aliás, romance é vida!

- E você é uma boba que não sabe apreciar uma boa obra.

- Se fizer mais uma observação ridícula eu vou jogar esse livro no lixo.

- Esse livro foi presente de uma amiga. Não faria isso porque não te dei essa liberdade.

- Ninguém me dá liberdade, eu já a tenho. Abre os olhos e veja - Peguei o livro, desci da cama, e claro que lhe daria outro depois, mas estava tão chateada que comecei a rasgar as páginas e a jogá-las no lixo do quarto. - Veja, se não posso fazer.

Ele não disse nada. Ficou me olhando espantado.

- Acha que eu não tenho coragem? Tenho sim.

- Atrevida. Vai me dar outro. - E fechou os olhos novamente. Só então notei que as lágrimas correndo pelos cantos de seus olhos. Isso acabava comigo.

- Tudo bem bebê, não precisa chorar que eu dou outro livro. Já vou pedir olha só... - Peguei o celular e fingi mexer no aparelho.

Mas parei quando vi que ele continuava a chorar. Devia ter sido muito sério mesmo, o Jordan jamais choraria de tal forma diante de mim.

Tínhamos desenvolvido uma amizade rara. Ele me falava a verdade e estava disposto a ouvir o que eu tinha para dizer. Sabia dos meus segredos, como eu sabia de todas as mulheres e todos os namoricos que ele teve na adolescência.

- Estou furiosa com você. Eu te odeio muito.

- Entra na fila...

- Eu deveria ter prioridade. Sou a número um. E ninguém pode fazer nada com você. - Ele continuava a chorar, então parei de falar e fui até ele. Deitei na cama puxei as cobertas e deitei a cabeça em seu ombro.

Paulo - Amor e GratidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora