O Acordo

Jonatas Almonte

Mal estou de volta à cidade e já me deparo com um monte de coisas pra resolver, e ao que parece, tudo de uma vez só. Eu não sou uma pessoa que se assusta fácil, afinal trabalhar e resolver as merdas dos outros foi o que sempre fiz desde que me entendo por gente. Eu diria que tenho instinto protetor e sou muito cuidadoso com tudo que é meu e precisa da minha atenção, mas para algumas pessoas eu sou exatamente o que elas vêem. Intimidador, enigmático, indecifrável, predador e extremamente obcecado por controle ou a frieza e arrogância em pessoa e não faço questão de desconstruir nada do que eles pensam de mim, minha paciência não é eterna pra muita coisa principalmente quando se trata de gente escrota. Deixo as pessoas conhecerem de mim apenas o que acho necessário, a maldade delas às vezes pode ser devastadora, mas eu sou implacavelmente pior pra proteger o que é meu. Sou um homem de poucas palavras e detesto desperdiçá-las, apesar da minha fama entre os lobos com quem trabalho eu odeio gente mesquinha que maltratam e humilham umas as outras por isso odeio injustiça e sempre dou oportunidade pra quem realmente precisa assim como aconteceu comigo um dia. Construí um império com menos de 20 anos de idade e hoje aos 30, sou temido e respeitado no mundo dos negócios, tenho a melhor equipe trabalhando pra mim e no ramo da construção civil, minha empresa está entre as melhores e lidera o mercado até agora.

Acabo de sair do escritório do meu advogado, estou com uma dor de cabeça que consome meus nervos e a impaciência está deixando os mesmos a flor da pele. Meu humor está particularmente negro hoje. Meu motorista que acabara de me pegar no aeroporto me aguarda em frente ao escritório do meu advogado e me olha já decifrando minha imagem, ele abre a porta do meu Lincoln Continental preto.

- Pra onde vamos senhor?

- Me leve pra CAM, Alfredo.

- Problemas senhor?

- Muitos meu velho!

Alfredo é um senhor muito simpático na faixa de uns 60 anos mais ou menos, ele não é só meu motorista, também é um grande amigo e conselheiro, é alguém muito especial para mim e está há anos trabalhando comigo e o respeitamos como se fosse da família.

- O senhor é um homem esperto, com certeza irá resolvê-los. Apenas respire senhor. – Ele me fita através do espelho e sei que ele sorri porque seus olhos negros estão mais enrugados que o normal. – Acalme seu coração – ele completa.

- Assim espero Alfredo.

Chego ao prédio onde funciona a matriz da minha empresa, sofisticado e bem localizado ele foi eleito um dos mais bonitos da capital, é daqui que comando todas as filiais espalhadas pelo Brasil e em outros países. Sou recebido por olhares atentos e curiosos como sempre acontece quando chego ao trabalho, cumprimento todos os funcionários que encontro em resposta aos cumprimentos que recebo.

Entro no elevador e sigo para o ultimo andar onde fica a presidência e onde também funcionam outros departamentos que auxiliam a presidência. Ao chegar noto que apenas uma de minhas secretarias está em seu lugar, eu olho no relógio e vejo que Berta está um pouco atrasada. Ela é uma de minhas assistentes favoritas, gosto do trabalho dela e de sua competência, Berta sempre tem um remédio milagroso na bolsa que acaba com minhas dores de cabeça como num piscar de olhos.

- Construtora Almonte Marinho, presidência.

Vejo Alicia, uma de minhas secretarias ao telefone e espero ela terminar.

- Boa tarde?

- Boa tarde, Sr. Almonte. Como foi de viagem? – ela responde levantando rápido de sua mesa.