O noivo

82 5 0
                                    


Estava indo tudo bem até eu cair daquela escada, eu não percebi que um dos degraus estava quebrado e caí levando junto a prateleira de vidro e tudo que estava nela e mesmo sabendo que foi um acidente, estou me sentindo uma idiota. Bom, talvez eu seja uma idiota mais sou a idiota mais sortuda do mundo por estar aos cuidados de Jonatas Almonte Marinho, o homem mais lindo do mundo.

Preciso me controlar, tudo que menos preciso agora é ser uma dessas mulheres que vivem suspirando apaixonadas por ele. Não demorei muito a ser atendida, assim que cheguei ao hospital uma enfermeira de meia idade me encaminhou direto pra um consultório medico. Rapidez no atendimento médico aqui no Brasil? Não. Dinheiro mesmo. Você ficaria chocado se eu dissesse o que ele pode fazer.

A prova do que eu disse antes é que agora estávamos em um dos melhores hospitais particular da capital, eu estava sendo atendida por um médico de confiança do senhor Almonte, eu acho até que era o medico da família. Ele que fez questão de ostentar seu poder, ligou de dentro do seu luxuoso carro no meio do caminho para acertar tudo e eu como a bobona que sou, fiquei logo fantasiando e criando coisas que só existem na minha cabecinha de vento. Eu não posso sequer me apaixonar por alguém, não até resolver minha situação até por que só na minha cabeça que um homem como ele iria se apaixonar por mim quando na verdade o que ele pode querer é o mesmo que aquele velho tarado.

Tal constatação me fez ter calafrios, e é nesses momentos de lucidez e loucura que eu queria ser a mulher mais feia do mundo, ou então que o senhor Almonte não existisse só pra ter um pouco de paz, porque o que sinto ao vê-lo é que tudo pelo que vim lutar está a um passo de escorrer pelas minhas mãos feito água.

- Senhorita? – o medico chama.

- Sim?

- Está tudo bem? Sente mais alguma coisa?

- Ahh, não. Só estava um pouco distraída – respondo pra ele que me olha curioso.

- Sua distração deve ter sido bem grande porque fiz todo o procedimento sem anestesia e a senhorita mal se moveu na maca.

- O senhor nem imagina.

- Vou lhe receitar um medicamento muito eficaz. Logo não vai sentir mais nada, o corte foi profundo mais não atingiu nenhum nervo, seu namorado também fez um bom trabalho estancando o sangue e fazendo a assepsia do local.

- MEU O QUÊ?

- Ah, me desculpe, que cabeça a minha! O senhor Almonte disse que senhorita era sua noiva. Meus parabéns, você escolheu um homem muito bom como noivo.

Meu coração literalmente errou a batida quando o médico disse aquilo e mesmo que eu quisesse dizer alguma coisa, eu não consegui. O médico me acompanhou para fora da sala e que eu vejo? Meu "noivo" esperando impaciente com as mãos nos bolsos da calça e sua camisa branca estava parcialmente colorida com o vermelho do meu sangue.

- Então doutor? – meu "noivo" pergunta.

- Sua noiva está bem, recomendo que fique de repouso e tome cuidado para não machucar a mão novamente. O corte foi profundo, por sorte não atingiu nenhum nervo mais temos que ter cuidados com infecções.

- Obrigado doutor. Já posso levá-la pra casa? – o médico assentiu e foi o que ele fez mesmo eu dizendo que poderia ir de taxi. Como eu não tive escolha, fui guiando Alfredo até que acertasse a casa da Dinah, ele permaneceu calado enquanto eu instruía o seu motorista. Quando chegamos, ele desceu do carro e estendeu a mão para mim como um perfeito cavalheiro.

- Tem certeza de que vai ficar bem?

- Sim, e... Obrigado por sua atenção, não se preocupe com o concerto da estante eu irei pagar tudo. Ahh e um casaco novo também, esse está sujo de sangue acho que o senhor não vai mais querer usá-lo depois dessa noite.

- É só um casaco senhorita, não se preocupe com nada. Amanhã mesmo mandarei retirar aquela estante da minha sala e a senhorita nem pense em aparecer por lá enquanto estiver com a mão assim.

- Vai mandar tirar a estante da sala? – pergunto incrédula.

- Sim, não quero olhar pra ela e me lembrar do que aconteceu com você. Não quero ter a lembrança da senhorita ajoelhada com as mãos cheias de sangue por causa dela e daquela escada estúpida.

- Tem algum problema em ver pessoas  joelhadas? O senhor também ficou incomodado hoje cedo quando chegou e eu me assustei caindo na sua frente que nem uma tonta. Nossa! Nem sei qual das duas situações foi a mais constrangedora.

Ele desconversou dizendo que as fobias dele não eram importantes e que eu deveria me cuidar pra ficar boa logo. Depois ele fez questão de estragar o momento fofura como um perfeito idiota.

- Você mora em uma boate? Não é nada cinco estralas mais ainda sim, é uma.

- Sim, senhor. Infelizmente nem todo mundo mora em uma casa luxuosa como a do senhor, mais eu o desculpo pelo dinheiro tê-lo feito esquecer que o mundo é injusto e que existem pessoas pobres como eu vivendo nele. – ele me encara e recua um passo para trás.

- Me desculpe. Foi um comentário infeliz. Não quis ofendê-la, eu sinto muito.

- O senhor não me ofendeu, acredite. Tem gente em situação bem pior. Se não fosse minha prima eu não teria onde ficar e se não fosse Berta, onde trabalhar. Esse ponto comercial é da minha prima Dinah, o bar também. Moramos no andar de cima e dividimos o AP com Berta e mais um amigo, o Nando.

- Mais uma vez peço que me desculpe. Eu não sabia.

- Relaxa. A grama do visinho sempre parece mais verde quando vista de longe. Bom... É melhor eu entrar, o pessoal vai surtar quando me virem assim. Vai ser uma noite longa! – eu brinco.

- Quer que eu fale com eles?

- Não precisa, já está tarde e acho melhor o senhor ir. Acredito que com essa correria toda, sua dor de cabeça só deve ter piorado e o senhor precisa descansar também.

- Tem razão, já está bem tarde mesmo. É melhor eu ir, tire o resto da semana de folga e ligue se precisar. Boa noite senhorita Alvarez.

- Boa noite, senhor Almonte.

Despeço-me dele e do motorista e eles aguardam até que eu entrasse em segurança para poder partir. Eu entrei me preparando mentalmente para ser bombardeada de perguntas.

- OH MEU DEUS! O que aconteceu? Você foi atacada? – Dinah fala me vendo entrar.

- Jesus! Nath? Eu deixei você inteira no escritório.

- Foi seu chefe que fez isso com você? – Nando pergunta.

- Ei, ei... Calma gente. Eu explico tudo se vocês deixarem, mas só depois que eu tomar um banho e comer alguma coisa. Ok? Estou cansada e precisando urgente de roupas limpas....

Eles começaram a falar todos juntos perguntando um monte de coisas de uma vez, eu sabia que eles estavam preocupados, mais aquela euforia estava me deixando louca e a noite pra eles encherem meus ouvidos com perguntas estava só começando.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora