Chorando as pitangas

52 4 0
                                    

Em casa, trancada no quarto, eu estava com a cabeça dando voltas e mais voltas sobre os últimos acontecimentos até que cheguei a conclusão de que não poderia estar sendo mais castigada. Já era a quarta vez que Dinah batia na porta me pedindo pra entrar, depois de um tempo eu suspirei cansada e então abri.

- Eu já ia colocar essa porta a baixo se você não abrisse! – Dinah diz ao passar pela porta.

- Eu só queria ficar sozinha Dinah.

- Nós te demos tempo de sobra pra ficar sozinha desde que chegamos, mas você se trancou aqui e não deu mais sinal de vida, estamos preocupados com você, Nath! Eu já passei por isso e entendo sua dor, mas é pior quando não colocamos a raiva pra fora ou quando não temos com quem desabafar e você tem as duas opções prima. Chega de carregar tantos fardos sozinha!

- Por que Dinah...? – eu desabo em seus braços e mais uma vez começo a chorar.

- Xii, eu estou aqui e não vou deixar ninguém te machucar Nath, estou com tanta raiva que até me sinto mal por ter de certa forma te incentivado a ficar com ele. – ela diz enquanto me abraça passando as mãos por meus cabelos.

- Você não tem culpa Dinah, um homem como Jonatas nunca se interessaria por uma garota boba como eu, ele só estava me usando. A culpa foi minha por me deixar levar e...

- E...?

- Estou apaixonada por ele Dinah. – eu digo e Dinah deita minha cabeça em seu colo e ouvimos Nando e Berta bater na porta como quem espera autorização pra entrar, Dinah assentiu e eles se juntaram a nós.

- Ai amiga, me parte o coração te ver assim! – Berta diz.

- É, parece que hoje todo mundo teve um motivo pra se desapontar com as pessoas que a gente ama – Nando diz meio triste.

- Até vocês? – eu pergunto sentando na cama secando as lagrimas.

- Pois é... – Nando responde.

- Quer compartilhar? Parece que hoje todo mundo está precisando de um ombro amigo. – Dinah fala.

- Digamos que meu amor não é correspondido. Bom, pelo menos não do jeito que eu queria! – ele diz.

- Como não? Sabemos que você e o Lipe trocaram mais que uns beijos na casa dos Almonte. – Dinah fala.

- Desculpe Nando! Eu vi vocês dois e acabei contando para as meninas, mas não foi por uma fofoca, eu juro! – eu digo secando as lagrimas.

- Tudo bem Nath, eu quis contar pra vocês, mas eu não podia.

- Por que não? – Berta pergunta.

- Porque não sou uma mulher Berta. Lipe não quer manchar a imagem dele, mas eu o entendo porque não foi fácil pra eu me descobrir, me aceitar e ainda assumir pra minha ''família'', e o pior é que eu fiz isso muito cedo e senão fosse a Dinah eu sinceramente não sei o que teria sido de mim. Não é fácil pra o Lipe ter que lidar com os meus sentimentos por ele e eu compreendo, ainda mais pra um cara como ele de repente se descobrir gay, principalmente com a fama de pegador que ele tem. Apesar de eu ser homem os meus sentimentos são tão ou mais frágeis que os de uma mulher e o problema é que gays como eu sempre se apaixonam por caras como o Lipe, que gostam de transar com gays, sentem desejo, atração, mas nunca vão admitir que também são gays porque vivem pegando mulher, sabe? Infelizmente namorar bissexuais é como andar em um campo minado, uma hora ou outra você vai pisar em bomba e torcer pra ela está desativada, ai de repente ela explode bem na sua cara e quando você olhar,  o que vai ver a cara de uma mulher e ela vai olhar pra você e se sentir tão magoada quanto você. Lipe é um cara ótimo, eu é que não vou estar a altura dele pelo simples fato de ser homem também. – Nando diz e começa a chorar.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora