Capítulo 15 (Jonatas)

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Não tem nada melhor do que poder ir para casa quando a noite cai ainda mais se tiver ali um lugar onde um homem que tem tantas responsabilidades possa relaxar e ficar em paz, ter o seu momento de prazer e não estou me referindo a nada que envolva sexo. Às vezes o silencio que ecoa na minha ''fortaleza da solidão'', meus livros, meus vinhos favoritos e as musicas que gosto de ouvir e que todo mundo acha chata, são minhas doses diárias de calmante e é exatamente onde estou agora, na biblioteca escritório da minha casa. Este é um lugar que mandei construir especialmente para minhas necessidades emocionais.

Algumas pessoas diriam que prefeririam estar na companhia dos familiares, ou jogando conversa fora com os amigos em um bar ou assistindo algum jogo de futebol ou até mesmo na companhia quente de uma mulher, dos filhos...

Ok! Isso é verdade, eu concordo. Eu estou sempre com as pessoas que amo, eu não tenho muitos amigos, não tenho esposa e filhos e vez ou outra saio para fazer coisas que um cara solteiro da minha idade e com a minha posição faz. Mas, eu me refiro aquele momento que você precisa dele mais do que qualquer outro, aquele momento que você vai de Pink e floyd a Hozier, aquele momento em que você está gritando e ninguém escuta aquele que você está lutando contra seus demônios e sente que ainda não os venceu. Aquele momento que é só seu. É só você e Deus.

Estou fazendo isso agora, não fazendo o que disse anteriormente sobre lutas internas, estou apenas relaxando sentando em minha confortável poltrona de couro macio. Eu estava tomando uma taça de vinho em frente a minha lareira, ouvindo WISH YOU WERE HERE  do PINK FLOYD, enquanto fazia um balanço dos acontecimentos de hoje e eu até tentei me concentrar no meu próximo passo, mas falhei miseravelmente porque o único pensamento que se instalou ali foi a lembrança dela, da minha assistente atrevida e linda. Eu não parava de pensar nela e batidas de uma musica sensual que começou a tocar não estava ajudando muito a mudar o foco. Eu não parava de pensar em seu jeitinho simples e ao mesmo tempo na sua forma firme e decidida. Eu precisava me livrar daqueles pensamentos imediatamente e nada melhor que uma boa leitura para isso.

Minha relação com livros é antiga e um pouco triste, eu adoro ler, acho até que já li quase todo meu acervo. Meu espaço é o que se pode chamar de refugio para mentes brilhantes, adotei esse pensamento e vários outros depois que li '' Como me tornei estúpido'' do Martin Page. Algumas pessoas realmente nunca vão se encaixar em muitos padrões. Quem são elas? As muito inteligentes.

Eu tinha duas estantes enormes em formato de L, tinha também quatro prateleiras com muitas miniaturas, poderiam até serem vistas como brinquedo, mas historicamente, não para mim. Nas prateleiras tinha um globo terrestre, umas ampulhetas, algumas caravelas e modelos novos de navios, carros, balões, aviões armas antigas como revolveres e espadas. Agora vem a parte que mais gosto, explicar. Temos um mundo representado pelo globo e precisávamos saber de outras existências e nos conectar, precisávamos expandir e o principal meio de aproximação entre os povos estava representado pela ferrovia, pela navegação e a aviação, os carros eram e são o meio mais pratico de locomoção até hoje. A ampulheta lembra que há um tempo para todas as coisas e as armas lembram o quanto tivemos que lutar e o quanto o homem pode ser cruel e destrutivo.

Eu tinha objetos antigos como, por exemplo, uma caneta tinteiro e um relógio caixa alta que eu adorava e uma mesa e duas poltronas de couro feitas no século XIX que ficavam em frente a uma lareira, quadros de pintores famosos e alguns em forma de fotografias em preto e branco e uma pequena adega de vinhos, só para meu consumo quando estava ali. Não, eu não sou um idiota que vive preso ao passado, também tinha ali o que havia de mais moderno, TV, computador e um sistema de som totalmente digital onde eu podia comandar tudo apenas com toque na tela do radio em forma de TABLET que mais parecia o monitor de um computador. Tinha também um pequeno jogo de sofá onde eu podia assistir aos meus programas ou mesmo tirar um cochilo de tão confortável. Exagero? Não para quem entende o que estou falando.

Sou fascinado por histórias sejam elas verdadeiras ou só ficção, gosto do meu cantinho embora minha irmã e meu primo digam que esse lugar cheira a mofo e que é exatamente o que um depressivo precisa para se matar aos poucos, eu não ligo porque é aqui que posso lutar contra meus demônios, gritar quando não suporto mais ou só, respirar.

Estava de olhos fechados quase pegando no sono quando de repente algo pesado se joga em meu colo.

- Dormindo?

Um par de olhos claros me fitava parecendo uma criança que estava prestes a fazer travessuras. Minha irmã Marta.

- Você não tem jeito não é, danadinha? O que está aprontando gora? Deve ser grave, você quase nunca vem aqui e ainda diz que minha sala cheira a mofo – eu rio pra ela tocando ponta do seu nariz com o dedo.

- Seu bobo. Sabe que digo isso pra te irritar, esse lugar é legal, mas cheira a mofo sim, acho que é esse monte de livro velho que você tem aqui.

- Esses livros velhos valem uma fortuna pra você que não sabe. Ta?

- Você é meio esquisito sabia?

- Anda logo? O que a senhorita quer?

- Nada. Só vim avisar que minha festa está próxima mais já que perguntou... – depois de uma pequena pausa dramática ela faz um bico – Eu ainda não escolhi o tema da festa. Pode me ajudar?

- Quê? Nem pensar, eu sou péssimo pra essas coisas, por que não pede ajuda a tia Vero ou a Gustavo? Melhor, por que não contrata alguém?

- Não mesmo! Se deixar tudo por conta dos outros irá perder minha essência e originalidade. Quero que tudo tenha meu toque e que seja perfeito.

- NOSSA! E o que quer de mim então?

- Que você arrume uma acompanhe decente pra ir a minha festa.

- É sério isso? – digo levantando e tirando ela com cuidado do meu colo.

- Bom, a parte de você me ajudar é mentira. Deus me livre! Mais a parte de você encontrar alguém é totalmente verdadeira. Não gosto de ver você tão solitário e você precisa de alguém que movimente sua vida e que a mude para melhor, que lhe complete. Não gosto dessas oferecidas trabalhadas na grife te secando feito um bando de urubus e você também não ajuda, vivi enfiado na cama delas. Das suas ''amigas''. – ela diz as ultimas palavras de forma sarcástica e um pouco brava.

Eu rio ainda mais e a abraço depositando um beijo casto no alto de sua cabeça.

- Martinha, eu entendo a preocupação de vocês mais estou bem e quando chegar o momento certo Deus há de colocar a mulher certa na minha vida.

- É... Mais se você não sair desse casulo não se livrar dos abutres com quem você transa, essa mulher não vai aparecer e se aparecer com certeza será uma santa e não vai querer saber de você.

- Onde é que já se viu falar com seu irmão desse jeito?! Agora já chega mocinha, hora de ir pra cama.

- Eu vou, mas não porque você acha que manda e sim porque estou com sono e não sou mais uma criança. Não esqueça que além da minha formatura da escola também é meu aniversario de 18 anos.

- Pra mim você será sempre uma pirralha encrenqueira e mal criada que eu amo muito. – digo em tom de sarcasmo e ela revira os olhos em um ato de protesto.

- John, acabei de ter uma idéia e sabe qual será minha próxima missão? Vou fazer a mulher certa cair nos seus braços. Boa noite, maninho. – ela sai rindo.

- Agora sim, estou com medo.

- Vai dormir John! – ela fala alto de costas enquanto abre e fecha a porta da sala.

Depois que ela me deixou eu fiquei pensando e minha irmã, minha tia e até Gustavo tem razão mais nem uma mulher balançou meu coração até hoje exceto, a minha nova assistente. Meu telefone toca em cima da mesa, eu decido não atender porque hoje eu não queria a companhia das minhas ''amigas''. Preferi curtir meu triunfo de hoje sozinho, eu balancei as estruturas de muita gente hoje mais o inimigo ainda não se revelou e todos continuam suspeitos.


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