O Acordo

A ajuda

Eu olhava ao longe através das vidraças da minha sala enquanto assimilava o que Natalie acabara de me dizer. Ela foi a única dentre todos os meus funcionários que teve a coragem de me dizer, ou melhor, me alertar sobre algo que eu mesmo já havia descoberto e ela fez isso mesmo com medo e correndo os riscos que os outros não tiveram coragem de enfrentar e ainda sim, ela o fez. Contei pra ela boa parte do que estava acontecendo mais omiti a parte principal, ela não precisava saber todos os detalhes do que eu estava fazendo. Eu estava lidando com gente perigosa que merecia mais do que eu pretendia fazer com elas.

Meus homens estavam empenhados na investigação mais rapidamente intuí que ela poderia me ajudar sem levantar suspeitas dentro da empresa do que estava acontecendo. A questão era: poderia eu arriscar tudo e confiar nela? Justo eu que não confio em ninguém?

- Natalie, eu posso confiar em você?

- Acho que já provei que sim, mas você sabe que com certeza tem alguém aqui dentro vigiando seus passos para se certificar de que você não descobriu nada e passar as informações para manter os outros em alerta total. Se outras pessoas sabiam e não denunciaram é porque temeram represálias e eu me arrisquei muito. Isso parece uma teia de armadilhas, uma rede de intrigas, e o senhor tem muitos inimigos querendo seu posto e seu prestigio e eu... Temo que eles possam fazer algo com o senhor além de só prejudicá-lo financeiramente. Eu sou prova viva do que as pessoas podem fazer umas com as outras por causa de dinheiro e despeito. – ela fala nervosa.

- Calma – digo tocando suas mãos e depois o seu rosto – Vai ficar tudo bem, eu sei me cuidar e não deixarei eles se safarem dessa. Você não tem que se preocupar com nada, já me ajudou muito – falo com carinho vendo que sua preocupação comigo era verdadeira – Ninguém sabe que é você que está cuidando dos balanços financeiros da empresa e eu sei que pode ter alguém me vigiando, é por isso que estou tomando cuidado e o meu pessoal está 24 horas em alerta.

- Isso parece um pesadelo. – ela diz pondo o rosto entre as mãos e eu levanto seu queixo fazendo-a olhar para mim.

- Você não precisa ter medo, Natalie. Eu estou aqui e não deixarei nada acontecer e isso eu prometo a você – ficamos nos olhando de forma carinhosa, preocupada e intensa por alguns instantes até ela quebrar nosso contato.

- Preciso tomar um pouco de água – ela diz fazendo menção de levantar mais eu a impeço.

- Vou pegar pra você – me levanto da cadeira a sua frente e vou pegar a água que está em uma bandeja ao lado da minha mesa pra ela tomar.

- Obrigado – ela agradece toma um gole e depois continua – Quando descobriu que estava sendo roubado?

- Tem um ano mais ou menos que descobri e desde então estou no encalço dessa corja. Pedi ao meu pessoal que vasculhassem tudo, eu queria principalmente nomes. Meu advogado sugeriu que levantássemos provas consistentes e concretas do que descobrimos para só então acionarmos a policia e entrarmos com um processo na justiça. A segunda parte desse quebra-cabeça foi a que você descobriu e graças a isso agora temos como provar os desvios que foram feitos.

- Eu não entendo como apesar dessas infrações nunca aconteceram nada nas obras do tipo acidentes ou algo parecido.

- Nesse quesito eles não pecaram porque sabem que só trabalho com muita segurança e com o que há de melhor, e se alguma coisa saísse errada chamaria logo a atenção e eu cairia matando em cima deles e para eles não seria interessante que isso acontecesse. Como são os engenheiros que estão à frente das obras, são eles os responsáveis por tudo, por isso eles faziam parecer que precisavam de bem mais porque é comum que imprevistos aconteçam nessas obras sejam elas grandes ou não, e muita das vezes é necessário até contratar mão-de-obra terceirizada pra dar adiantamento na obra. Eu trabalhei a minha vida toda no ramo da construção civil e se tem uma coisa que aprendi é que nesse ramo a coisa mais fácil que tem é criar oportunidades e burlar normas.