Noite das meninas

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A divulgação da tal balada cultural estava deixando as coisas no Quarta Harmonia bem agitadas. Berta e eu havíamos saído mais cedo do trabalho, foi a oportunidade perfeita para ensaiar com Carlos e Alexandre, dois amigos de Nando que também são bailarino. Já que eles meteram na cabeça que eu tinha que dançar que a única coisa que eu podia fazer era me empenhar pra dar certo.

Meu estado de espírito estava bem elevado, meus amigos tem se mostrado muito leais e prestativos para comigo. Mais uma prova que tive disso foi o que Bob fez por mim, ele havia cancelado duas propostas bem melhores para atender ao meu pedido de tocar na festa de Marta, mais uma amiga que acabei ganhando de forma inusitada.

Marta sempre que podia passava na empresa para me visitar, até Gustavo mesmo com esse jeito meio cafajeste acabou se tornando um bom amigo desde que comecei a trabalhar para a família Almonte e por conta da aproximação com Marta e Gustavo, acabei convidando os dois para conhecerem o nosso bar. Eles ficaram bastante animados e prometeram que viriam, Marta se apressou logo em dizer que passaria antes por lá, pois sabia que não ia agüentar esperar e assim aproveitaria para conhecer meus amigos.

Após encerrar uma tarde longa e exaustiva de ensaios, finalmente estávamos jantando, apenas Berta, Dinah e eu. Nando tinha prova do cursinho e não pode nos fazer companhia dessa vez. Era nossa folga então decidimos fazer brigadeiro de panela e comermos no meu quarto, noite do pijama sabe? E a meta era se entupir de porcarias porque quando Nando estava em casa não deixava a gente fazer isso. Ele toca o terror sem dó nem piedade dizendo coisas do tipo: quebrar a balança, ficar solteirona e morar em uma casa velha com sete gatos pra criar... Essas são as coisas mais leves que ele diz, não vou nem mencionar o resto.

- Então a senhorita vai à festa acompanhada nada mais nada menos que com o poderoso chefão e só agora conta pra gente? – Dinah e Berta me cruzam os braços e me lançam um olhar questionador, porém divertido.

- Eu ia contar. Só estava esperando o momento certo. Gente, eu estou indo pra festa da irmã do chefe, como acompanhante do chefe! Podem imaginar como está minha cabeça? Eu tenho que me preparar psicologicamente pra isso e sinceramente, não sei se vou conseguir. É muita responsabilidade. Vai ser uma falação só naquela empresa, escutem o que eu digo.

- Escuta aqui, Nath. Não faz a louca não, se você desperdiçar uma oportunidade dessas, eu dou na sua cara! – Dinah ameaça – Mas me diz? Seu chefe é tudo aquilo que dizem?

Eu olhei para intrigada para Berta que limpava o chocolate dos cantos da boca para depois se defender.

- Não olhe pra mim. Tudo que ela descobriu foi bisbilhotando na internet.

- Sim Dinah! É tudo aquilo e muito mais... É o homem mais lindo que já vi na vida! – digo me jogando na cama e dou um sorriso bobo quando Berta me acerta com o travesseiro.

- Sua boba. É melhor se controlar, eu já ouvi dizer que a mulherada se joga aos pés dele. – Berta comenta.

- Se elas fazem isso só pode ser porque ele tem aquela pegada. O problema é que ninguém o vê com mulheres. Será que ele é tipo Nando? – Dinah fala e nós três nos olhamos – NÃOOO! – Dizemos juntas

- Ele deve ser tipo garanhão da madrugada, sabe? Daqueles que preferem as surdinas e deve transar que é uma beleza. Tipo Christian Grey só que sem o chicote.

- Meu Deus Dinah! Controle-se ou vou ter que exorcizar esse demônio do sexo que vive na sua mente. Assim você vai acabar deixando a Nath assustada.

- Meu bem?! Todo mundo transa, sabia? É uma delicia e faz bem pra vida. Devia experimentar. – Dinah provoca.

- Controle esses hormônios Dinah! Nath, você pode colocar um pouco de juízo na cabeça da sua prima?

- Nem vem Berta, Nath é virgem mais não é santa, ela vivi lendo livro erótico que eu sei.

- Dinah, eu gosto de boas histórias e não tenho culpa se os eróticos tem algumas das melhores.

- Uii! Parece que alguém vai escrever a própria história logo, logo. – Dinah afirma. – Seria hum...? 50 tons?

- Olha, se ele for tudo que dizem, eu até deixo ele me dar unas palmadas.

- Nath? Você está se bandeando pro lado da Dinah e eu aqui achando que você ia salvar a pátria.

- Desculpe Berta, mas Dinah tem razão. Aquele homem é de parar o transito, sem contar que aquele par de olhos intensamente verdes, faz qualquer coração errar a batida. A senhorita Sophia, e as mulheres que trabalham com a gente, que o digam.

- Não!! Eu estou diante de um caso perdido. Dinah já contaminou você com a perversão dela – Berta e eu caímos na risada.

- Ei? Eu não sou pervertida. Só sou sexualmente ativa, e não venha com esse dialogo moralmente puritano, noviça. Acha mesmo que não sei que a senhorita adora ler os livros da Nath? E eu não estou falando de Jane Austin, Nicholas Sparks, John Green, Jojo Moyes... Ou dos seus livros de reza e a senhora em um gesto de pura maldade não falou pra suas melhores amigas curiosas o que foi que rolou quando você e o Marcos ficaram presos na despensa do bar?

Na mosca! Dinah pegou Berta de jeito, a coitada corou na mesma hora pondo o rosto entre as mãos e nós sabíamos que ela tinha aprontado. O que ela não sabia era que Dinah e eu trancamos os dois de propósito pra dar uma ajudinha. E nem vai saber, nunca. Sacanagem? Sim, mais valeu à pena e eu faria de novo sem remorso algum.

-Agentesebeijou – Berta fala tudo de uma vez.

- O quê? – Dinah pergunta sem entender nada.

- A GENTE SE BEIJOU!

- Oh meu Deus!! – Dinah e eu falamos juntas.

- Aleluia, finalmente. – eu digo piscando o olho pra Dinah que logo entendeu o gesto e bom... Berta não precisava saber que Dinah e eu trancamos os dois de propósito.

- Tá, vendo, Nath? Seus livros não são santos mais também fazem milagres.

- Não blasfema Dinah! – Berta repreende a amiga e nós rimos juntas. 

Demoramos mais um pouco jogando conversa fora e depois fazendo guerra de travesseiro e dançando ao som de Man! Feel like woman da Shania Twain, depois cada uma tomou o rumo de seus quartos. Eu fiquei pensativa, sentia falta da minha família e imaginava como estaria a situação deles, também pensava no quão bom era dividir esses momentos com minhas amigas, de como essas experiências estavam sendo de grande importância para mim e que eu não podia fazer nada além de suspirar derrotada por causa da circunstância que a vida me impôs. Eu pensava e repensava, e no fim, era com a lembrança do senhor Almonte carinhosamente apelidado de Mr. Freeze pelo primo Gustavo, que eu ia dormir.


O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora