Nove

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    Liguei pra ela pela primeira vez desde que tinha chegado.

- Alô, Tati?
-...
- Tati?
- Oi
- Tá tudo bem?
(pergunta medíocre)
- Claro que não tá tudo bem né Ricardo... depois de tudo que aconteceu, como eh que vai estar tudo bem?
- Tati, eu queria falar com você pessoalmente, não assim por telefone, pode ser? Por favor, me desculpa por tudo, diz que aceita se encontrar comigo.
- Tudo bem, eu também preciso te dizer algumas coisas.
- Posso passar aí na sua casa então?
- Não, faz o seguinte... me encontra as 17h na praça aqui perto de casa.
- Tá ok, até lá então.


Tati estava muito seca no telefone. Devia estar muito chateada ainda. O fato dela não querer que eu fosse a casa dela talvez fosse por isso. Preferi não pensar muito nessas coisas, me arrumei e fui em direção a tal praça.

    Às 17h aquela praça era um lugar tranquilo, sempre tinha crianças pequenas brincando juntas, com as mães um pouco longe observando. Procurei a Tati, mas não consegui ver no começo, até que a avistei num banco escondido na sombra de uma árvore. Era um lugar bem calmo, ia dar mesmo pra gente conversar ali. Fui caminhando em direção a ela e não sei porque meu coração começou a disparar. Eu sabia que não sentia nada por ela. Mas não me agradava a sensação do que eu ia fazer com ela, por ela sempre foi muito boa comigo, a Tati é uma menina super gente fina.


    Sentei do lado dela. Ela não olhou pra mim e nem fez nada. Apenas continuou calada olhando pra frente. Depois de algum tempo calado resolvi falar alguma coisa pra quebrar aquele clima.

- Tati, eu... (ela não me deixou terminar, me interrompeu assim que eu comecei)
- Sabe... eu adoro esse lugar. Sempre que eu preciso pensar em alguma coisa eu venho pra cá. Fico aqui escondida nesse canto, pensando no que fazer da vida... Desde que voltei dessa viagem eu não quis ligar pra você, esperei você me ligar. Eu vim pra cá esses dias, e fiquei pensando em muita coisa...
- Tati, eu sei que eu vacilei com você, eu só quero que você saiba que eu não queria fazer pouco caso de você, me desculpa pelo que rolou lá no carnaval.
- O problema não é o que aconteceu no carnaval... (nessa hora ela começou a chorar e eu fiquei sem entender mais nada)
- Qual que é o problema então?
- Desde quando a gente começou a namorar, eu sempre soube que você não gostava de mim, mas ainda assim eu quis tentar. Sei lá, pensava que talvez uma hora você ia perceber o quanto eu gostava de você e ia se tocar que a gente tinha tudo a ver... Mas isso nunca aconteceu você nunca se tocou...
- Não é assim Tati...
- Ricardo... Eu não sou criança. Eu sempre percebi tudo que estava acontecendo a minha volta.
- Tudo o que?
- Ricardo deixa de bancar o idiota, eu sei que você sabe do que eu estou falando.
- Eu juro que não sei, explica aí por favor, pra ver se eu consigo entender.
- Nesse tempo que a gente esteve junto, quase não tivemos um tempo só pra nós. Todas as vezes que a gente saia, sua prima e o Luciano sempre tinha que estar junto. Até a forma como você me tratava mudava quando eles não estavam.
- Como é?
- Ai meu Deus, Ricardo, não faz de conta que não tá me entendendo, porque você tá sim. Você me tratava super bem quando eles estavam conosco, e quando a gente saia só, não fazia a mínima questão de me dar um abraço, de me dar um beijo. Eu tinha que ficar o tempo todo em cima de você, me humilhando, mendigando sua atenção.



Nessa hora senti minha boca seca e um gosto amargo me descendo pela garganta, algo me dizia que a direção que aquela conversa ia tomar não era nada do que eu esperava.

- Você pensa que eu nunca percebi o quanto você era diferente quando agente estava com eles dois? E os olhares? Pensa que eu nunca percebi a forma como você olhava quando o Luciano e sua prima se beijavam? Você acha q eu sou cega?
- Tati onde é que você tá querendo chegar?
- Para Ricardo, por favor, para! Você sabe onde eu quero chegar. você sabe onde você queria chegar também, não sei porque você perde esse tempo todo com esse teatro.


Ela sabia. Porra, aquilo que eu tentei esconder de todo mundo e até de mim mesmo, minha paixão pelo Luciano, a Tati sabia. E pelo jeito que ela estava falando, parece que ela estava se preparando pra chutar o balde. Comecei a suar frio, meu coração disparou. Se a Tati falasse alguma coisa pra Carla ou pro Lu a respeito disso eu não sabia o que eu ia fazer.

- Ricardo... Se você ama a sua prima, porque se sujeitar a isso? Porque me sujeitar a isso tudo? É isso que eu não consigo entender! 

One last timeOnde histórias criam vida. Descubra agora