Vinte e seis

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Tudo de novo.

Dor.

Mãos amarradas.

Tubo saindo pela boca.

Fios pelo peito.

Monitores apitando.

Mas dessa vez eu estava escolado. Outra mulher de branco, essa mais jovem, veio na minha direção. Dessa vez eu não fiquei tentando tirar aquele tubo da minha boca. A mulher disse:

- Calma Ricardo, você está no hospital, você sofreu um acidente, mas vai ficar tudo bem. Você tá sentindo dor?

Balancei a cabeça afirmando que sim. Dessa vez eu estava calmo. Dessa vez eu não queria que me apagassem de novo. Queria ficar acordado, eu queria ver a minha mãe. Pensava muito nela, em como ela devia estar preocupada. Pensava no Luciano também. Como será que ele estava? Será que ele sabia do meu acidente. Quanto tempo será que tinha se passado desde o acidente?

Olhei para baixo. Minha perna esquerda doía muito. Tinha uns ferros saindo da minha coxa. Aqueles ferros não estavam ali antes, quando eu acordei da primeira vez. Comecei a me assustar. E se eu dormisse de novo e quando acordasse de novo acordasse sem uma perna ou sem um braço??

O médico jovem apareceu de novo. Fiquei com medo dele. Tinha medo que ele me desse outro remédio pra dormir. Não queria mais dormir, queria sair dali. Ele ficou de pé do lado da minha cama, e começou a conversar comigo.

Enquanto ele falava comigo a mulher de branco me aplicava outro remédio. Mas dessa vez eu não dormi. Senti como se me corpo tivesse ficando anestesiado e aos poucos aquela dor foi diminuindo.

- Ricardo, meu nome é Douglas, você sofreu um acidente e foi trazido pra o hospital. Você sofreu uma fratura de fêmur e perdeu muito sangue por conta da fratura, chegou aqui em estado grave. Você está aqui há três dias, sua perna já foi operada e logo, logo a gente vai estar tirando esse tubo aí de você, ainda hoje.

Três dias??? Putz! Três dias... e eu me perguntando quantas horas se passaram desde o acidente, já estava ali naquela cama amarrado e com um diabo de tubo saindo pela minha boca há 3 dias...

Mesmo assim, comecei a ficar mais tranquilo. Dr Douglas foi muito atencioso comigo, mesmo sem q eu pudesse responder ao q ele dizia, ele foi me explicando tudo o que havia acontecido e o que seria feito dali pra frente. Ele me disse que eu estava numa unidade semi-intensiva e que por isso não podia ficar ninguém da minha família ali comigo, mas que a tarde eu receberia visitas. me disse também que em breve estaria retirando aquele tubo da minha boca e que eu ainda iria ficar em observação ali hoje, mas que depois eu seria mandado pra uma enfermaria, onde ia poder ficar um acompanhante comigo até eu receber alta.

Logo depois disso ele puxou um tubo grande que ficava conectado ao tubo que saia da minha boca, me deixando respirar espontaneamente, me separando daquela máquina. Mais tarde nesse mesmo dia ele voltou com uma bandeja e um pouco d'água. Levantaram a cama, me deixando meio sentado. Dr. Douglas me disse que ia tirar o tubo, mas que eu não engolisse a saliva que estava na boca. Antes de tirar o tubo uma enfermeira veio e começou a aspirar toda a secreção que eu tinha na boca. Então Douglas tirou o tubo,colocou um pouco da água na minha boca e pediu pra eu cuspir na bandeja.

Vocês não tem noção do alívio imenso que eu sentia o tirar aquele tubo. Tentei falar com o médico, agradecer a ele, mas não conseguia, a única coisa q saia era um som rouco da minha boca. Minha garganta ardia como se tivessem despejado pimenta dentro.

Douglas disse que descansasse que logo eu estaria conseguindo falar novamente. Eu estava ansioso. O que eu queria mesmo era que chegasse logo o horário de visitas pra eu poder ver logo a minha mãe.

E queria ver o Luciano... será que ele viria me ver?    

One last timeOnde histórias criam vida. Descubra agora