Trinta e nove

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   Quando cheguei a casa naquela noite, depois da minha formatura, eu estava simplesmente sem ação... era quase como se tivesse sido anestesiado. Não conseguia mais chorar, não conseguia mais fazer absolutamente nada...

    Não pensei duas vezes, peguei aqueles papéis que minha tia tinha me dado e comecei a pesquisar na internet, naquela hora mesmo. Quanto antes eu fizesse isso, quanto antes eu fosse embora melhor, antes eu estaria livre de tudo isso. Queria deixar o Luciano de vez no passado.

   Abri os sites que tinham nos panfletos.

   Eu precisava escolher não só pra onde ia, mas que tipo de curso eu ia fazer, se curso só de idiomas, ou se cursaria matérias específicas. Acabei resolvendo fazer apenas o curso de inglês mesmo.

   Depois tinha que resolver que tipo de acomodação teria. Casa de família não era muito boa no momento, não queria me sentir um estranho na casa de ninguém. Ficar sozinho também não era muito bom, do jeito que eu estava a chance de entrar em depressão se eu ficasse sozinho num país totalmente diferente era alta. Resolvi ficar em alojamento estudantil, um apartamento com 5 quartos, dividido entre estudantes de diferentes nacionalidades.

  Por último o país. Apesar da escolha óbvia pra grande maioria ser os EUA, nunca tive tanto tesão assim por conhecer a terra do tio Sam... sei lá sempre fui meio contra o neo imperialismo americano... rsrsrs

  Minha escolha acabou sendo o Canadá.

  Uma amiga minha tinha viajado pra lá há pouco tempo e tinha trazido fotos incríveis de lá. Fiquei com vontade de conhecer. E agora estava a minha chance de matar essa vontade.

      Canadá... Canadá é o lugar...

   Quando o dia amanheceu minha mãe pirou quando viu meu rosto todo machucado daquele jeito. Tive que inventar uma desculpa, dizendo que dois caras tinham tentado me assaltar na saída da festa. Não sei se ela engoliu, ela ficou pensando que eu tivesse brigado com alguém na festa, mas falei pra ela se acalmar, que já estava tudo bem, que não tinha rolado briga nenhuma. Ela acabou ficando mais tranquila.

   Depois que ela se acalmou mais mandei minha segunda bomba. Falei que tinha resolvido aceitar o presente da tia Edna e que iria para o Canadá. Percebi que ela ficou triste, minha mãe é muito transparente, mas ela não disse absolutamente nada contra. Incentivou-me muito e disse que se fosse pra o meu futuro que eu fosse não me importasse com ela, que seis meses passavam voando.

   Depois disso liguei pra minha tia falando que havia decidido ir pro Canadá.

  Acabei escolhendo ir pra Toronto. O restante do mês agora era só corre-corre, pra resolver passaporte, visto essas coisas. Evitei sair de casa ao máximo, só saía se fosse pra resolver alguma coisa. Mas balada... simplesmente esqueci que isso existia. Queria eliminar toda e qualquer possibilidade de encontrar com o Luciano. Não liguei mais pra ele depois da festa e nem ele me ligou também.

   Uma vez falando com a Carla, ela me disse que ele tinha ligado pra ela, querendo saber como eu estava se estava tudo certo comigo e tal. Eu não tinha contado pra ela da minha briga com ele no banheiro. Ela disse pra ele que eu estava bem, contou da viagem e disse que se ele queria mesmo saber como eu estava que me ligasse.

  Claro que ele não ligou...

 Quando minha prima me contou dessa conversa que ela teve com ele eu até tive uma esperança de que ele ligasse...

  Sei lá, sabendo que eu ia embora, quem sabe ele não resolvia aparecer.

  Mas não aconteceu...

  Até que chegou o fatídico dia da despedida.

  Lá estava eu no aeroporto. Minha mãe, meus tios, minha prima. Uma multidão de gente ia e vinha. O único som que se escutava era aquele murmúrio de muita gente falando ao mesmo tempo.

  Até o último instante antes de entrar na plataforma de embarque, esperei que o Luciano aparecesse, do mesmo jeito que naquele sonho que tive quando sofri o acidente. Mas que nada...

 Certos sonhos não estão destinados a virar realidade...

 Me despedi de todo mundo, abracei minha mãe, ela quase não me deixa ir, me encheu de recomendação, e só depois me liberou. Carla me deu um beijo, depois me desejou boa sorte no Canadá e me deu uma piscadinha de olho.

 Entrei na plataforma, acenando pra todo mundo que ficou pra trás. Esperei alguns minutos ainda até que o voo fosse liberado.

  Quando liberaram meu voo, segui como se a cada passo que eu desse eu tinha que erguer 10 toneladas. Meu coração estava apertado, mas era o certo a se fazer.

  Quando finalmente coloquei minha bagagem em cima da poltrona e sentei, não teve jeito de não pensar no Luciano de novo.

  Lembrei-me de quando ele foi pra lá pra casa depois de terminar com a Carla. E da frase que ele me disse nesse dia.

"Você sabe que vai me ter desse lado pra sempre né?"

  Depois me veio à cabeça a imagem dele me batendo, enquanto dizia que eu não tinha cumprido minha promessa...

"Você também não cumpriu a sua promessa Luciano...".

  Depois o avião decolou voo. Muitas horas depois, lá estava eu em solo canadense.

  Muita coisa iria acontecer por lá...

One last timeOnde histórias criam vida. Descubra agora