Quarenta

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       Ver Toronto do alto, iluminada pelas luzes da noite renovou completamente o meu ânimo. Nossa, era tudo muito lindo, não tinha como não ficar de queixo caído...

     Quando desembarquei um funcionário do programa de intercâmbio já estava lá me aguardando pra me conduzir ao meu alojamento. Eu iria ficar num bairro próximo ao centro. Chamava-se Rosedale, era um bairro antigo, mas bem agradável. As casas tinham um charme a parte e ao contrário do que a maioria pensa, o verde estava em toda a parte. Havia grama e árvores em toda parte.


    Chegamos a casa onde eu ficaria. Era uma casa bem projetada, simples, porém muito bem decorada e funcional. Na casa havia 5 quartos, destinados aos estudantes de intercâmbio que vinham pra estudar. Não tínhamos cozinheira ou algo do tipo... Nós precisávamos fazer compras e preparar a comida, mas felizmente tínhamos uma faxineira que fazia a limpeza enquanto estávamos na escola.

   O "nós" a quem me refiro tratava-se de José Alberto e Maria Clara, dois portugueses, muito amigos que haviam resolvido fazer o intercâmbio juntos, Pablo, um Argentino meio marrento, mas gente fina e o Yuji, um japonês muito engraçado, só de lembrar-se dele falando eu morro de rir, o sotaque dele era impagável.

    Logo de cara quem mais me chamou atenção foi o José Alberto. Ele era bem branquinho, olhos azuis como eu nunca vi iguais, cabelo preto curto, contrastando com a pele branca e os lábios rosados dele. Se isso já não bastasse tinha um corpo de tirar o fôlego o "gajo"!

    E o seu sotaque de português também era muito gostoso de ouvir. Não era aquele sotaque carregado, era um sotaque suave, agradava ao ouvido.

    Pela manhã costumávamos ir à escola onde tínhamos algumas aulas e umas atividades práticas. Como quase todo mundo falava uma língua diferente, a única coisa que havia em comum era o inglês, então acabávamos sendo forçados a conversar em inglês o tempo inteiro.

    Isso só não era regra entre mim, José Alberto e Maria Clara. Como os três falávamos português isso acabou gerando uma aproximação entre a gente. Boa parte do tempo nós tirávamos onda um dos outros por causa das diferenças entre o português do Brasil e o português de Portugal. Isso gerou alguns momentos engraçados, como quando a Maria Clara perguntou uma vez se eu já tinha terminado a sebenta. Lógico que arregalei os olhos, até descobrir que a sebenta era a apostila.

   Logo no início eu pensei que a Maria e o Alberto fossem namorados, mas logo percebi que não eram. Eram só amigos mesmo, e dormiam em quartos separados. Outra coisa que me intrigou também era quando saíamos pras festas. Apesar de estarem solteiros, nenhum dos dois dava em cima de ninguém. Ficavam sempre juntos, quase como se estivessem repelindo qualquer tentativa de alguém chegar junto deles.

    Esse comportamento estranho deles dois nas duas festas que fomos acabou ativando meu desconfiômetro e comecei a prestar atenção nos dois...

    E foi assim que eu percebi que Maria Clara disfarçadamente virava os olhos na direção de alguma menina tesuda que passasse. E José Alberto...

    José Alberto não tirava os olhos de mim...

    Como pra bom entendedor meia palavra basta e como uma imagem vale mais que mil palavras, então com o que eu tinha visto já dava pra formular uma hipótese muito fácil: os dois curtiam, ou seja, eram gays!

    Mas mesmo percebendo que José Alberto estava a fim de mim e que ele era um pedaço de mau caminho que não tem criatura no mundo que em sã consciência deixasse passar, eu preferi ficar na minha. Aquela situação com o Luciano havia me deixado meio devagar nas investidas. A verdade é que depois de quase 3 semanas no Canadá, era como se eu não tivesse saído de casa. Não conseguia parar de pensar em tudo que tinha acontecido...

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