One last time

Vinte e nove

  Ele estava com o cabelo todo assanhado, os olhos fundos, bem vermelhos, não sabem se por falta de sono ou por ele estar chorando e a barba mal feita. Acho que ele não devia ter dormido praticamente nada desde o acidente. Quando ele me viu passando pelo corredor agarrou logo na minha mão e começou a chorar. Acho que eu também choraria se me visse no estado que eu estava (eu estava detonadão!)

 Um dos enfermeiros pediu que ele se afastasse pra não atrapalhar o transporte.

  Ele continuou seguindo, acompanhando a maca, olhando pra mim e seguindo até o quarto.

  Quando cheguei ao quarto minha mãe já estava lá, junto com a minha tia, minha prima e meu pai.

  Minha mãe já foi logo falando pra o Luciano que vinha atrás.

- Sabia que você não ia sossegar se não fosse esperar ele sair de lá rsrsrsrs. Vamos, vamos sair um pouquinho pra deixar os rapazes conversarem.

(Será que dá pra entender porque que eu amo a minha mãe??)

  Luciano que estava o tempo todo calado, apenas chorando, chegou perto de mim depois que todo mundo saiu e segurou na minha mão de novo. Começou a chorar alto e a pedir desculpa e desculpa. Tentei consolar ele no início, dizer que era bobeira, que não era culpa dele, mas não adiantava, ele não parava, estava ficando descontrolado.

  Então do nada, eu virei a cabeça, olhando pro teto, e comecei a cantar uma música que ele adora.

Three little birds

"Don't worry about a thing,
'Cause every little thing is gonna be alright.
"Don't worry about a thing,
'Cause every little thing gonna be alright!"

Woke up this mornin',
Smiled with the risin' sun,
Three little birds
Sit by my doorstep
Singin' sweet songs
Of melodies pure and true,
"This is my message to you-ou-ou:"

"Don't worry 'bout a thing,
'Cause every little thing is gonna be alright."
"Don't worry (don't worry) 'bout a thing,
'Cause every little thing is gonna be alright!"

Rise up this mornin',
Smiled with the risin' sun,
Three little birds
Sit by my doorstep
Singin' sweet songs
Of melodies pure and true,
"This is my message to you-ou-ou:"

"Don't worry about a thing, worry about a thing, oh!
Every little thing is gonna be alright. Don't worry!"
"Don't worry about a thing" - I won't worry!
"'Cause every little is thing gonna be alright."

"Don't worry about a thing,
'Cause every little thing is gonna be alright" - I won't worry!
"Don't worry about a thing,
'Cause every little thing is gonna be alright."
"Don't worry about a thing, oh no!
'Cause every little thing is gonna be alright!

Ouvindo-me cantar, de repente o Lu se acalmou, olhou pra mim fixamente. Eu tirei os olhos do teto e olhei pra ele. Era o rosto mais lindo que eu já vi, todo vermelho de tanto chorar.

- Vai parar de chorar agora, gurizão??
- Rick, só você mesmo. Você não sabe a coisa ruim que eu senti quando vi você rolando pelo asfalto daquele jeito cara. Eu preferiria mil vezes que tivesse sido eu naquela moto do que você.
- A gente pode providenciar isso hehehee.
- Deixa de conversa moleque, você ainda vai demorar um pouquinho de molho agora...

Ele falou isso e na mesma hora deve ter se arrependido, porque o semblante dele já começou a ficar carregado de novo. Antes que ele começasse o festival de desculpas eu me adiantei:

- Se pedir desculpa de novo eu mando você se fuder viu!
- Sim senhor, peço mais não!
- Diz aí, quer dizer que você e Carlinha fizeram as pazes?
- É pois é véi. Engraçado, eu estava tão angustiado aqui no hospital com você daquele jeito que quando ela chegou aqui, eu nem sequer pensei em nada. Pra mim na hora foi como se nada tivesse acontecido, já fui logo abraçando ela quando ela chegou.
- Sei seu sacana, você foi é se aproveitar!
- Pior que não. Eu tinha muito medo de quando eu reencontrasse ela, de como seria... não sei se foi a situação em que eu estava ali na hora, ou o que eh que foi, só sei que nem sequer pensei nisso na hora.
- Ainda bem cara, quem sabe vocês não conseguem ser amigos daqui pra frente?
- Aí já é querer forçar um pouco a barra. O que eu acho melhor mesmo é as coisas ficarem como já estão, que já está beleza.

Continuamos conversando um pouco. Depois minha tia entrou junto com a Carla e meus pais.

- que demora é essa, era pra conversar um pouquinho, não era pra ficar 2h alugando meu filho não Sr.Luciano.
- Desculpa tia, foi mal!
- Tá certo, tá desculpado.

Ficamos todos conversando algum tempo, mas como no quarto também tem tempo de visita, todos iam ter que ir, ia ficar só a minha mãe, que ia passar a noite comigo. Pedi a minha mãe pra ir embora descansar.

- Sim bonitinho e quem é q vai cuidar de você de noite??
- A Carla - eu falei pra minha mãe e depois me virando pra minha prima, disse: você pode ficar prima?
- Claro que posso Rick, eu estava doida pra ficar, sua mãe que não queria deixar!
- hum não estou gostando dessa história do senhor me jogar pra escanteio viu!
- Que escanteio o que mãe, é que eu queria conversar com a Carla, por isso que eu queria que ela ficasse.
- Hum tá certo. Beijo meu filho, amanhã mamãe tá aqui.

Depois que todos saíram, Carla sentou na poltrona do lado da minha cama. Depois de trocar os canais da televisão sem mal ver o que estava passando, ela parou e me perguntou:

- E aí primo, que é que você quer conversar comigo?

Finalmente tinha chegado a hora. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde esse momento ia chegar. Eu tinha que contar pra Carla tudo o que estava acontecendo comigo, com a minha cabeça. Porque se algo tivesse de acontecer entre eu e Luciano ela seria primeira pessoa a ficar sabendo, apesar de eu não terá mínima esperança disso acontecer.
- Carlinha, não vou ficar te enrolando não, vou dizer logo na lata: eu sou gay.
- O queeeeeeeeeeeeeeeee??????