Trinta e seis

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    Minha tia finalmente me largou, foi até a bolsa dela e tirou um monte de papéis que ela tinha impresso da internet provavelmente e me entregou. Fiquei sem entender o que aquilo significava, até folhear aqueles papéis um a um.

- O que é isso tia?
- É isso mesmo que você tá vendo meu filho! A Carla me disse que desde pequeno você é louco pra fazer intercâmbio em outro país e que agora o que você mais queria depois de se formar era passar um tempo fora pra relaxar a cabeça antes de pegar de verdade no batente!
- Mas tia, isso é muito caro, não tem como eu aceitar não!
- Meu filho, deixe de ser turrão, parece o seu pai aquele orgulhoso, vendia as cuecas, mas nunca pedia ajuda a ninguém! Não se preocupe não, porque essa viagem vai ser muito mais barata que o carro que eu estava pensando em te dar.
- O que, você queria me dar um carro, você tá doida????
- kkkkkkkkkkkk. Ai meu Deus, como é que pode hein? Nem dar um presente pro meu sobrinho que eu amo tanto eu posso? Não se preocupe não meu filho, não ia estar te dando nada se eu não tivesse condições, você sabe que se eu estou fazendo isso é porque eu posso né?

    Eu bem sabia. Minha família por parte de mãe era de classe média, eles vivam confortavelmente, como eu vivia, sem passar apertos, mas não faziam grandes extravagâncias. Mas minha tia Edna casou com meu tio Geraldo, que vinha de família rica e era muito bem de vida. A chácara que eles tinham na saída da cidade, muito boa era apenas a ponta do iceberg do patrimônio dele. Ele tinha várias fazendas no interior, onde trabalhava com criação de gado leiteiro e de corte. Só por hobby.

- Mas olha, não precisa me responder nada agora não! Leva os panfletos todos pra casa, dá uma olhadinha e só me diz pra onde você quer ir e quando que o resto eu resolvo!
- Tá bom tia, vou pensar sim!

   Apesar de dizer que ia pensar, eu tinha me decidido a não ir. Putz, uma viagenzinha, como vocês pensaram que era o que eu tinha ganho é uma coisa. Mas intercâmbio... Seria no mínimo 6 meses fora.

    Mas por um lado, a Carla tinha razão quando disse pra minha tia que eu era louco pra fazer intercâmbio. Ela estava mais do que certa quando falou que eu sempre quis fazer intercâmbio. Desde pivete eu sempre estudei inglês, tinha muita vontade mesmo de viajar, passar um tempo fora, por eu prática o que eu conhecia da língua e aprender coisas novas. O problema é que minha mãe nunca teve dinheiro pra me bancar numa empreitada dessas. Talvez até fizesse um esforço e tentasse me bancar a viagem se eu pedisse, mas é claro que eu jamais pedi. Mas tinha comentado com a Carla dessa minha vontade de fazer intercâmbio, mais de uma vez inclusive.

   Por outro lado, tinha o trabalho. Eu já tinha uma proposta de trabalho fechada com a academia pra depois que eu terminasse o curso. Já ia ser um ótimo começo, pois aquela era uma das melhores academias da cidade. Começar por ela iria me abrir muitas portas. Tinha também a minha mãe... não me agradava muito saber que ela ia ficar sozinha esse tempo todo.

   E por outro lado tinha o Luciano.

   Não deu pra não pensar nele nessa hora. Com certeza, aquilo seria o que eu precisava pra por minha cabeça no lugar. Talvez respirando novos ares, depois de 6 meses, minha cabeça já estivesse em outro foco e o meu coração mais tranquilo. Mas... será que eu queria mesmo 6 meses longe do Luciano? Será que era essa distância que eu queria que eu precisava?

  Não conseguia chegar a nenhuma resposta, mas a uma certeza eu cheguei. Não era a melhor hora pra essa viagem. Por isso que resolvi renunciar ao presente de tia Edna, mas não faria isso nem ali, nem agora 

One last timeOnde histórias criam vida. Descubra agora