Vinte e cinco

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   Logo que acordei a primeira coisa que notei foi a dor. Eu sentia dor. Muita dor no corpo inteiro. Minhas costas ardiam. Ardiam como... como se você tivesse sido arrastado pelo asfalto...

  Tentei me mexer. Não consegui. Minhas mãos e pernas estavam amarradas com ataduras, me mantendo imobilizado à cama em que eu estava.

   Tentei falar. Não consegui também. Um tubo saia da minha boca e me ligava a um aparelho que estava do meu lado. Estiquei a cabeça. Vi a minha frente várias camas, com outras pessoas deitadas. Algumas estavam como eu.

   Amarradas, com um tubo saindo pela boca. Tinha vários aparelhos por toda volta. Tudo apitava. Minha cabeça apitava.

  Eu não conseguia raciocinar. Não sabia o que estava acontecendo. Porque eu estava ali? Quem tinha me amarrado daquele jeito? Que mal eu tinha feito a alguém, pra me prenderem daquele jeito? E aquela dor toda... o que é que tinha acontecido, onde é que eu estava?

   Ignorei a dor. Comecei a me mexer com toda a força que tinha, tentando puxar aquelas ataduras que me prendiam naquela cama. Queria alcançar aquele tubo e arrancar ele da minha boca. Queria gritar, queria sair dali.

  Uma mulher de meia idade vestida de branco chegou perto de mim.

- Calma, fique calmo, você está no hospital, não se preocupe, vai ficar tudo bem, mas você tem que se acalmar.

   Mas eu não queria me acalmar, só queria sair dali.

   Ela tentava me segurar, mas eu me debatia. Minha mão estava quase chegando naquele maldito tubo. Logo eu ia ficar livre. A mulher de branco virou a cabeça pro lado pedindo ajuda. Um homem de branco chegou também e começou a segurar meus braços. A mulher então gritou pra o outro lado:

- Dr, o paciente do leito 4 acordou, ele tá meio agitado.

Um homem jovem também de branco apareceu na minha frente. Ele também me pedia pra ficar calmo, mas eu não me acalmava.

O médico então virou-se pra mulher de branco e disse:

- Faça uma ampola de dormonid pra ele.

   Ela voltou depois de algum tempo com algo na mão. Pegou meu braço e num tubo fino que saía por ele aplicou aquele remédio"

   Silêncio...

    Eu acordei dentro d'água. Devia ser uma praia, porque eu sentia o gosto da água salgada na boca. Olhei pra cima e vi o reflexo do sol dentro da água. Comecei a me debater e a subir. Queria sair, queria respirar. Nadei desordenadamente, feito um desesperado até chegar à superfície.

  Quando saí de dentro da água vi que estava numa praia. Era um lugar lindo, verdadeiro paraíso. Comecei a nadar indo em direção a areia. Sentia cada uma das ondas que vinham bater em minhas costas, e uma sensação boa começou a tomar conta de mim. Não havia ninguém nessa praia, só eu, mas era como se eu não precisasse de mais nada. Aquele momento, aquele lugar era só meu.

  Sentei na areia olhando pra quele mar maravilhoso. Depois fechei os olhos, deixando meu corpo cair pra trás, me deitando na areia da praia. Quando abri os olhos vi o Luciano de pé, com o rosto sobre a minha cabeça, sorrindo e olhando pra mim. Fiquei sem entender o que ele fazia ali. Aquela era a minha praia, o meu lugar, o que ele estava fazendo ali?

Então ele abriu a boca e disse:

"Vai ficar aí pra sempre é moleque?"


    Acordei novamente...    

One last timeOnde histórias criam vida. Descubra agora