Insanidade

197 11 3
                                    

  As aulas estavam prestes a começar. Os alunos, cada um a seu modo, arrumavam as malas e despediam-se dos pais com abraços e carinhos. Na T'oca, a família almoçava uma mesa farta de comida, na presença de Harry (que encontrava-se preocupado com o julgamento) e Hermione.
  Na família Dursley, comemorava-se a saída de Harry e a sobrevivência de Duda, que por algum motivo contou a seus pais que fora Harry quem o salvara, mas não fazia diferença, já que os pais não acreditavam, e insistiam ao filho que o bruxo havia feito uma lavagem cerebral no menino.
  Na casa do Sr.Lovegood, ele e sua filha tratavam cuidadosamente do jardim, para que os Zonzóbulos não atrapalhassem sua plantação mais tarde.
  Neville fora visitar seus pais, e voltara desanimado como sempre. Triste e desamparado. Apenas na companhia de sua avó.
  Na Mansão Malfoy, vulgo covil dos comensais, havia um círculo de pessoas de preto ao redor de uma em particular. Os cabelos grandes, longos, ondulados, arrastando pelo chão. A respiração descompensada, evidenciada pelo peito que subia e descia rapidamente enquanto ela arfava. Lágrimas inundavam seu rosto, ematomas por todo o corpo, estava sentada no chão, com as pernas contorcidas em um ângulo estranho, mesmo sentada precisando da pouca força que restava em seus braços para apoiá-la.
  Em sua frente, um ser de aparência desprezível, sem cabelos, nem nariz, com suas vestes tão longas que se arrastavam no chão, cobrindo seus pés descalços. Apontava ainda a varinha para a garota, o braço com que segurava o objeto estava machucado, como se tivesse sido levemente queimado.
  O Lord se afastou, levando Naguini com ele, convocando os demais para um assunto sério a tratar no Ministério da Magia, já tinha tudo em mente, esse seria o ano de pôr em prática.
  Duas pessoas continuaram ali, com o corpo de Willow. Draco, que não estava no círculo mas assim que ele se desfez juntou-se à prima, e Bellatrix, que permanecia imóvel, em pé. Draco colocou ao redor da garota a capa da Sonserina, já que daqui a alguns minutos partiriam para a estação, e a ajudou a levantar.
  Quase sem forças, a menina ergueu-se, apoiando-se no loiro, e tremendo levemente. Os comensais já estavam longe, criando planos e dividindo missões. Ela olhou para frente e viu sua mãe, olhando para ela com um ar de reprovação e os braços cruzados.
  -- Menina estúpida! Não cansa de me envergonhar na frente do Lord das Trevas?
  Uma raiva até então desconhecida se apoderou de cada centímetro do corpo de Willow, sem explicação nenhuma, ela começou a rir. Não uma risada de deboche, mas uma risada sincera, que até mesmo ela não sabia de onde vinha. Draco e Bellatrix a olharam confusos.
  -- Vai... se... FODER!
  Um jato de luz amarela saiu da varinha da menina, e atingiu sua mãe com tanta intensidade que arremeçou-a para trás. Ela caiu no chão estática, parecia ter desmaiado. Até então sem conhecimento sobre tamanho poder, Black olhou sua varinha espantada e sorriu.
   -- Vamos, Draquito?
  Sorriu de maneira esquisita para ele, seus olhos muito abertos e o sorriso muito grade. Draco lembrou-se imediatamente de um assassino. Respirou fundo, e assentiu, conjurando os malões. Despediu-se apenas de sua mãe, já que seu pai estava com Voldemort e sua tia desmaiada. Aproveitou a oportunidade e sussurrou para Narcisa:
  -- Mãe! O que houve com a Willow? Ela está... estranha...
  Os dois viraram para o local onde a garota se encontrava. Ela segurava uma mecha de seu próprio cabelo e brincava com ela, dando nós na mesma e depois os desfazendo. Seu olhar era penetrante, vazio e ao mesmo tempo infantil, enquanto divertia-se com o cabelo.
  Narcisa suspirou:
-- Filho, isso é normal quando alguém é submetido a tanta tortura... não acho que sua prima vá voltar a ser a mesma... cuide para que ela não faça mais besteiras, não sei se aguentaria mais uma sessão de castigos.
  Draco assentiu. Não deixaria mais que Willow desobedecesse Voldemort. Poderia não resistir a mais torturas.
 
                            Willow        
   Sinto uma dor latejante na minha cabeça. Não acho que consiga ficar de pé por mais muito tempo... meu corpo está tremendo. Decido sentar-me no chão para esperar Draco se despedir de Narcisa. Às vezes sinto vontade de ter uma mãe como ela, para me abraçar antes de eu partir.
  Sinto cheiro de cerejas. É o meu cabelo. Começo a brincar com ele despreocupadamente, enquanto penso em algumas coisas, embora mesmo para mim elas pareçam desconexas.
  Não sabia que apenas um estupefaça seria capaz de desmaiar Bellatrix Lestrange. Me pareceu uma ironia das boas. Rio levemente, e Draco me olha espantado. Decido ignorar. Já já estaremos em Hogwarts. Malfoy não para de reclamar daquela escola, e dos sangues-ruins que ela aceita, mas eu gosto do castelo.
  Me sinto bem, até mesmo acolhida lá. Tem também o Potter. Não contei para ninguém, nem mesmo poderia, mas ele me mantém informada sobre Sírius, que está escondido com Bicuço nos arredores de Hogsmead. Sírius Black é como um tio para mim, pois mesmo carregando o sobrenome que tinha, sempre foi contra tudo que sua família acreditava.
  Foi preso quando eu tinha aproximadamente quatro anos, mas me prometeu que era inocente, e que voltaria para mim logo. Assim que recebi sua carta anônima e o vi em Azkaban, já com um plano pronto, me pedindo ajuda, meu peito se encheu de esperança e carinho novamente.
  Claro que o ajudei a sair da prisão, aquele homem representa coragem para mim, e é disso que eu preciso. O pouco tempo que fiquei com ele em Hogwarts, mesmo ao lado de Potter e Granger, recebi novamente amor, afeto. Eu faria de tudo por ele.
  Me lembro de Azkaban... aquele ano não foi nada fácil, mas nada que eu não conseguisse superar depois de um tempo. A Sonserina é fria, mas mesmo assim encontrei alguns amigos ali. Até os gêmeos Weasley e o Pirraça me acolheram. Hogwarts é um refúgio.
  Os amigos que conquistei na Sonserina, são poucos mas são bons. Bons amigos, quero dizer, porque sempre foram maus de natureza, assim como a maioria daquela casa, assim como Draco, assim como eu. Não nos leve a mal, mas o poder não é leve, ele é pesado, e só os fortes e extremamente ambiciosos chegam até ele.
  Interrompendo toda a minha linha de raciocínio, Draco se aproxima, me segura e me leva até a lareira. Chegamos na estação e entramos no trem. Cabines vermelhas antes das verdes. Assim que encontramos Theo, Blás e Pan entramos. Me acomodei entre Nott e Zabine, e eles me olharam estranho.
  Percebi que estava com o rosto todo cortado, e rapidamente fiz um feitiço para esconder. Sorri para eles e me levantei. Roubei uma varinha de alcaçus do carrinho da bruxa dos doces, que estava distraída vendendo alguns sapos de chocolate e me sentei, agora do lado de Pansy, virada para a janela.
  Adormeci logo, mas não por muito tempo, já que tive pesadelos. Nenhum deles fazia sentido, assim como meus pensamentos quando acordei. Estaria Draco realmente ao meu lado? Ou ao lado de sua família? Não era eu sua família? Afinal, de que lado estou? Sou uma comensal, não sou? Estou do lado das trevas... não é?
  Meus pensamentos não pararam. Fui acordada pelo resto da viagem por eles. Eles não eram tão claros quanto deveriam ser. Havia sombras e névoas em minha mente, me deixando tonta, me levando à loucura. "Tenho que respirar. Estou à beira da insanidade".

 

Willow Black LestrangeOnde histórias criam vida. Descubra agora