A primeira aula

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-- Amanhã. Meia noite. Sala precisa com a Granger.
-- O... que?

Não era novidade ter sua prima invadindo o dormitório masculino altas horas da noite. Ele estava agradecido, para ser sincero, que as intenções dela hoje não passavam de profissionais.

-- Você vai ter uma aula de Defesa Contra a Arte das Trevas decente com a Granger. Vá sem ninguém te perceber. Não quero que a velha te pegue.
-- Granger??
-- Nem comece Draco, ela é a mais capacitada, você sabe disso.
-- Como convenceu ela?
-- Não te interessa.
-- Grossa.
-- Fresco.
-- Boa noite.
-- Nem um "obrigado"?
-- Vai à merda.

A sonserina saiu do quarto do primo, dirigindo-se para seu próprio, mas desistiu no meio do caminho. Ela conseguiu alguns doces com os elfos da cozinha depois da conversa com Granger, e preferiu saboreá-los no silêncio do salão comunal, sem correr o risco de acordar as insuportáveis colegas de quarto.

Sentou-se em uma das luxuosas poltronas de veludo verde-musgo e ficou observando a dança alegre que o fogo da lareira fazia. Os doces pareciam muito apetitosos, e ela aconchegou um pé sob o outro para esquentá-los melhor. Estava confortável. Tudo estava saboroso. Inclusive o pudim. Pudim...
Com um suspiro se lembrou da garota loira. Saltitante e feliz, descalça com seu doce nas mãos. Quanta paz aquela garota deve sentir. Quanta paz ela irradia. Sentiu inveja. Tudo que ela sabia sobre a garota era que era chamada de Di Lua, e reconhecida por ser um pouco amalucada. Seu pai era editor de "O Pasquim", um jornal completamente sem sentido, que publicava as notícias mais absurdas.

E por falar em "loiros platinados", Malfoy descia as escadas de seu próprio dormitório, bagunçando os fios de cabelo e com um olhar pregado de sono.

-- O que faz aqui?
-- O que você quer?
-- Insuportável.
-- Quer doce?
-- Não.
Ela se lembrou de quanto o ama e se rendeu. Droga de compaixão estúpida.
-- Desculpe ter te acordado. O que faz aqui? Perdeu o sono?
-- Só estou agitado, não se preocupe.
-- Como vão as aulas de Oclumência? Tirando o... incidente... é claro.
Ela sorriu. Ele fez uma carranca.
-- Estão indo bem, eu acho. Mas não sou muito bom.
-- Precisa ser, Draco. Você sabe o quão importante isso é.
-- Sim. Eu sei. - um silêncio se passou entre eles. Ficaram algum tempo apenas observando a lareira e ouvindo seus estalos. Mas ele respirou fundo. Precisava perguntar. Era agora ou nunca. - Willow... você... digo... quanto tempo você acha que temos... até...
-- Eu não sei. - resoondeu sincera. Aquela dúvida também dançava em sua mente a algum tempo. - Não quero que fique pensando sobre isso agora. Vamos dormir.
-- Eles nos chamaram. Para as férias de natal.
-- Deve ser algum outro problema comigo. Está tudo bem. Vá para a cama.

Ele suspirou. Não aguentava mais esse tipo de "problema" com ela. Era difícil ficar em seu quarto trancado, usando um Abaffiato, sabendo onde e com quem ela estava. E o que possivelmente estaria acontecendo.

Os dois dormiram naquela noite muito mal. Eles, mais do que ninguém naquele castelo, sabiam que essa ilusão de segurança não iria se estender por muito tempo.

O dia passou normal, e a noite chegou rápida. Principalmente para eles, que não estavam nada preparados para o compromisso na sala precisa.

Draco Malfoy
As aulas passaram voando, muito mais rápido do que o desejável. Exceto a aula de poções, que se arrastou pela manhã inteira. Eu passei a aula toda de cabeça baixa evitando olhar para o professor, e Willow fez questão de tirar com a minha cara assim que saí da sala quando ela percebeu que minha aula tiha sido com Snape. Vagabunda.

Ela andava muito mais carinhosa comigo ultimamente, o que era estranho. É claro que tinha toda a coisa de comensal, o retorno daquele que não deve ser nomeado, mas parecia passar um pouco disso. Ela parecia entender sempre o que eu estava sentindo.

O jantar foi silencioso de nossa parte, apenas respondíamos quando alguém nos chamava. Um silêncio mútuo que dizia muita coisa. Medo. Cumplicidade. Apoio.
Mais rápido do que eu gostaria, o relógio bateu meia-noite, e eu me dirigi à sala precisa. Eu entrei, sem esperar que ela já estivesse lá dentro. Mas ela estava. A sala era repleta de espelhos, tinha um espaço consideravelmente maior do que normalmente. As paredes eram manchadas em azul e haviam pilares de pedra pela sala. Ela se virou para traz e me encarou. Os olhos castanhos brilhando vergonha, desconforto, ela desviou o olhar para o chão de pedra e me cumprimentou com a voz fraca.
-- Malfoy.
-- Granger.
Não passava de cordialidade, nenhum dos dois sabia como começar uma conversa. Aquilo seria terrível. Uma lembrança meio distante dos lábios dela passou pela minha mente, e eu a afastei rapidamente.
-- Então, professora. O que vamos aprender na aula de hoje? - consegui recuperar minha postura, exibindo meu sorriso sarcástico de sempre, torcendo para que ela não tivesse reparado no meu rosto antes desse movimento porque, para ser sincero, eu não sei o que ela teria visto.
-- Vamos começar com feitiços simples de defesa. Ande até ali.
Percorri o caminho sugerido calmamente, tentando manter a postura de desinteresse. Me posicionei de costas para um dos espelhos, de frente para Granger. Estava distraído com tanta informação, portanto não processei o que ela disse tão rápido quanto deveria.
-- Defenda-se.
Um feitiço cortou o ar antes que eu pudesse detê-lo. Ele atingiu meu peito e um formigamento estranho percorreu cada um dos meus musculos quando algo me arremessou para trás e eu ouvi um barulho de estardalhaço. Acho que quebrei o espelho.
-- Malfoy! Está tudo bem?
-- Considerando que você quase me matou...
-- Não seja dramático, eu te avisei que ia te atacar.
-- Não esperava que seria um feitiço tão forte.
-- Forte? Foi só um Estupefaça!
Um... Estupefaça? Quanto poder uma pessoa tem que ter pra fazer um estrago desse apenas com um Estupefaça? Principalmente sem o sangue totalmente mágico.
-- Certo, vamos tentar de novo. Mas dessa vez verbalize, estou a um tempo sem aulas práticas. Você sabe. Assim como todos os alunos.
-- Tudo bem. Preparado? Estupefaça!
O feitiço dobrou a realidade desde a ponta da varinha dela, até o meu contrafeitiço que, apesar de eficiente, não me impediu de sentir a familiar vibração no corpo, causada por uma grande onda de poder.
-- Isso! Muito bom Malfoy!
-- Sou melhor em outras coisas.
-- Bom! -me cortou imediatamente- podemos aumentar o ritmo então.
A noite toda se resumiu a feitiços cortados. Ela atacava e eu me defendia, eu atacava e ela se defendia. Depois de um tempo já estávamos acostumados com a presença um do outro. Não que isso nos desse muito mais intimidade do que tínhamos antes. Evitei insultá-la, afinal, deve ter custado um pouco a Willow convencê-la a me ajudar e, com certeza, apanharia se desperdiçasse essa chance.
Tenho que confessar que apanhei bastante. Granger não é nem um pouco da garotinha frágil que aparenta. Pelo menos não em combate.
-- Bom, por hoje é só, Malfoy. Vamos dormir que amanhã temos aula.
-- Tudo bem.
Nos retiramos da sala, a qual ela enfeitiçou silenciosamente, não sei dizer para que. Nos dirigíamos para a mesma direção, caminhando silenciosamente pelos corredores, até que chegamos ao salão da Grifinória.
-- Bom, vou ficar por aqui. Tchau, Malfoy.
-- Boa noite Granger.

Assim desci para o salão da Sonserina. Me pergunto como deve ser a casa dos leões por dentro. Com certeza não luxuosa quanto a nossa. Willow deve conhecer, ela já dormiu com gente de todas as casas. Grifinória provavelmente não era um obstáculo pra ela. Será que já dormiu com a Granger? Será que foi isso que a convenceu a me dar aulas?
Esse pensamento me incomoda um pouco. Nas masmorras, Willow está sentada em uma das poltronas com suas pernas apoiadas em um dos braços da mesma, rindo com alguns amigos e com um copo na mão.
-- Black. Posso falar com você?
-- Iiiiii, pronto. Só me falta levar bronca a essa altura do campeonato.
Seus amigos riram, ela sorriu. Mas seu sorriso, cheio de malícia, não chegava aos olhos. E só eu sabia disso. Ela estava preocupada. Ela se levantou e me seguiu, me oferecendo a bebida, que provavelmente tinha um altíssimo teor de álcool. Virei. Realmente, queimou como fogo.
-- Você dormiu com a Granger?
-- O que? Ela disse isso?
-- Não, eu só liguei os pontos.
-- Quais pontos menino?
-- Foi isso que a convenceu a me ajudar? A dar essas aulas pra mim?
-- Eu não dormi com a Granger, Draco, me dá um tempo, tá? Não troco sexo por favores, sou uma vadia, mas não sou interesseira.
Meus músculos relaxaram minimamente. Infelizmente, a cria do satanás percebeu.
-- Hmmm... ta interessado na sangue-ruim, Draquinho?
-- Claro que não, Willow, dá um tempo.
-- Sei... -me olhou com a cara mais cruel e maliciosa que conseguiu.
-- Ah, vá a merda.
Na metade da escada que levava ao meu dormitório a ouvi gritar.
-- Boa noite priminho, eu também te amo!
Puta. Só me resta dormir.

Willow Black LestrangeOnde histórias criam vida. Descubra agora