Após uma sequência de acontecimentos ruins num único dia, o maior desejo de Henri era poder recomeçar a vida sem lembrar de quem lhe machucou e tentar ignorar o fato de ir estar morando com seu pai, com quem tem uma relação conturbada.
Mas quem...
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Existem palavras que mudam sua vida por completo, depois de pronunciadas elas fazem seu coração bater mais forte e suas pernas ficarem bambas, fazem com que você pare no meio da rua num estado completamente atônito sem conseguir dizer nada, pois bem... Essas palavras estavam sendo ditas a mim naquele momento.
"Você está demitido"
Quase deixei a bandeja com café, pão e bolo cair da minha mão, Rose só poderia estar exagerando como fazia sempre.
— Não é certeza ainda Henri — ela disse ofegante — Mas estão passando em todos os setores e tirando alguém, como no seu só tem você a berlinda já está feita.
— Já passaram no seu setor?
— Já! Mas eu não estou com coragem de sair do banheiro e dar de cara com uma carta de desligamento, tem ideia de quantas pessoas gostariam de trabalhar na Chermont Diamond?
Ela soava chorosa o que me deixou profundamente desesperado, corri frenético pelas ruas de Natal, a cidade mistura tons urbanos com um Q do interior e isso em geral me deixava calmo nos momentos em que podia sair da empresa, mas não foi o caso, eu estava uma verdadeira pilha.
— Estou nos elevadores Rose, pode sair do banheiro.
— Tudo bem, mas não vou para o meu setor.
— Certo.
Chegando ao décimo segundo andar do prédio fiquei ainda mais perplexo, muitos funcionários empacotavam seus pertences e despediam-se dos amigos, não pude conter o nó em meu peito, aqueles eram colegas que eu vira todos os dias e estavam sendo despejados sem nem sequer um aviso prévio, aquilo deveria ser ilegal, eu tinha quase certeza que era.
— Henrique. — Rose já chegou se jogando em meus braços enquanto sua maquiagem matinal ia por lágrima abaixo.
— O que diabos está acontecendo aqui? — perguntei num misto de fúria e incompreensão.
— Novo dono. — Kleiton apareceu ao nosso lado segurando uma caixa — Nova dona para ser mais exato.
— Você também vai embora cara? — perguntei sem graça, Kleiton trabalhava no setor financeiro da empresa, o que me fazia ter contato diário com ele, em dado momento o trabalho acaba se tornando sua segunda casa e ele era como um irmão.
— Não, essas coisas são da dona Sofia, mas fui rebaixado para assistente.
Dona Sofia era chefe de limpeza, uma verdadeira lenda em todo prédio, ela saiu da multidão, pegou sua caixa e como católica rigorosa que era fez o sinal da cruz na testa de nós três, foi a última vez que a vi entrar no elevador dos funcionários, a essa altura nem mesmo Kleiton conseguira conter as lágrimas, quê dirá eu.
— Filhos da puta. — rosnei apertando a bandeja em minhas mãos.
Na verdade eu não estava com raiva do meu chefe, ele era ótimo comigo e havia me dado uma oportunidade e tanto, mas aquela foi uma atitude muito desleal para com os colaboradores.
