Após uma sequência de acontecimentos ruins num único dia, o maior desejo de Henri era poder recomeçar a vida sem lembrar de quem lhe machucou e tentar ignorar o fato de ir estar morando com seu pai, com quem tem uma relação conturbada.
Mas quem...
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Quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi o rosto afilado com a boca arredondada e tão rosada que beirava o vinho, os olhos azuis profundos demarcados pela sobrancelha firme e o cabelo bagunçado, único tom que me avisava que aquele ser não era um anjo, não sabia se estava acontecendo realmente ou se era apenas mais um pensamento da manhã, ultimamente a primeira coisa que imaginava era sempre ele.
Mas aos poucos minha mente remontou os pedaços soltos do que aconteceu antes de eu estar deitado na cama de um hospital com a sensação estomacal de ter engolido três limões em jejum.
— Ei — Henrique sentou-se ao meu lado segurando minha mão, seus dedos alisaram a palma que parecia mais sensível que nunca — Você está bem?
Acompanhei seus movimentos e a mão sensível estava com um esparadrapo, mesmo assim era possível deduzir que mais uma vez eu me fodi depois de beber como um cão.
— Henri. — murmurei incapaz de falar num tom alto percebendo o seu cansaço — O que aconteceu?
— Ingestão excessiva de álcool — ele segurou meu ombro, colocando-me completamente deitado para que pudesse abaixar o leito, despretensiosamente ajustou o soro acoplado as minhas veias e apesar de saber da sua decepção era inevitável não gostar da sensação de cuidado que ele me passava.
— Isso está indo longe demais. — disse sem olhar em seus olhos.
— Nem me fale — Henri segurou meu rosto e a sua expressão séria me fez sentir palpitações, a imagem angelical dele não se sobrepunha ao respeito que eu tinha. — Você sabe o que isso está te causando?
— Imagino que pedir desculpas não vai adiantar de nada.
— A menos que as desculpas contenham a inflamação no seu estômago, não, elas não vão ajudar.
— Inflamação?
Seus olhos viraram, não sei se ele sabia, mas era completamente incapaz de esconder seus sentimentos, desejo, raiva, decepção.
— Os médicos disseram que o PH do seu estômago está baixíssimo, a acidez deixou ele completamente vulnerável, por isso o vômito e a provável dor, está sentindo dor?
— Um pouco, mas isso é grave?
— Você vai tomar alguns antibióticos e terá uma dieta regrada por alguns meses.
— Tudo bem. — concordei balançando a cabeça — Eu posso fazer isso.
— Você tem que fazer mais além disso, Lamartine essas suas crises estão ficando mais constantes, dessa vez foram só inflamações, vai parar quando isso ser tornar uma úlcera?
— Henri eu já disse, isso não é um vício, eu só perdi o controle!
Ele olhou para um canto respirando cansado, depois um sorriso sem graça se mostrou.
