Como já dizia a música, o tempo não para, e a verdade é que o tempo sempre tem vários lados num mesmo relógio, então enquanto eu tentava descobrir que rumo o meu relacionamento a margem das leis morais – e contratuais – tomaria, minha família planejava um almoço com todos juntos... Todos mesmo, então meu pai convidou a mamãe, que foi acompanhada do seu novo namorado, o Rubens que foi acompanhando com sua fome insaciável, e a tia Mirian que levou a Lilica cor de fezes.
A mesa parecia uma verdadeira trincheira ao som de Carl Orff.
— Hm... Esse caldo de repolho e camarão está uma delícia. — Rubens balbuciou de boca cheia, só consegui decifrar por estar ao seu lado — E olhe que eu nem gosto de repolho.
— Obrigado — Eliza sorriu — Fui eu mesma quem preparei.
— Puf... Até parece — Tia Mirian revirou os olhos pegando a Lilica do chão e pondo em seu colo — O que você colocou aqui?
— Bom, foi um pouco de leite de coco, uma mistura de verduras e também uma pitada de açúcar pra deixar esse agridoce.
O que mais me causava vergonha alheia era que Eliza permanecia educada enquanto a titia fazia seu papel rude.
— Gosto estranho.
Mas é claro que ela não estava sozinha, a mamãe fez questão de também deixar clara a sua insatisfação com o pobre molho de camarão.
— De quem foi essa ideia da reunião em família? — perguntei baixinho para Bruno que estava ao meu lado.
— Acredite se quiser, da minha mãe, ela achou que por você estar morando aqui poderíamos apaziguar as coisas... Alguém quer vinho? — ele permanecia sereno com toda aquele clima, acho que o lance de ser diva é para poucos.
— Então Ricardo. — meu pai aceitou que Bruno o servisse enquanto ele se dirigia ao namorado da minha mãe — Quer dizer que você é terapeuta? Como conheceu a Alexia?
— Hm. — Ricardo não conseguiu manter a plenitude com essa pergunta e engasgou um pouco, mas se refez para responder — Ela era... Minha paciente.
Patrício arqueou a sobrancelha e mastigou lentamente encarando o meu novo padrasto.
— Isso não é antiético?
— Que curioso. — mamãe colocou o queixo sobre as duas mãos em forma de torre, eu conhecia aquela pose clínica. Droga! Vai começar — Você falando de ética, Patrício?
— Curioso é eu ter que te lembrar, você ainda é psicóloga, não é?
— Alguém quer pão? — Eliza levantou uma cesta fumegante que cheirava a padaria e goiabada, mas foi ignorada com sucesso.
— Não acredito que você está falando assuntos dessa natureza Patrício, vamos deixar isso mais bíblico e falar sobre adultério?
— Na verdade eu sou ateu. — meu pai rebateu.
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O Brilho da Tentação
RomanceApós uma sequência de acontecimentos ruins num único dia, o maior desejo de Henri era poder recomeçar a vida sem lembrar de quem lhe machucou e tentar ignorar o fato de ir estar morando com seu pai, com quem tem uma relação conturbada. Mas quem...