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Eu e Miranda não nos falamos depois daquela mensagem. Tentei escrever mil respostas mas nada encontrei. Tudo que escrevia parecia vago demais, nada comparado com a imensidão que me tomava, tudo ficava sem sentimentos e com isso decidi me calar. Já passava das duas da manhã quando finalmente consegui tomar um banho e dormir. Estava quase tudo pronto, apenas algumas roupas e coisas de cozinha faltavam ser encaixotadas.
Quando despertei já passava das 11 da manhã e minha barriga implorava por comer algo. Depois do café com Miranda comi apenas mais um misto quente no final da tarde.
Levantei, preparei um café e então meu dia pareceu parar quando voltei a encaixotar coisas e mais coisas.
Praticamente não dormi na madrugada. Não conseguia, estava muito ansiosa com a mudança. A última vez que fiz algo do tipo eram apenas algumas trocas de roupa, livros da faculdade e eu... Nada mais. Agora parecia uma vida. As caixas amontoadas próximas da porta apenas aumentavam e a ansiedade comigo também.
Eu me sentei no meio da sala, o chão já vazio e sem nada. Era 5 da manhã, em duas horas o caminhão chegaria e eu daria adeus a um lugar muito importante.
Foi ali que me descobri como mulher, foi naquela cozinha que aprendi a me virar sozinha, a fazer macarrão instantâneo e até mesmo a assar carnes no forno. Foi naquele banheiro que passei um dia inteiro trancada depois de meu primeiro porre, foi naquele quarto que deixei todas as lágrimas rolarem infinitas vezes e me descobri a mulher que sou hoje.
Foram quase 7 anos... Sete anos que pareciam 50.
Isso era assustador.
Mas mesmo com medo eu estava pronta para ir além.
Dizem que quando começamos a envelhecer começamos a perder o medo. Será?
Quando me mudei para cá não tinha medo de nada, tudo era novidade, eu era hétero (risos, muitos risos) estudava e fazia estágios para conseguir me sustentar sem precisar pedir auxílio aos meus pais. Agora, trabalhando, apaixonada por uma mulher, ganhando um salário que eu não esperava receber tão cedo, o medo da mudança me toma.
O caminhão chegou exatamente no horário previsto e após etiquetar todas as caixas antes do embarque vi quatro rapazes colocarem uma por uma dentro do veículo.
Quando todas estavam lá, prontas para irem rumo a uma nova vida, meus dedos envolveram a maçaneta da porta e ali foi o verdadeiro adeus. Respirei fundo, deixei que uma lágrima agradecida caísse e depois de todo o medo acabei sorrindo.
-Obrigada por tudo, Cubículo.
Eu parecia uma boba, uma grande boba chorona.
Miranda diria "não seja tola Andrea"...
E eu até concordo com ela.
É difícil aceitar que as mudanças possam ser para o bem quando tantas delas não foram.
.
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Quando adentrei o novo espaço, uma nostalgia mesclada com alegria me tomou por inteira.
Eu sorri.
E, não era um sorriso qualquer, era o sorriso de uma nova etapa iniciando, de uma nova caminhada, da vida me dando uma oportunidade diferente para seguir e fazer minhas escolhas.
O apartamento já estava um tanto mobiliado. A cozinha com uma pequena ilha, os armários em um tom de branco puríssimo... Era tudo muito diferente do meu antigo apartamento, tudo muito claro.
O quarto tinha uma grande cama centralizada frente a uma janela enorme, criados mudos de ambos os lados como se esperassem para receber uma foto bonita em um porta retrato.
A sala tinha um sofá escuro, quase tabaco. Uma poltrona de mesma cor e um tapete azul claro, um azul tão límpido e reconfortante que podia claramente me lembrar os olhos de Miranda.
E lá estava eu mais um vez pensando nela, pensando na beleza de seus olhos e de cada detalhe seu.
Com ela na mente, lembrando de algumas falas suas quando mesmo sozinha eu bancava a tola, comecei a tirar das caixas as poucas coisas que ficariam na sala. Porta retratos, um bibelô... Estava finalizando as coisas na sala, começando a abrir as caixas para guardas os pratos no armário da cozinha quando o interfone tocou.
Será que os móveis que deveriam chegar em três dias vieram antes? Não é possível!
Atendi o interfone as pressas.
-Sim?
-Trouxe comida, abra logo...
Eu só consegui sorrir. Isso e nada mais.
Era ela, Miranda dona-dos-meus-pensamentos-mais-impuros-e-de-todos-os-meus-desejos Priestly. Apertei o código, pude ouvir o portão se abrir e então meu coração começou a bater mais forte.
Ela estava vindo ao meu encontro. E mesmo tentando me conter sabia que não duraria muito... É difícil confessar, mas se tem uma coisa que eu estava, o nome disso era saudade.
Onde Clico para voltar sexta feira? Ou onde avanço para a próxima fase?
Ah Miranda... Você ainda vai me deixar louca... E eu aguardo ansiosamente por este dia.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora