Epílogo

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Acordo com a cama vazia. Sinto cheiro de café, mas não quero despertar.
Rolo no colchão, tento voltar a dormir mas logo a cama balança, a coberta começando a ser puxada para baixo, arrepiando minha pele mas acalentando-a logo depois com suaves beijos em meus ombros.

—Vamos lá, querida... Temos férias em família para iniciar...

Sua voz rouca: o melhor presente de todos as minhas manhãs. Um presente divino há cinco anos.

—Já acordou Antônio? —Sussurrei ainda com o rosto mergulhado no travesseiro. Ela sorriu contra minha pele, mordendo o local e voltando a beija-lo logo em seguida.

—Como se ele não estivesse despertado há duas horas atrás, não estivesse vestido e com suas malas no hall.

E então eu tive que sorrir, o nosso menino ansioso estava com saudades das irmãs.

Pois é, o Antônio.

Antônio foi nossa dúvida mais difícil, nossa incerteza sobre o que queríamos da vida. Faziam nove meses do casamento, o trabalho social de Cassidy após tentar roubar o carro da mãe para ir em uma festa, diante do caos que encontramos Antônio. O nosso pedido e desejo confuso em apenas um segundo. Bastou o primeiro olhar entre nós, apenas o sorriso brotando, o amor nascendo e logo sendo retribuido pelo mesmo ato. O nosso menino de pele morena, cabelos Black Power e os olhos mais verdes que já vi. Ele, a resposta de "você vai querer filhos em algum momento e eu estarei mais velha do que já sou," ou Talvez ao "Eu desejo ser mãe mas não quero parar a minha carreira," ou quem sabe ao "Sinto falta de uma criança nesta casa, vamos ter um bebê, Miranda?" E a certeza com o "Seria o paraíso ser a outra mãe do teu filho." Foram exatas duas semanas depois, em uma tarde de quarta feira quando fomos buscar a irmã rebelde no Abrigo onde ela recitava poesia e realizava leituras que o primeiro encontro aconteceu.

Duas horas depois saímos dali, nenhuma palavra direta trocada entre mim e Miranda, mas ao chegar em casa, no jantar milagrosamente em silencio com as meninas, ali eu já sabia que ela havia sentido o mesmo que o meu. Quando nos recostamos a cama, quando nossos olhares se encontraram, ela apenas me encarou com aquela imensidão azul e acenou em concordância. Eu sorri entre as lágrimas, eu concordei do mesmo modo e aquele foi um sim tão lindo quanto o de nosso casamento.

Duas semanas depois os documentos da adoção foram encaminhados. Dali em diante, Começamos a ir quatro vezes por semana ao Abrigo. Todos os dias conversávamos com Antônio, o menino tímido que arrancou sorrisos lindos de nós e que corava diante de atos afetivos. O garoto de três anos que ganhou meu coração e o de Miranda em apenas um olhar.

A confirmação da adoção foi o melhor presente de casamento de todos os tempos. Ele chegou quatro dias antes do casamento, quando eu e Miranda decidimos se iríamos ao teatro e depois faríamos amor como loucas ou se obrigaríamos Nígel a fazer algo com as meninas durante todo o final de semana.
Os planos foram cancelados quando Miranda ao atender o telefone, tencionou e logo levantou-se da cama com um sorriso, mas os olhos ainda surpresos. O sim ali também foi silencioso e naquela manhã nos amamos com toda a delicadeza, o sim, sim, sim, ecoando por toda a nossa pele enquanto nossos olhos diziam o mesmo.
Nossa fuga foi cancelada e em dois dias mobiliamos o quarto em tons de verde, palha e azul com dinossauros e florestas por todos os lados.

E no dia de nosso aniversário de casamento, Antônio chegou. O melhor presente de toda a minha vida.

—Vamos querida... —ela sussurrou em meu ouvido, me trazendo para a realidade presente.

Rolei na cama, seus cabelos bagunçados tinham o mesmo corte desde sempre eu definitivamente cultivava um amor platônico por ele.

—Feliz Aniversário de Casamento, meu amor. —Ela murmurou com seus olhos observando os meus.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora