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Quando cheguei ao trabalho, depois de um longo banho, depois de uma maquiagem bem feita e de ficar escolhendo uma roupa realmente elegante. Ao entrar no escritório, vi imediatamente Miranda já sentada em sua mesa falando ao telefone.
-Onde você estava, mulher? -questionou Amanda com os olhos arregalados. -Ela está uma fera! Parece que alguém na lavanderia manchou um de seus vestidos... Ela demitiu duas pessoas em menos de uma hora!
-Eu já falei, Amanda, você precisa ficar calma!
A garota concordou, sentou em sua mesa e então eu fiz o mesmo. Miranda estava furiosa ao telefone. Não conseguia ouvi-la, mas a maneira como seus lábios torciam, como ela apertava os dentes um contra os outros me dava a certeza de sua fúria. Me tirando do transe de observa-la sorrateiramente, um jovem entrou no escritório e caminhou até minha mesa.
-Tenho uma entrega para... -ele leu o envelope. -Miranda Priestly.
-Ok...
Peguei o envelope, o larguei sob a mesa e então assinei o recibo da correspondência.
Fiquei esperando que a ligação se encerrasse e isso não demorou a acontecer.
Peguei o pacote percebendo que não havia remetente e entrei em sua sala...
-Miranda... -lhe chamei a atenção, vendo-a fechar os olhos, bufar e tentando conter-se abrir os olhos para me encarar. Senti de imediato uma onda de desespero e energia ruim envolver toda a sala. -Chegou isso pra você...
Estiquei o envelope para ela que, respirando fundo mais uma vez, agradeceu e virou-se em sua cadeira.
-Isso é tudo.
Ok, chefinha... Pensei segurando um sorriso.
Menos de um minuto se passou quando Miranda chamou Amanda praticamente em um grito.
Pude ouvir quando ela ordenou a garota para algo no setor de moda e que ela fechasse a porta quando saísse.
Assim que Amanda saiu da Runway, inmediatamente comecei a organizar a reunião perdida de logo cedo... Perdida por uma boa causa, diria eu.
Mas... Pela primeira vez ouvi Miranda gritar. Aquilo me acertou em cheio.
-Você não ouse a fazer isso, eu destruo o resto disso que você chama de reputação! -ela realmente gritou, e eu... Eu congelei com a barriga encostada na mesa.
-Você está me desafiando?
Eu estava em choque.
Não sabia o que sequer pensar. Nunca, nunca vi Miranda gritar... Aquilo me atingiu de uma maneira grande demais para ser explicada.
E eu também não tive muito tempo para pensar, ela saiu de lá furiosa batendo a porta de vidro, fazendo eu me levantar rapidamente e pegar sua bolsa e casaco.
-Desmarque meus compromissos.
E saiu sem dizer nada mais.
E eu fiquei aí, sem nem saber como piscar direito.
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Eu já tinha ido almoçar, Amanda também e por incrível que pareça estávamos sem nada pra fazer, uma sentada de frente para a outra ora trocando assuntos do dia a dia, ora olhando para as paredes. Já passava das duas da tarde e Miranda ainda não havia retornado. Algo muito errado tinha acontecido. Durante seu tempo fora, o máximo que fizemos foi atender alguns telefonemas e anotar os recados. Ela não enviou mensagens, não fez ligação, não deu ordens... Absolutamente nada.
Eu já estava começando a entrar em pânico quando meu celular apitou e era ela.
"Tanto você quanto Amanda estão dispensadas por hoje. Não voltarei para a Runway."
Confesso ter lido a mensagem umas três vezes. Não era nem três da tarde ainda e isso sim deixava claro que amanhã isso aqui iria pegar fogo.
Após ajeitar minha mesa, ainda aguardei alguns minutos na esperança de receber alguma mensagem de Miranda mas nada chegou. Simplesmente peguei minha bolsa e fui para casa.
Chegando ao apartamento, as caixas amontoadas me lembravam da quantidade de coisas ainda pendente para organização. Troquei de roupa, vesti um casaco de moletom e fiquei apenas com ele e a calcinha arrumando as coisas pela casa.
A primeira coisa que fiz foi instalar o aparelho de som, ligando-o com uma música bastante agitada com a esperança de que me desse energia o suficiente para arrumar tudo.
E não é que funcionou?
Quando acabei tudo, inclusive o grande guarda-roupa, tomei um longo banho, realmente longo banho. Lavei os cabelos, fiz uma suave limpeza de pele, vesti uma camiseta, calcinha e meias... nada elegante. Com a toalha úmida ainda nos cabelos servi uma taça de vinho e troquei a rádio para algo mais suave, um blues que junto com o vinho me levou para outro mundo.
Fui tirada de meu transe quando o interfone tocou. Imediatamente olhei para o relógio na parede e verifiquei as horas. Já passava das 21. Atendi o interfone e não era ninguém mais ninguém menos que ela.
-Posso subir? -perguntou logo depois do meu "sim."
-É claro que você pode.
Eu nem me preocupei com minha roupa, apenas abria a porta e fiquei a esperando. Eu estava realmente feliz com sua visita, mas algo me dizia que não seria como eu esperava. E quando as portas se abriram eu tive certeza. Miranda estava com uma calça jeans, saltos habituais, um casaco e sem seus óculos escuros. Quando encarei seu rosto, ela estava com olheiras que eu jamais tinha visto, com os olhos inchados e vermelhos... Sem maquiagem e com uma aparência nada boa. Imediatamente eu murchei, ela veio em minha direção e antes que eu pudesse dizer um Olá ou coisa assim, ela já estava se abraçando contra meu corpo, beijando minha boca suavemente e mais uma vez se aninhando em meu abraço.
-Hey, hey... -Sussurrei acariciando suas costas. -O que aconteceu?
Ela se soltou de mim, entrou no apartamento e eu a segui fechando a porta logo depois.
-Queria lhe dizer que ainda não sei nomear as coisas que você me provoca, tudo o que sinto por ti... E de verdade, do fundo do meu coração, talvez de uma maneira que eu nunca tenha sentido tanto medo, espero que você não queira me deixar depois disso.
Eu não conseguia processar as palavras.
Em uma momento era praticamente uma declaração, em outro uma clara definição de desespero.
-Miranda, o que está acontecendo?
-Você vai me odiar, vai me odiar... -Sussurrou apoiando as mãos a cabeça, os olhos fechando com força, seu lábio tremendo em um ato de segurar o choro... Sua voz mais para si mesma do que para que eu ouvisse.
Eu caminhei até ela, seu receio me deixando elétrica, meu corpo reagindo ao medo de perde-la quase sem que eu me desse conta. Abracei Miranda, a envolvi em meus braços tentando transmitir alguma segurança.
Ela, mais rápido do que eu esperava acabou se acalmando. Me afastei, a olhei nos olhos e voltei a falar.
-Me diga o que aconteceu, me deixe entender...
Miranda se afastou, apoiou a bolsa na mesa de centro e de lá tirou um envelope me entregando logo em seguida. Eu já o tinha visto, era o envelope que ela recebeu pela manhã.
-Eu fui muito burra em não ter pensado nisso, eu...
-Miranda pelo amor de Deus, fique calma! -eu praticamente implorei. -O que é isso?
-Abra.
Eu nem pensei duas vezes. Abri o envelope e achei que ia desmaiar. Podia sentir a cor de meu rosto fugindo, meus olhos lacrimejando e tudo ficando turvo.
Eram fotos.
Nelas, claramente, eu jogada contra o sofá com Miranda entre minhas pernas com a boca exatamente em mim.
A próxima, era ela em meu colo, nossas bocas de encontro...
E ainda tinha mais uma... Nós duas nos beijando hoje pela manhã.
Eu não sabia o que dizer... As lágrimas começaram a correr por meu rosto e eu não tinha mais controle sobre elas.
-Miranda... Quem... Quem fez isso?
Minha voz era um misto de emoções como todo meu ser. Era raiva, desespero... Temor.
-Andrea... Eu...
-Quem foi, Miranda...
-Isso não...
-NÃO ME DIGA QUE ISSO NÃO IMPORTA POR QUE IMPORTA SIM!
Os olhos de Miranda arregalaram com meu grito enquanto eu ainda a via de forma embaçada por causa das lágrimas.
Ela não disse nada.
Respirei fundo, busquei o mínimo de sanidade ainda existente em mim e voltei a perguntar mais calmamente.
-Quem fez isso, Miranda? Foi seu ex marido?
Ela apenas balançou a cabeça em negação.
-Então quem foi? -Voltei a perguntar. -Eu estou tão exposta quanto você nisso, tenho o direito de saber quem foi, Miranda.
-Eu não me preocupo comigo, foda-se tudo... Eu me preocupo com você, com nós!
Miranda voltou a se exaltar e eu também não soube me conter.
-Então me diga quem foi!
-Foi Jaqueline.
Espera... Quem? Eu me acalmei diante de agora pelo menos ter um nome.
-Jaqueline?
E aí eu recordei quem era.
-Jaqueline que trabalha com o James Holt?
Miranda apenas balançou a cabeça em concordância.
-Por qual motivo? O que ela ganha com isso, pelo amor de Deus! Ela já não tem tudo o que quer?
-Eu e Jaqueline tivemos um relacionamento, Andrea.
E como se minha alma tivesse saído do corpo e parado para assistir do lado de fora dele sentada no sofá, eu pude ver as fotos caindo das minhas mãos, tudo ficando escuro enquanto eu caia de joelhos contra o piso em um choro que nem se quer de onde vinha eu sabia. Só doia... Eu me sentia enganada mesmo não parecendo isso, me sentia exposta, ferida, quase abusada. Doía... E a única forma que meu corpo achou de colocar aquela dor para fora foi em lágrimas.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora