Eu simplesmente não conseguia parar quieta dentro do quarto, muito menos tinha coragem de descer as escadas. O que estava acontecendo? Meu Deus!
Jamais esperava algo assim, algo tão... Grande. O que vou dizer para duas garotas de treze anos sobre namorar ou sei lá o quê a mãe delas? Isso é...
Eu já estava ficando louca, minhas mãos suadas e o corpo trêmulo quando Miranda entrou no quarto.
-Andrea, você sabe que eu... -ela já estava me repreendendo mas parou rapidamente quando percebeu meu nervosismo. -O que está acontecendo, querida?
-Eu... Eu... O que vou falar para suas filhas? Como elas... O que elas vão pensar, o que... Ah Miranda, eu não sei se consigo descer!
As palavras saíram de mim em um tom de puro desespero. Miranda com a expressão bastante assustada, caminhou até mim e simplesmente me abraçou, me acomodando aos seus braços.
-Hey, por qual motivo esse desespero todo?
Eu tentei segurar ao máximo, mas como se meus pensamentos tirassem sarro da minha cara, uma lágrima solitária caiu mas com ela veio um soluço.
Miranda afastou meu rosto que se escondia em seu pescoço, me olhou para ter pelo que notei a certeza de meus olhos vermelhos e então voltou a me abraçar.
-Eu já conversei com elas... Fique calma, querida. Já expliquei que você está aqui, já falei que estamos juntas e elas apenas pediram para que você descesse logo para elas lhe verem...
Aquilo me gelou inteira... Eu estava... Sem palavras.
-Você falou? -foi apenas o que saiu enquanto eu me afastava para observar seus olhos.
-Falei. -concordou. -Elas adoraram, disseram querer ver você mais vezes por aqui... -Miranda revirou os olhos ironicamente e então me abraçou carinhosa mais uma vez.
-Vamos, coloque seu robe e vamos descer, tem duas garotas impacientes a sua espera.
Eu apenas lhe entreguei um sorriso, vesti o robe par da camisola e então junto de Miranda desci as escadas.
-Acalme-se Andrea, por favor...
-Estou tentando, estou tentando...
Quando entramos na cozinha, um par de cabeças ruivas se viraram para nós encarar. Tanto Carol quanto Cass estavam sérias demais, aquilo foi como um... E agora?
Cass pareceu não se conter e começou a rir, logo sua irmã.
-Ok, chega disso Andy, venha nos dá um abraço.
Meu corpo inteiro amoleceu com aquela frase. Miranda apenas se sentou a ponta da mesa já servindo seu café enquanto as duas vinham em minha direção e me abraçavam.
Vi com a visão periférica que Miranda observava o ato de carinho entre mim e suas filhas e achei ainda mais bonito o pequeno sorriso que ela tentou conter.
-Ok, chega disso, sentem-se para tomar o café da manhã. -Disse ela pegando uma pequena fatia de mamão em um dos pratos.
Beijei cada uma das cabeleiras ruivas e então me sentei de frente para Caroline. Miranda na ponta da mesa, as meninas lado a lado e eu do lado oposto.
Servi uma xícara de café e foi apenas aquilo. Vi Miranda me repreendendo com o olhar por não comer nada mas ela não disse uma palavra.
-Vocês não vão nos contar como isso começou? -perguntou Cass.
-Apenas aconteceu, isso é tudo. -Disse Miranda as encarando exatamente como quando me repreendia.
-Qual é mamãe, não é assim que as coisas acontecem. -emendou Caroline. -As pessoas não se envolvem desta maneira.
-Digamos que sua mãe me seduziu, Carol... -murmurei em uma piscadela para as garotas que sorriram travessas mas logo ficaram sérias vendo a mãe pausar o ato de levar a xícara aos lábios.
-Digamos que foi o inverso. -Disse uma Miranda surpreendentemente irônica, uma ironia sem maldade.
Eu e as meninas acabamos sorrindo, e logo o café seguiu-se sem mais amenidades.
Quando o finalizamos, Miranda subiu para o andar de cima e me levou com ela. Nós não trocamos muitas palavras, apenas minha questão de "onde ficou minha calcinha," pergunta essa que arrancou um sorriso de Miranda e uma mordidinha no lábio.
Ela caminhou pelo quarto, abaixou-se ao pegar o tecido, o esticou para mim e quando fui pegá-lo ela o segurou.
-A troco por um beijo.
Aquilo me pegou em cheio. Não evitei sorrir, caminhei até ela, segurei com uma das mãos o tecido vermelho e com a outra segurei seu rosto a puxando para um beijo. Ela me envolveu em seus braços, me beijou a boca faminta e aquele era um gosto que eu morria de curiosidade... Miranda e café. E era ele delicioso como todos os outros.
Quem diria, não é? Eu aqui assim com ela...
-Nunca imaginei você assim, sabia? -acabei soltando.
-Eu assim como? -murmurou ela correndo sua boca de meus lábios para meu rosto. Então se afastou, encarou meus olhos ainda me mantendo em seu abraço.
-Assim, romântica, achando maneiras de pedir um beijo à mais...
Ela sorriu, mas logo a expressão de desfez e ela suspirou.
-Andrea, se tem uma coisa que eu amo, acredite, são demonstrações de afeto e carinho mútuo... Porém, como você bem sabe dos rumores... Eu não tive uma vida amorosa da maneira como sonhava. -comentou. -Nenhuma das pessoas com quem me envolvi aceitavam o fato de eu ser o lado que mais tinha poder, que mais tinha estabilidade financeira. Diante disso, preferi estar sozinha do que com alguém que não via meu crescimento e meu trabalho como algo bom.
Suas palavras me tomaram em cheio, eu não sabia o que dizer.
-Se você quer mesmo ficar comigo, se quer mesmo continuar com isso, acostume-se com beijos repentinos, com carícias não esperadas e com afeto. -continuou. -Sou mulher, sou formada de carne, osso e desejo como todas as outras.
-Eu sei... -Sussurei. Estava em uma inércia após a confissão repentina. -Eu só... -não sabia o que dizer. -Ah Miranda, só me beije, só me beije um pouco mais...
Miranda sorriu ainda me encarando, a calcinha foi esquecida em algum canto do quarto enquanto ela me envolvia em seus braços com mais força e me beijava delicadamente. Nossas bocas começaram a se encontrar macias, provando, provocando, e quando eu senti que ia desmoronar em seus braços, quando comecei a sentir o calor subindo por minhas pernas e estava pronta para implorar para que fosse mais que beijos...
-Oh céus! -gritou Cass. -Ainda estamos em casa, Santo Deus! -emendou Caroline.
-E deveriam bater na porta antes de entrar! -Soltou Miranda deixando duas garotas mais vermelhas que eu.
Miranda me soltou, abriu os braços para as filhas e elas vieram em sua direção.
-Não esqueça das suas apostilas da aula de piano... -sussurrou ela beijando o topo da cabeça de Caroline. -E nem você as suas do balé, Cass... -e deu então um beijo na cabeça da outra ruiva também.
Elas se soltaram da mãe, caminharam até mim e me abraçaram. As acolhi, acariciei seus cabelos e então quanto se afastaram Cass comentou...
-Foi maravilhoso ter você conosco no café da manhã, e adoramos... -aponta para mim e logo para sua mãe. -adotamos tudo isso.
-Concordo totalmente! -completa Caroline.
Eu apenas sorri, desejei uma boa aula para ambas e as vi saindo do quarto.
-Essas garotas... Já não são mais meus bebês... Estou ficando velha.
O que era para ser uma piada saiu da boca de Miranda com um tom pesaroso. Tom o qual não me agradou em nada.
-Não fale coisas assim, isso é um absurdo! -digo em um tom bravo.
Os olhos de Miranda no mesmo instante estalam me fuzilando e imediatamente minhas pernas ficam bambas.
-Você é uma audaciosa, Andrea... -murmura ela.
-Quando você falar esse tipo de coisa em um tom que não seja de sarcasmo serei audaciosa o máximo que puder lhe repreendendo.
Miranda suavizou sua expressão diante das minhas palavras, levou seu corpo para perto do meu e quando pensei que ela me beijaria mais uma vez, apenas mordeu o lábio e foi para o banheiro.
Quando saiu de lá, pouco tempo depois, a maquiagem estava perfeita e enquanto eu brigava para fechar meu vestido ela apareceu.
Eu não precisei falar nada, ela apenas se aproximou, apoiou seus dedos em minhas costas e fechou o bendito vestido.
Mas então...
Senti sua respiração em minha nuca, senti seus lábios próximos dela louca depois e quase por instinto me virei para encara-la.
Ela fez menção de me beijar mais uma vez, senti sua respiração mudando, vi sua língua correndo pelos lábios os umidecendo mas ela não o fez.
-Vamos lá, vou te levar para casa, já estamos atrasadas..
.
.Quando o carro parou frente ao meu apartamento novo, Miranda não hesitou em me beijar. Só pude ouvir o som do seu cinto de segurança sendo solto e logo depois sua mão segurando em minha nuca e seus lábios indo de encontro aos meus.
Retribuí cada toque de sua boca na minha, nos afastamos relutantes quando ouvimos a buzina de um carro distante.
-Espero que tenha um dia de trabalho excelente, querida... -me sussurrou ela ainda com a boca próxima da minha, um tom completamente de brincadeira e nada Miranda rainha de gelo.
-Com a chefe que eu tenho acho bem difícil... -respondi no mesmo tom, seus olhos se estreitando logo ao fim de minha frase, sua boca desenhando um sorriso e eu morrendo de amores.
-Andrea, Andrea... Deveria te castigar por falar isso...
-Ah é? -me atrevi.
-Sem dúvidas.
-Então tudo bem, vou esperar ansiosa o castigo.
Miranda gargalhou, sua boca voltou a encontrar-se com a minha e parecia que cada um de nossos beijos eram mais intensos, mais profundos, mais entregue.
Ela se afastou, limpou a garganta e então voltou a colocar seu cinto.
-Vá Andrea, vá...
Eu apenas sorri, peguei minha bolsa no banco de trás e sai do carro.
O dia seria longo e com certeza eu teria dificuldade em me concentrar depois de tantas coisas ouvidas, tantas trocas de carinho, tantas camadas expostas daquela mulher incrível que eu amo... E sim, eu tinha certeza, já não era mais paixão, eu não estava apenas apaixonada por Miranda... Eu estava a amando de uma forma sublime demais para ser explicada.
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Recontratada [CONCLUÍDA]
FanfictionAndrea jamais imaginou que tudo aquilo que fazia por Miranda ia muito além do trabalho. Depois de partir praticamente sem olhar para trás, o peso do arrependimento a envolveu e logo ela se deu conta do motivo: Estava apaixonada por Miranda Priestly...