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Miranda estava com meu roupão sentada na cozinha escolhendo alguma música no celular para ouvirmos enquanto eu cozinhava. Fiquei surpreendida quando ela perguntou se podíamos almoçar juntas e aqui. Sua atitude me deixou surpresa e muito contente.
Fui a um mercado enquanto ela tomava banho e comprei algumas coisas pra fazer como legumes frescos (coisa que quase nunca tenho em casa) e alguns temperos que faltavam.
Acabei fazendo uma salada fria de grãos com ricota e legumes fresquinhos.
Estava quase tudo pronto, tocava Madonna no celular de Miranda e o tempo quase parou quando ela cantou o trecho de uma música.
Jamais.
Nunca.
Never.
Se alguém me falasse isso eu ficaria realmente chocada e talvez nem acreditasse, mas sim, Miranda estava cantando.
Eu continuei cozinhando, fingindo que nem via nada daquilo... Estava bom demais pra ser interrompida.
Miranda de levantou, colocou os pratos, talheres, guardanapos, tudo na mesa para nosso almoço.
Confesso ter achado lindo ela abrindo a geladeira para pegar o suco, observando o que tinha dentro da caixa fria. Eu já me preparava para uma bronca, mas nada aconteceu.
Ela já havia saído do meu campo de visão, mas logo senti seus dedos abraçarem minha cintura por cima da calça jeans, logo seus braços me envolvendo como um todo, ela me segurando firme.
-Hm... Posso me acostumar a isso... -digo-lhe em tom de brincadeira mas confesso ser uma verdade. Eu realmente poderia me acostumar com essas demonstrações de afeto, as carícias... Tudo.
-Pois então se acostume. -Sussurra ela dando um suave beijo em minha nuca.
-Vamos almoçar?

.
.
.

Almoçamos sem dizer muita coisa. Logo depois, Miranda vestiu-se e nos sentamos no sofá da sala daquele jeito na qual eu havia me apaixonado ficar ali com ela: Miranda recostada ao braço do sofá, eu entre suas pernas apoiada ao seu peito. É maravilhoso sentir o arrepio que meu corpo produz quando ela respira em meu pescoço.
Mesmo com a delícia de nossa noite, mesmo com o ótimo despertar a conversa sobre assumirmos nosso relacionamento perante tudo e todos me atordoava. Decidi falar, não ia guardar tudo isso e acabar nos prejudicando.
-Miranda...
-Hm?
-Você ficaria magoada, ou... Ou não sei, se... Se nós guardassemos o que temos um pouco mais?
O carinho que ela fazia em minha barriga parou automaticamente.
-Por qual motivo continuaríamos a nos escondendo?
Seu tom de voz era frio, ela estava confusa, eu podia sentir.
-Não é por exatamente nos esconder, Miranda. -murmuro. Necessitando ver seus olhos, acabo me movendo para ficarmos uma de frente para a outra e então continuo: -Eu... Eu ainda não sei como responder as perguntas, eu ainda não sei como meus pais irão reagir...
Miranda me encara impassível... E então aquele bico torto aparece.
-Ah não, Miranda... -bufo frustrada.
-O que foi? -pergunta com os olhos estalados em minha direção.
-Você está pensando besteiras! E não tem nada a ver com o que temos, com o que sinto por você, eu só... Preciso saber como falar com meus pais, tudo bem?
Miranda revira os olhos e volta a me encarar.
Já não consigo ler suas expressões.
-E eu sei dizer não pra você? -murmura com tom de desprezo mas logo depois sorri, aquele sorriso gostoso de canto que me faz derreter todinha.
Ela me puxa para seus braços e então me acomodo ali por alguns minutos.
-Só... Não demore com isso, tudo bem?
Eu balanço a cabeça em concordância, aperto Miranda em ainda mais forte contra mim e me deixo navegar na delícia do seu cheiro.
-Apenas tenho uma condição para isso tudo. -sussurra ela em meu ouvido, aquele calafrio me inundando. Ai. Meu. Deus.
-E qual seria?
Me sinto até ingênua com tal pergunta... Coisa boa que não será, não é mesmo?
-Nós... -diz baixinho, se encolhe e beija meu pescoço.
Eu começo a derreter com a simples sensação de sua respiração em meu ouvido.
-Nós não vamos transar enquanto você precisa desse tempo a mais para saber falar...
Eu imediatamente me afasto.
Miranda tem as pupilas dilatadas em pura maldade, os lábios torcidos de quem planeja algo e eu chego a temblar inteira.
-Miranda, Miranda, Miranda! -protesto. -Você vai me fazer penar não é?
Ela apenas ri, seus olhos se fecham por um instante e então ela levanta pegando sua bolsa da mesa de centro.
-Te vejo no trabalho, querida...
E sem me olhar ela segue em direção a porta. Eu levanto rapidamente, corro até lá e paro frente a porta.
Miranda revira os olhos, me encara e então eu apenas balanço a cabeça lentamente em negação.
-Qual o problema, Andrea? -sussurra estendendo meu nome daquele jeito dela, naquela pronúncia que me incendeia.
-Você não vai me dar um beijo antes de ir? -perguntou baixinho.
-Você não vai ir trabalhar?
-Vou, claro que vou. -respondo rapidamente. -Mas você não vai me beijar no trabalho, vai?
Miranda desvia o olhar, sorri maldosa e então volta a me encarar. Ela se aproxima, um, dois três passos de mim. Nossas bocas ficam próximas demais, seu olhar me incendeia e eu não tenho coragem de me mover. Miranda levanta sua mão, passa seu indicador contra meu nariz, desce por meus lábios e então toca com delicadeza meus lábios...
-Se já estivéssemos assumido nossa relação, eu poderia sim lhe beijar no trabalho. Isso é tudo.
E segurando uma Andrea mole para tirá-la de frente a porta, Miranda girou a maçaneta logo depois e foi embora com o gostinho de vitória.
-Merda... Merda.
Eu só sabia praguejar, mas dentro de mim eu só sabia rir. Se era guerra que ela queria, guerra ela teria.
A Guerra é uma via de mão dupla onde ambos precisam jogar, não é?
Ela poderia não me tocar, mas eu faria o possível para vê-la desabar de desejo com isso também.
Decido mudar de roupa para ir trabalhar. Visto meia sete oitavos, conjunto da clássica La Perla totalmente preto, um vestido vermelho quase indecente, botas da Chanel e longo casaco preto.
Mais forte do que eu, a tensão me toma e acabo colocando um batom mais escuro que o habitual.
Queria ver realmente Miranda cumprir o que disse... Ah, eu realmente queria.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora