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Havia passado uma semana desde que Miranda assumiu tudo o que tínhamos. Uma semana que fomos abordadas daquela maneira tão... Estranha.
O dia estava se encerrando, Miranda estava presa entre uma reunião e outra, nesta estava desde as 4 da tarde. Eu já havia organizado tudo, a agenda do dia seguinte, as roupas da lavanderia, as etiquetas para as fotos de amanhã, uma base de pesquisa para o trabalho de história semestral das meninas. Tudo estava tranquilo até que Miranda entrou bufando dentro do escritório e passou por mim como se não me visse. Ela pegou algumas coisas na mesa, voltou rapidamente pegando seu casaco sua bolsa sem sequer me pedir algo e quando já estava no elevador apenas se voltou me encarando por detrás dos óculos escuros.
-Você já pode ir pra casa, Andrea.
Eu nem consegui responder, meus olhos se encheram de lágrimas rápido demais e as portas do elevador se fecharam logo depois.
Miranda estava muito, muito estranha. Ontem, quando saímos daqui, ela me abraçou tão forte, tão... Intensa, que eu mal tive palavras pra demonstrar o mesmo, apenas a abracei de volta. Hoje era aquele dia da semana em que ficaríamos juntas, que dormiriamos coladas uma na outra e ela simplesmente me mandou para casa, simplesmente me dispensou. Algo não estava bem.
Deixei minha mesa organizada e então sai da Runway indo pra casa.
Durante o caminho tentei pensar em mim coisas que pudessem explicar a mudança tão drástica de Miranda comigo em menos de uma semana.
Ela estava distante, acordei várias vezes nas três noites em que possamos juntas com ela fora da cama. Em uma determinada madrugada, a encontrei sentada a beira da piscina praticamente bêbada dizendo que nos machucariamos se continuassemos naquilo. No dia seguinte tentei argumentar algo sobre o assunto entre uma dose e outra de anestésico, mas ela apenas afirmou não se lembrar de nada e me pediu desculpas.
Depois do meu longo banho, da calcinha e camiseta de algodão e as minhas amadas pantufas, me sentei na sala beliscando alguns petiscos enquanto assistia um programa de audições musicais.
Minha cabeça estava tão conturbada que me negava a pensar em alguma coisa que não fosse naquela televisão. Até que meu telefone tocou e me tirou de meu refúgio. Era minha mãe.
Atendi rapidamente.
-Mãe?
-Oi filha... Como você está?
Confesso que fiquei surpresa tamanha tentativa de naturalidade.
-Bem, -menti pra nós duas. -E vocês?
-Tudo tranquilo na medida do possível. E o trabalho?
Eu tive que respirar fundo... Amo meus pais, amo minha mãe, mas a forma como fui tratada em nossas últimas ligações me deixaram bastante machucada.
-Qual o problema, mamãe?
Ela respirou fundo também.
-Eu não quero que pense que não amamos você ou qualquer outra coisa por não... Não apoiarmos seu namoro ou sei lá...
-Mãe... -eu a cortei rapidamente. -Não termine, ok? Eu sei que não vão deixar de me amar, e não preciso que apóiem isso, apenas que respeitem. Amo Miranda, amo ela como nunca amei outra pessoa. Se eu fiquei apavorada quando descobri isso? Muito. Não se domina sentimentos mãe e você sabe bem disso. -Pronunciei uma tempestade em forma de calmaria, tentando ao máximo não jogar todo meu dia estranho em minha mãe.
-Eu só quero... Que você seja feliz, minha filha.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e então ela respirou fundo e e voltou a falar.
-Eu estava pensando em ir lhe ver no final de semana que vem... O que você acha?
-Por mim tudo bem. -respondi rapidamente, mas logo pensei em coisas que não gostaria e fiquei com a mente um tanto turva. -Só me avise os horários certinhos pra que eu possa conciliar com o trabalho.
-Tudo bem.
Mamãe suspirou, eu não sabia o que falar.
-Eu vou desligar, ok? Boa noite pra você meu bebê, eu te amo.
E ali eu dei o primeiro sorriso do dia.
-Boa noite mãe... E eu também amo você. Até.
Quando a ligação se encerrou, fiquei olhando o telefone já com sua tela escura enquanto as lágrimas caiam sem muito controle. Deixei que toda essa angústia ainda sem nome se esvaisse por algum lugar.
Eu não sei em qual momento peguei no sono ali no sofá mesmo, acordei sentindo muito frio e com a escuridão me envolvendo. Verifiquei as horas e ao levantar do sofá uma dor de cabeça sem medidas se apossou latejando por meu corpo inteiro. Fui até a cozinha, peguei a caixa de medicamentos e tomei alguns analgésicos na esperança de pelo menos conseguir dormir novamente. Fui para o quarto, me enrolei na coberta com cheiro de Miranda e deixei que os remédios fizessem seu trabalho, algo que felizmente não demorou muito.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora