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Que saco!
O dia só não estava mais lento por falta de espaço.
Hoje era o dia tão especial que Miranda receberia alta.
Sexta-feira... Quatro dias sem vê-la. Saudade? Saudade era apelido! Queria abraça-la firme e nunca mais soltar.
Eu estava maluca!
Arrumei tudo o que ela pediu, deixei separado roupa, sapato, óculos e lenço. Tudo perfeito, nas devidas sacolas já sendo encaminhadas para o hospital.
Depois de uma conversa com as meninas na noite anterior, decidimos que elas iriam para a casa da avó antes que Miranda chegasse, voltando no sábado antes do almoço. Elas, muito antes que eu falasse algo, concordaram em deixar a mãe "se readaptar" na casa, ficar tranquila depois da alta.
Já se passava das três da tarde e não tinha recebido ligação alguma do hospital para buscá-la. Estava ficando aflita.
Encerrei uma reunião com o departamento de arte -e com todos aqueles olhos que pareciam no momento me odiar- e correndo para a sala de Miranda verifiquei celulares, e-mail... Tudo. Nada dela.
Sentar naquela cadeira onde tantas vezes a vi, onde tantas vezes desejei sentar em seu colo e abraça-la forte contra meu peito era quase uma tortura. Aquela sala parece sempre ter o cheiro dela impregnado ali, parece que vultos de suas ações invadem cada milímetro do espaço e as vezes se torna impossível pensar em algo com flashs seus me inundando a mente.
Fui tirada de meus devaneios com o telefone a tocar na mesa que era minha, porém o atendi ali mesmo.
-Escritório da Miranda Priestly...
-Hm, mais para Escritório da Andrea Sachs no momento, não acha?
QUE TIRO!
-Miranda!
-Oi, meu bem...
-Meu Deus, que delícia ouvir tua voz... Eu... Eu...
Podia sentir ali as lágrimas começarem a queimar meu rosto.
-Está com saudades, querida? Pois eu estou...
-Ah Mira... Que horas poderei te buscar, te ver?
-Me buscar você não pode mais, pois acabei de chegar em casa, tomar um banho e fazer uma xícara de café... Agora me ver... Você pode quando quiser.
-Você está em casa? Por quê não me avisou? Eu...
-Não lhe avisei por não precisar. -me cortou com suas palavras em um tom deliciosamente doce. -Você estava ocupada e Roy já estava lá mesmo.
-Eu... Vou encerrar as coisas aqui e vou para casa, tudo bem?
-Hmm, ótimo.
-Isso é tudo, então.
Ela riu, aquele riso que me invadia cada centímetro de pele, que me ascendia, me fazia ver seu rosto em cada uma de minhas lembranças. 
Organizei apressadamente a sala e pegando casaco e bolsa sai correndo de lá. Tentava me conter, segurar tranquilamente essa vontade toda de abraça-la contra mim e não solta-la tão cedo.
Entrei no carro com o sorriso mais bobo do mundo e Roy imediatamente me devolveu ele, sabendo que agora eu estava tranquila com isso tudo da cirurgia. Estava tranquila por saber que tudo deu certo.
Passei em casa primeiro, peguei algumas roupas para o dia seguinte de trabalho e logo voltei para o carro rumo a casa de Miranda.
Quando finalmente entrei na casa, tudo ali já parecia ter uma cor diferente. A presença dela inundava tudo de uma sensação incrível, quase como o gosto da vitória.
Caminhei pelo corredor e meus olhos adoraram encontrar uma Miranda aparentemente bem, de óculos escuros e segurando uma xícara de café na cozinha.
-Miranda!
Eu quase gritei... Literalmente.
Soltei bolsa, casaco, o livro... Tudo. Me obriguei a conter grande parte da vontade de aperta-la mas só o fato de sentir seu corpo contra o meu foi delicioso.
Miranda me abraçou, logo segurou meu rosto com ambas as mãos e então sua boca encontrou a minha.
Oh céus... Naquele momento meu corpo inteiro pareceu acordar de um sono profundo, abraçando-a de volta, correspondendo seu beijo e falando pela sei lá qual vez sem palavra alguma o quanto eu a amava... E o quanto estava feliz de tê-la ali realmente bem.
-Estou tão feliz que tudo deu certo. -confeso ao me afastar apenas um pouco, apenas o suficiente para ver seus traços, por ansiar ainda mais ver seus olhos novamente.
Miranda sorriu, me beijou novamente e tudo pareceu além de voltar a ganhar cor, ganhou brilho.

.
.
.

Se passou uma semana desde que Miranda havia voltado para casa e finalmente eu havia também voltado para meu cargo na Runway. Miranda ainda estava trabalhando em casa, tentava voltar a sua total rotina e por diversas vezes quase chegamos ao ponto de discutir por isso. Milagrosamente as meninas pareciam sentir tudo e era nesses instantes que a calmaria voltava a reinar.
Cheguei da revista aproximadamente nove horas da noite, logo após uma reunião na qual representei Miranda, mesmo ela estando na reunião via vídeo conferência.
Encontrei Miranda e as meninas na sala, após um filme na qual Miranda sequer deveria estar vendo mas mesmo assim não a repreendi... Não com palavras.
Eu estava completamente ciente de que para ela aquilo tudo era uma situação totalmente fora de seu habitual. Ela jamais saia do controle de algo, e agora com o tratamento parecia perder o controle até de si mesma... E isso sem dúvidas estava abalando-a mais do que até ela mesma imaginou.
Depois de um bom banho, de jantar acompanhada das meninas e de minha amada (mesmo comendo sozinha devido ao horário) de colocar duas garotas que pareciam estar crescendo rápido demais na cama e de me preparar para dormir, parecia que finalmente eu poderia ficar um pouco com Miranda... No caso, a melhor parte do meu dia.
Ajudei-a no banho, a parte aquela que eu sentia a cada segundo seu corpo inteiro se contendo para não me fuzilar, o momento em que talvez Miranda nunca se sentiu tão desconfortável na vida. Tentava mesmo assim que levar tudo numa boa, com alguns beijinhos entre um momento e outro e até alguns suspiros quando nossas peles se tocavam e pareciam enviar ondas por todo o resto do corpo.
-Miranda, você está insuportável, sabia? Acho que você está precisando transar... -sussurrei entre um sorriso, acomodando os travesseiros na cabeceira da cama enquanto ela tirava o robe para se deitar.
-Talvez eu esteja mesmo... Já que minha namorada me trata como uma inválida. -reclamou cruzando os braços, apertando-os contra o corpo e fazendo-me encarar fixamente seus seios que pareciam implorar por minha boca contra o tecido da camisola.
Aquilo era demais...
-Não estou te tratando como uma inválida, apenas quero que você fique bem logo... -respondi erguendo as cobertas, entrando debaixo delas e chamando Miranda para meu lado.
Ela bufou, porém apagou a luz principal, ajustou a claridade do abajur ao seu lado, tirou o óculos escuro ainda necessário e então se deitou ao meu lado.
Eu queria abraça-la e não soltar mais.
-Miranda...
Comecei a falar, mas ela me cortou. Sua mão agarrou a minha fazendo toda minha fala elaborada desaparecer e então ela arrastou minha mão por seu corpo, guiando meus dedos para seus seios fazendo-me aperta-los gentilmente.
-E se eu precisar de mais que cuidados para ficar bem, se eu precisar de você para ficar bem, dos seus carinhos, da sua pele... Você me ajudaria, Andrea?
Aquilo só podia ser uma tentação divina, só podia ser uma provação de Deus tentando me dizer que eu ia pagar caro por desestabilizar a vida dessa Mulher...
Seus dedos voltaram a guiar minha mão por seu corpo, correu até onde borda da sua calcinha resvalava contra a ponta de meus dedos e então apertou minha mão ali.
Santo Deus... Ela estava... Ela estava... Molhada.
Isso é loucura.
-Miranda, você está em tratamento... E...
-Eu preciso de você, Andrea... Preciso de você... Não faça isso comigo, não me deixe te desejando deste modo. Eu estou bem, bem o suficiente para querer amar você esta noite.
Ela encarou meus olhos no meio da quase escuridão, pressionou novamente meus dedos entre suas pernas e então os levou até sua boca, beijando suavemente cada um deles.
-Você não vê, querida? Você, aqui... Você é o meu remédio... Você já curou todas as minhas dores, não há com o que se preocupar.
Sua frase me encheu de um sentimento novo.
Aquela Miranda que eu sempre disse que parecia apenas eu conhecer, agora revelava mais uma de suas camadas. Sua frase não me dizia sobre seu tratamento, ela me dizia sobre tudo o que já viveu, sobre as dores do amor, da perda... De tudo.
Eu pude ver em seus olhos, ela implorava para que eu confiasse nela e que a amasse como tanto estava me segurando.
E eu confiei.
Suavemente, cobri o corpo dela com o meu e foi ali que pude observar seus olhos tão de perto.
Eles não mudaram exatamente em nada e ainda tinham também o poder de me enfeitiçar.
Mas então Miranda correu suas mãos por meu corpo, me prendeu contra ela e sua língua passou suavemente contra os lábios e me deixou maluca.
Nossas bocas se encontraram de uma forma tão suave que eu pude sentir como se meu corpo flutuasse.
Ali, com ela, nos braços dela, sentindo tudo isso... Era como se meu céu voltasse a ter luz.
Miranda definitivamente era as estrelas do meu céu.
Clichê, mas não havia naquele instante definição melhor para representar o tanto que amor essa mulher.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora