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Eu realmente estava ciente que depois do beijo que eu e Miranda trocamos frente a Roy e de nossa conversa quando ele me buscou que não iria demorar muito para nosso relacionamento se tornar o assunto principal da Runway. Era pesado pensar desta forma, pesado pensar nos julgamentos, mas com Miranda do meu lado eu já não me importava muito, não fazia diferença. Tudo o que eu queria era apenas estar do seu lado e cada vez mais feliz. E depois do beijo que lhe dei frente a Amanda... Eu já sabia que isso que temos ia se espalhar como fogo na palha.
Quando Miranda saiu para o almoço, pude claramente ver os olhos de Amanda estalados esperando por não perder momento algum do que poderia acontecer. Mas, ela foi enganada. Nada aconteceu. Miranda pediu seu casaco e bolsa, logo saindo para o elevador. Eu tinha plena certeza que ela ainda não havia chegado ao térreo quando Emily e Nígel entraram ali e vieram diretamente em minha direção.
-Sua... Mentirosa! -Disse ele um tanto alarmado porém com um sorriso. -Você nos enganou bem demais!
-Não sabemos se ficamos orgulhosos ou se espancamos você. -completou Emily.
-Do quê vocês estão falando? -me fiz de desentendida encarando todos com a expressão mais surpresa possível. Mas quando ambos se encararam eu não me contive e cai no riso.
-Vocês estão mesmo juntas, então é verdade!? -Disse Emily sentando-se na ponta de minha mesa.
Eu apenas balancei a cabeça em concordância.
-Eu estou chocada... -Emendou a ruiva.
-Você está? -Se pronunciou Amanda. -Imaginem eu, aqui, falando mal da Miranda pra ela... -dufou, logo um suspiro. -Oh Deus, já posso ver minha carta de demissão...
Todos nós acabamos rindo. Acabei concluindo que o que eu e Miranda temos simplesmente aconteceu. Na verdade, não havia muito o que pudesse ser dito sobre isso, não achava maneira de explicar tal sentimento e sua grandeza.

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O dia pareceu se arrastar.
Depois do almoço, Miranda ficou presa em uma reunião e já começava a anoitecer quando Amanda começou a ficar impaciente. Tomei a liberdade de dispensar a garota, afinal, uma ficar olhando para a cara da outra não era algo que iria resolver nossos problemas vulgo acelerar a reunião.
A garota chegou a respirar aliviada quando entrou no elevador. Eu fiquei ali, observando as paredes depois de uma vez mais revisar a agenda de Miranda para o restante da semana.
O telefone tocou fazendo-me saltar da cadeira. Atendi formalmente como sempre e fui inundada de uma calmaria quando ouvi a voz de Cass.
-Mamãe ainda está trabalhando? -perguntou a garota, mesmo sabendo a resposta.
-Sim querida... Ela está em uma reunião.
-Vai demorar, -ela suspirou. -Vai demorar como sempre, não vai?
-Deixe-me falar com ela, Cass... -resmungou Caroline.
-Mas eu estou falando agora...
-Cass!
-Tá, tá... Tudo bem.
-Andy?
-Sim?
-Você ainda virá jantar conosco?
Como responder algo que eu não sabia?
-Eu acredito que sim, mas já não tenho mais certeza...
O que eu diria? Merda. Miranda estava demorando demais com essa reunião, coisa que eu acreditei que seria rápida.
-Se você não for jantar conosco, pelo menos venha mais tarde, venha para assistirmos um filme... -murmurou a garota. -Gostariamos mesmo que você passasse um pouco mais do seu aniversário conosco.
Aquilo me encheu o coração.
Naquele mesmo instante, quando ia respondê-las, Miranda entrou porta a dentro com o rosto praticamente em uma expressão irada, ela parecia estar em uma guerra interna.
-Olha, a mãe de vocês acabou de chegar, verei isso e aviso vocês, tudo bem?
-Ok Andy, até logo... E... -ela pareceu pensar um pouco. -Feliz Aniversário mais uma vez.
-Obrigada, querida.
Quando desliguei o telefone, Miranda me encarava com olhos gélidos, mas ela parecia tentar mudar sua expressão. Era nítido que algo bom não saiu da reunião.
-Vamos para casa? Ainda tenho um jantar a fazer... -Disse em tom baixo, logo indo até sua sala e pegando suas coisas.
Eu rapidamente me levantei, peguei sua bolsa e casaco, já esperando-a com eles em mãos.
-Miranda... Eu... -Ela parou em minha frente, me encarou daquele jeito capaz de fuzilar alguém esperando que eu falasse algo. -Nós podemos deixar o jantar para outro dia se você não está bem e...
-Nem pensar, não vou deixar que besteiras de pessoas com mente vazia estraguem nosso jantar. Vamos logo.
Ela vestiu o casaco, jogou suas coisas dentro da bolsa e sem hesitar, logo que peguei minhas coisas, ela me puxou para dentro do elevador com ela.
-Dividindo elevador, Miranda?
A expressão dela suavisou, apareceu aquele bico torto desta vez contendo um sorriso.
-Não seja tola, Andrea.
Apertei o botão do térreo, vi as portas do elevador se fecharem e quando saímos da caixa de aço, tudo o que pude ver era todos os olhares voltados para nós. Miranda não recuou. Ela agarrou meu braço, o envolveu com o seu e praticamente me arrastou para dentro do carro. Eu não mais olhei para os lados, apenas esperei ela entrar e fiz a mesma coisa logo depois.
Já rumo a sua casa, Miranda tirou os óculos, esfregou os olhos e então suspirou fundo buscando logo depois minhas mãos.
Eu precisava perguntar.
-O que aconteceu? Você não me parece bem.
Miranda respirou fundo, guardou seus óculos na bolsa e então me encarou.
-Metade da reunião foi sobre minha vida, sobre minhas escolhas, sobre nós... -contou.
Aquilo me deixou completamente mole.
-Odeio, tenho pavor extremo quando se metem na minha vida... Ainda mais assim, da forma que foi.
-Miranda, você sabia que isso ia ser difícil, que...
-Eles pediram que você fosse demitida.
Foi aí então que o balde de água fria caiu em minha cabeça.
Miranda acariciou meus dedos, os levou até a boca beijando-os e logo depois sorriu.
-Óbvio que isso não vai acontecer. -Disse firme.
-Se isso for melhor pra nós eu posso procurar emprego em outro lugar, não vamos...
-Nem pense nisso. -praticamente sibilou ela. -Quando falei que você ia muito além de uma recontratação era verdade sim, mas você faz seu trabalho muito melhor que muita gente naquela revista, você não foi Recontratada apenas por que eu queria e quero você.
-Miranda...
-Sem mais, Andrea. Eles quiseram me afrontar com isso e conseguiram, deixei claro que se voltarem a se meter em minha vida, que se voltarem a citar algo do tipo, não será você a demitida. Deixei bem claro que já não me importo se fará bem ou mal a revista, não vou deixar de ter minha vida por mesquinharia da parte deles.
Eu não sabia o que dizer, não sabia o que responder. Suas palavras me tiraram de órbita, eu pude sentir as lágrimas querendo brotar e me contive ao máximo. Meus olhos começaram a arder, me virei para mirar janela a fora e sem querer uma das covardes lágrimas cristalinas caiu.
-Não chore, não gaste energia pensando nisso.
Ela falou em um tom baixo, quase inaudível e então me puxou para ela, soltou meu cinto de segurança e me abraçou firme.
-Não falei que estaríamos juntas independente da opinião alheia? Então não se preocupe, ok? Não se preocupe.
Eu fiquei em silêncio, não sabia mesmo o que falar. Fiquei acomodada ao corpo de Miranda, podia sentir o turbilhão de informações me consumindo mas eu estava cansada demais para pensar. Quando meu corpo começou a amolecer, quando meus olhos pesaram e eu estava quase os fechando, senti o carro parar e os dedos de Miranda acariciaram meus cabelos.
-Vamos que ainda preciso fazer um jantar para a senhorita.

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Miranda havia tomado um banho, vestia uma calça jeans, chinelos simples e uma blusa de mangas longas cor de vinho. Eu havia acabado de tomar meu banho também quando desci as escadas indo em direção a cozinha e três pares de olhos se voltaram em minha direção. Caroline e Cass fizeram uma cara de quem não aprovavam meu modelito, já Miranda apenas deu um meio sorriso e voltou a mexer em algo nas panelas.
-O que foi, é meu aniversário, posso vestir o que quiser hoje. -reclamei mas sorri logo depois.
-Vamos lhe perdoar, mas só hoje. -Disse Cass.
Eu estava usando as pantufas de Miranda, uma calça de moletom e camiseta larga de alguma marca que já nem existia mais. Eu confesso estar horrível, mas estava confortável, estava relaxada ali e tentava de verdade esquecer o conflito de Miranda na reunião.
-Andrea, poderia pegar um vinho para nós? -Disse Miranda sem me olhar, ainda focada no que fazia.
Fui até a adega, peguei o mesmo vinho que lembro tomarmos no dia em que jantamos sozinhas aqui, agarrei as taças e fui para a cozinha outra vez. Abri a garrafa, servi ambas as taças e entreguei uma delas para Miranda.
-Hm, adoro esse vinho. -Disse ela antes mesmo de bebericar, apenas com o cheiro da bebida.
-Eu sei, foi esse mesmo que tomamos quando jantamos aqui, não foi? -comentei me apoiando a bancada, tentando olhar para o fogão na esperança de ver o que Miranda cozinhava.
Ela me pegou no flagra, fechou a panela e me encarou daquele jeito fuzilando apenas com os olhos. Porém, pude ver o tom de brincadeira em sua mirada.
-Não ouse olhar... -resmungou.
-Você ouviu, Cass... -Disse Caroline chamando nossa atenção. -Mamãe e Andy jantaram aqui quando não estávamos... Hm...
-Sim querida Caroline, eu ouvi... -respondi Cass contendo um sorrisinho.
-O que vocês querem dizer com isso? -Disse Miranda de forma firme contendo o sorriso, erguendo a colher de pau em direção as garotas.
-Nada, apenas uma observação... -Se defenderam sem conter o riso, agora realmente gargalhando. Eu não me contive também em rir, beijei o ombro de Miranda, corri meus dedos em sua cintura e pude ouvir seu suspiro. Me afastei logo depois indo me sentar com as garotas na ilha enquanto Miranda ainda cozinhava.

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O jantar foi perfeito. Miranda cozinhava excepcionalmente bem. Eu mal podia acreditar. Quem diria, não é mesmo? Bem, eu já tinha aproveitado aquele jantar que tivemos sozinhas aqui, mas ver ela cozinhando era algo fora da minha realidade e realmente me encantou. Jantamos em harmonia, as meninas contaram que estão planejando o trabalho de ciências deste ano e que iram fazer sozinhas. Não pude não lembrar de mim fazendo o trabalho delas do penúltimo ano. Quando terminamos de jantar, as garotas insistiram em assistirmos um filme na sala com pipoca doce como sobremesa. Miranda ficou na defensiva mas quando eu concordei ela acabou também aceitando. Me ofereci para fazer as pipocas e elas aceitaram.
Quando retornei com os baldes de pipoca, as garotas estavam sentadas no tapete felpudo recostadas ao sofá e Miranda estava sentada ao sofá mesmo apenas me esperando.
Se eu achei a cena fofa? Absurdamente.
Me sentei ao lado de Miranda, ofereci a pipoca a ela que apenas torceu os lábios e se negou com a cara de "você acha mesmo que vou comer essa coisa cheia de açúcar e gordura? Nem pensar." Sorri com o fato, me deliciei com a tal pipoca e me perdi em meio ao filme de comédia.
O filme acabou, Miranda foi levantar-se e então encontrou as gêmeas apagadas em sono profundo contra o tapete. Ela apenas revirou os olhos, sorriu logo depois e então despertou as gêmeas as acompanhando para o andar de cima.
Ambas, antes de qualquer coisa me deram um abraço e um beijo, abraçaram-se a cintura da mãe e subiram as escadas.
-Suba também, já vou ir me deitar... -Disse Miranda já subindo as escadas.
Concordei com a cabeça, levei os baldes vazios de pipoca para a cozinha, tomei um copo d'água e subi para o quarto de Miranda.
Eu havia acabado de escovar meus dentes e colocar a camisola que Miranda me presenteou quando ela entrou no quarto, sorriu para mim e foi para o banheiro.
Ela não disse uma palavra, eu... Muito menos.
Fiquei sentada na ponta da cama esperando que ela saísse do banheiro e quando saiu... Puta merda.
Ela estava com uma camisola toda preta, porém completamente fina. Podia ver sua calcinha de renda e o desenho de seus mamilos mesmo com a luz baixa do cômodo. Ela carregava uma caixa também preta nas mãos, esta que largou ao meu lado me dando um sorriso fatal logo depois. Miranda se apoiou a cama, ficou com sua boca a centímetros da minha e então sua língua correu pelos lábios. Senti minha boca seca e acabei repetindo o ato.
-Você está pronta para o restante do seu presente de aniversário, querida?

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora