Assim que entramos no apartamento a primeira coisa que fiz foi levar Miranda até o banheiro, ajudá-la a tirar suas roupas molhadas e colocá-la como uma criança no banho quente. Enquanto ela tomava seu banho, separei um roupão seco e roupas íntimas para ela, o mesmo para mim. Bati na porta do banheiro suavemente, avisando que entraria ali e assim que entrei ela pareceu sequer se mover.
-Aqui tem um roupão seco pra você é uma toalha. Qualquer coisa...
-Venha cá... -me cortou. -Entre aqui comigo.
Aquilo me tomou inteira.
-Miranda você...
-Por favor... -Interrompeu mais uma vez.
Suas palavras pareceram uma súplica. Eu estava tão atônita com tudo e com tanta saudade que sequer quis pensar um pouco mais. Tirei minhas roupas molhadas amontoando-as contra o chão do banheiro e entrei no box de vidro com ela.
Calmamente, seu corpo se aproximou do meu, me puxando lentamente para debaixo da cascata de água quente.
Ali, ela me puxou para si e me abraçou.
Devolvi o ato, passei a mão por suas costas, acariciei sua nuca e a apertei contra mim. Ela estava tão mais... Magra. Muito mais do que quando comecei a trabalhar com ela novamente.
Miranda me virou de costas para si, acariciou meus ombros, encheu uma das mãos de shampoo logo depois e lavou meus cabelos. Eu me apoiei a parede, deixei que ela fizesse isso sem protestar nada.
-Senti sua falta. -falou baixinho.
-É? Mas e por qual motivo você não me atendeu, mal se despediu de mim ontem, cancelou nosso encontro essa semana... Não retornou minhas mensagens... Eu fiquei preocupada com você. -desabafei sem virar para olha-la.
Ali, toda minha teoria de não me importar com nada apenas em vê-la bem foi pro espaço.
Miranda respirou fundo, fez o enxague do meu cabelo em silêncio e então saiu do box. Acabei me virando sem entender muita coisa e então a vi se enrolando na toalha e logo depois no roupão. Ela abriu a toalha seguinte e me estendeu, pedindo sem palavras que eu deixasse o banho para mais tarde. O fiz.
Sai do box e me sequei enquanto ela estava escorada a parede observando fixo seu reflexo na parede oposta.
-Vamos conversar? -Disse quando me enrolei no roupão.
-Você vai terminar comigo?
As palavras voaram de minha boca e eu sequer as processei.
Miranda riu, um riso solto mas parecia mais de desespero do que de qualquer outra coisa.
-Oh querida... Claro que não, é mais fácil você terminar comigo agora... Vamos deitar então, pra conversarmos lá?
Eu nem questionei, apenas deixei ela entrelaçar nossos dedos e me arrastar para o quarto.
Lá, nos deitamos na cama uma de frente para a outra, Meus dedos brincando com os seus e vice versa, um carinho simples e mútuo.
-Querida... Eu...
Miranda respirou fundo, fechou os olhos como se buscasse concentração e então os abriu uma vez mais me encarando novamente.
-Você percebeu que não estou comendo bem?
Apenas balancei a cabeça em concordância.
-Notou que não estou levando o livro para casa todos os dias?
Balancei a cabeça novamente.
-Percebeu que me afastei de tudo, e não apenas de você, como você pensa?
Nem se quer me movi.
Miranda se aproximou, me puxou para seu peito e eu fui. Deitei em seu ombro, sua mão em minhas costas e seus dedos em meus cabelos molhados.
Me abracei a ela, a prendi com minhas pernas, sabia que algo bom não viria dali.
-Então... Estou...-fez mais uma pausa e respirou fundo. -Fiz uns exames de rotina esta semana... Estava em falta com eles, já devia ter feito há algum tempo.
Aquilo me despertou ainda mais. Ergui meu rosto para encarar seus olhos.
-E... Apareceu algum problema?
-Sim... -disse com certo pesar.
-O que você tem?
Miranda me tirou de seus braços, se sentou na cama e ligou o abajur. Fiz o mesmo, me sentei e a encarei.
-O problema está em algo que você gosta muito em mim...
-Eu gosto de você toda, Miranda. -Digo pegando em suas mãos, segurando-as firme, encarando sua mirada.
-Você não o vê?
-Eu... Eu não estou entendendo.
Miranda fecha os olhos e então os abre novamente um tanto marejados.
-O abajur com a cor...
-Os seus olhos. -a corto.
Miranda balança a cabeça em concordância.
Eu sinto tudo o que já disse pra ela sobre os seus olhos passarem em um flash em minha cabeça em poucos segundos.
-O que você tem?
Eu mal consigo a ver com tantas lágrimas, limpo meu rosto rapidamente.
-Estou com um tumor ocular.
-Um tumor?
Me faltam palavras.
-Sim, se chama melanoma de coróide.
Fico atenta a tudo o que ela diz. Minha cabeça tenta processar as palavras.
-E o que vai acontecer.
-Ainda não sei bem, sai agora a pouco do médico com os exames confirmando.
-Miranda...
O choro volta a minha garganta com força total.
-Hey Querida... -Sussurra ela me puxando imediatamente contra seu corpo. Me movo contra ela, sento em seu colo e então a abraço forte. -Fique calma... Não chore.
-O que vai acontecer? -Sussurro entre meu choro, ainda com a cabeça afundada no pescoço dela.
-Vou fazer o tratamento possível e tentar ficar bem novamente, é isso.
-E quasi são os riscos?
-Você quer mesmo saber? -suspira.
Afasto-me apenas o suficiente para encarar seu rosto e consequentemente seus olhos. Tudo dentro de mim parece esmagado em preocupação.
-Eu preciso saber. Estamos juntas, não estamos?
-Estamos sim querida, mas acredito que...
-Estamos juntas, Mira... E é isso que as pessoas quando estão juntas fazem. Se preocupam, se doam por inteiro... Eu quero e preciso saber.
Miranda fecha os olhos e então acaricia minhas costas.
-Acontece que estou perdendo a visão rápido demais. Principalmente do olho esquerdo. O que preocupa o médico é que com isso o tumor pode se espalhar e afetar outras partes do corpo como pulmões e essas coisas... -Conta. -Fiz os exames hoje, estamos tentando o processo de tratamento o mais rápido possível.
Eu fico completamente em choque. Meu rosto a encara, vejo suas expressões mas é como se eu não pudesse me mover, como se não...
-Foi por isso que você estava me evitando?
-Eu estava evitando tudo, meu bem. Estava fazendo exames, estava processando essa informação toda. Me desculpe por isso.
-Você podia ter me contado.
-Eu sei, mas não pude, não consegui.
-E se não...
-Se não tiver o que ser feito? -me corta. -Corro o risco de precisar da cirurgia de retirada do globo ocular, mas é só um caso extremo.
-Amor...
Eu não consigo controlar meu choro.
-Vai ficar tudo bem querida, vai dar tudo certo...
-Você não é otimista desse jeito, só está falando isso pra me acalmar. -Resmungo.
-Você me faz ser mais otimista, minhas filhas me fazem ser mais otimista, preciso acreditar nisso por vocês.
E pela primeira vez em alguns dias consigo dar um sorriso genuíno, esse que logo é devolvido.
-Eu amo você, Miranda... Amo você.
-Você sabe que eu sinto o mesmo, querida.
Miranda me beija, finalmente nossas bocas entram de encontro e eu sinto tudo virar pó. A preocupação continua ali, mas se ela está ali, eu só quero a fazer se sentir bem. Sentir sua boca na minha era como ter uma pequena noção do sabor do paraíso. Seus olhos tão azuis me faziam acreditar que o céu realmente tinha cor e que era exatamente essa.
Uma pena pensar que essa cor que tanto amo e venero vai ser a sua dor nos próximos tempos... Sua, nossa dor.
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Recontratada [CONCLUÍDA]
FanfictionAndrea jamais imaginou que tudo aquilo que fazia por Miranda ia muito além do trabalho. Depois de partir praticamente sem olhar para trás, o peso do arrependimento a envolveu e logo ela se deu conta do motivo: Estava apaixonada por Miranda Priestly...