Miranda literalmente me amou.
Suas mãos vagavam por meu corpo como se cada milímetro de pele tocado fosse gravado em um arquivo secreto na qual ela temia perder.
Sua boca vagou por todos os cantos de meu corpo; beijou, mordeu... Correu sua língua e me deixou louca por ela.
As sensações que ela me causa jamais poderiam ser comparadas a qualquer outra. Acho que já disse isso inúmeras vezes, mas Miranda sempre será o meu mais inalcançável que de uma maneira extraordinária virou acessível ao meu alcance.
Ali, sentadas ao chão da sala de música sobre o tapete, Miranda estava deitada com a cabeça em minhas coxas observando o teto enquanto meus dedos corriam por seus cabelos os acariciando suavemente.
Sobre nosso ato de amor... Ela não me deixou retribuir. Confesso ter ficado um tanto extasiada com o "hoje não, não precisa..." Mas logo entendi. Ela queria tocar, ela queria provar cada toque sozinha. Poderia parecer egoísmo aos olhos de algumas pessoas, mas eu a entendia.
Depois de nos vestimos adequadamente para sair pela casa com duas adolescentes morando nela, fomos para o quarto. Eu estava exausta e Miranda parecia também estar. No sofá do quarto, as malas dela pareciam me encarar enquanto eu ajeitava os travesseiros para deitarmos depois de mais um banho.
Miranda se afundou contra meu corpo, me prendeu em seus braços de uma maneira quase desconfortável mas que no fim eu não me importava. Ela estava bem, ela suspirava tranquila e isso era o importante naquele momento. Não sei em quando foi que peguei no sono, mas realmente apaguei sentindo seu cheiro tão familiar.O dia amanheceu nublado e estranho. Quando meus olhos se abriram inicialmente eu apenas soube pensar que seria um dia cheio e doloroso. E eu não estava errada.
Tomamos café com as meninas quase como quem não se importava com o horário. Saímos praticamente atrasadas de casa e nada importava mesmo. Quando chegamos a Runway, Miranda me pediu já encarando sua pose de rainha de gelo que organizasse em 15 minutos uma reunião com todos os cargos importantes da revista para dar o comunicado de seu afastamento. Aquilo foi horrível.
Os olhos sobre ela me deixaram completamente vulnerável e era assustador.
Miranda disse com toda a paciência do mundo que estava com problemas de saúde, que iria se afastar por uma semana totalmente da revista e que após esses dias iria trabalhar em sua casa, enviando as informações necessárias para a revista.
O burburinho foi ensurdecedor.
Miranda pareceu silenciar todos com um olhar e ao anunciar que eu a substituiria pela primeira vez a vi exaltar a voz.
-Não quero opiniões sobre minha decisão, quero respeito e que vocês façam o trabalho de vocês como deve ser feito.
Ao fim da reunião, Miranda se retirou com o clássico "isso é tudo" e eu a segui para fora da sala em passos largos.
Ficamos em sua sala por todo o restante da manhã, Amanda parecia tão perdida quanto eu com a notícia e diversas vezes a peguei um tanto atônita em suas tarefas.
Miranda dedicou grande parte do seu dia a me mostrar tudo o que eu teria que fazer ao longo desta semana. Me mostrou cada detalhe, cada vírgula daquilo que agora eu podia ver que não era apenas a "vida" dela como muitos diziam, era amor. Ela amava aquilo. Amava cada corte, cada paleta de cores, cada nuance e textura entre um tecido e outro.
Eu acreditava estar enlouquecendo, afinal... Como poderia aprender tanta coisa em poucas horas, assim... Do nada e com uma carga emocional tão grande?
Porém... Ela que parecia ler meus pensamentos como sempre e antes que eu tivesse um surto me acalmou, pediu nosso almoço e tiramos uns minutinhos para nós duas em meio ao caos.
O único problema foi que ela mal tocou na comida, e eu, a vendo deste jeito acabei comendo mas pareceu formar uma bomba no meu estômago.
-Está tudo bem? -perguntei quando ela parecia tentar virar o brócolis no prato pelo avesso.
Ela apenas balançou a cabeça em concordância, pareceu ver que eu a observava minuciosa e então espetou a "arvorezinha" verde em seu garfo e a levou até a boca.
-Hey... Vai ficar tudo bem. -murmurei tocando seus dedos sobre a mesa.
-Eu sei, no fundo eu sei, sabe? Mas é difícil entender, aceitar as coisas... Você melhor do que ninguém sabe como eu sou, isso é...
-Algo que não está no seu controle? -a interrompi fazendo-a acenar positivamente.
-Isso é desgastante.
-Com certeza é. Mas vai passar... Vai acabar logo.
E honestamente? Acreditava fielmente em minhas palavras. Sabia que não seriam dias fáceis, mas sabia que eles terminariam, que tudo ficaria bem com ela e com seu próprio mar azul.
Depois do almoço, Miranda praticamente andou comigo por todo o Andar da Runway. Confesso não ter entrado em alguns deles nesse tempo que trabalho aqui, apenas ouvia falar ou telefonava, coisas assim... Algo bastante incrível na verdade.
Depois de nosso... Hm, tour, busquei o sagrado café de Miranda e começamos a organizar algumas coisas pendentes de sua agenda, como jantares, desfiles e coisas do tipo. Era 3 e meia da tarde quando o telefone tocou e atendi rapidamente, ouvindo Roy do outro lado da linha informando que já estava pronto para levar Miranda para o hospital.
Ali todas as minhas forças pareceram se esvair, mas mesmo assim consegui encontrá-las onde não existiam por ela, por Miranda.
Fui até sua sala, a avisei do horário e então ela levantou de sua mesa pegando a bolsa e eu lhe entreguei seu casaco. Diferente do caminho de sempre até os elevadores, Miranda foi até a mesa de Emily e reclinando-se suavemente até encara-la próxima aos olhos.
-Cuide de Andrea com esses urubus ao redor dela. -A ouvi sussurrar para a ruiva.
Emily me olhou por cima do ombro se Miranda e vi seus olhos vermelhos e marejados. Tomando uma coragem que nunca vi, Emily agarrou a mão de Miranda sobre a mesa e voltou a encara-la nos olhos.
-Pode deixar... E manteremos tudo em ordem até o retorno da Rainha.
Aquilo me desmontou e a primeira lágrima caiu de meus olhos.
Miranda nao revidou, não disse nada além de concordar com um meio sorriso e se retirar. Seguimos para o elevador e não era apenas impressão minha... Todos os olhos estavam em nós. Miranda colocou o óculos escuro de sempre e quando íamos sair do elevador ela agarrou minha mão com a sua e pude sentir seus dedos úmidos de suor... Suor frio.
Entramos no carro rapidamente, Miranda praticamente me puxou para seu colo e fiquei abraçada a ela o caminho todo. Seu cheiro parecia inundar meu corpo inteiro e só o que eu desejava era gravar ele em cada parte de mim.
Me afastei suavemente dela, beijei seu pescoço, beijei cada pedacinho de sua face e também suas pálpebras.
Ela sorriu, um sorriso estranho e até mesmo vazio.
Quando chegamos ao hospital, Roy nos acompanhou até o quarto onde Miranda ficaria após a cirurgia.
Eu podia ver a veia de seu pescoço pulsando agitada, podia ver seu nervosismo e era impossível ficar calma.
Descemos novamente para a recepção, assinamos os documentos necessários e fiquei até um tanto surpresa quando ela li que ela me deixou como sua "responsável" para qualquer emergência.
Não queria emergência alguma, queria vê-la bem logo, isso sim.
Quando voltamos para o quarto, sentadas em um sofá esperávamos que o médico viesse conversar conosco e levasse Miranda para a cirurgia. Eu estava extremamente nervosa... Não sabia como me acalmar, mas tentava conter tudo, todas as emoções negativas por ela, pelo bem dela.
O doutor não demorou a chegar, explicou todo o procedimento novamente e afirmou que eu não precisaria ficar ali, já que ela ficaria a maior parte do tempo da cirurgia desacordada.
Pedi para acompanha-la até os preparativos da cirurgia e ela aceitou tanto quanto o médico.
Ajudei-a a trocar suas roupas, a vestir até mesmo a toca e quando percebi que precisava me retirar a única coisa que consegui fazer de verdade foi segurar seu rosto com ambas as mãos e beija-la profundamente.
Ela me encarou, os olhos marejados e preocupados.
-Hey... Hey, não fique assim... Vai dar tudo certo. -afirmei uma vez mais.
-Eu sei... -disse ela balançando a cabeça em concordância e logo secando uma lágrima que teimou em cair. -Mas sabe... Estou com medo, de verdade.
-Eu sei meu amor, eu sei... -sequei seu rosto. -Mas vai ficar tudo bem, logo você estará em casa, logo estará dando ordens em todo mundo e também estará comigo te amando como a louca que sou.
Miranda sorriu, um sorriso amarelo e então uma das enfermeiras nos interrompeu para guia-la até o bloco cirúrgico.
Beijei seus lábios rapidamente, toquei seu nariz com o meu e tentei passar todo meu amor e fé na ciência para ela.
Ela pareceu recebe-los.
Antes que ela saísse pela porta, o último olhar revelou com todas as letras o amor que ela dizia ter por mim e o quanto ela estava com medo mas esperançosa.
O doutor apareceu logo depois, me pegou no flagra enquanto eu secava minhas lágrimas e disse que eu poderia ir pra casa, que ao final da cirurgia ligariam me informando como foi.
Apenas agradeci, peguei minhas coisas e fui para casa.
Durante o trajeto, Roy tentou me tranquilizar mas foi bastante difícil. Em casa, dei sorte em pegar as meninas já em seus quartos e bastante sonolentas.
Contei a elas de como foi no hospital, ocultei as partes como as lágrimas e então desejei boa noite a elas, afirmando que se qualquer coisa acontecesse eu as chamaria.
Depois de um banho, a única coisa que consegui fazer foi um café e ficar sentada ao lado do telefone na sala de estar com a xícara em uma mão e o celular em outra.
As horas passavam lentamente, o nervosismo me pegou em cheio e mais uma vez, pela incontável vez me permiti chorar.
Deixar as lágrimas rolaram era a única forma de me livrar do peso das possibilidades.
Já se passava da meia noite quando o celular tocou em minhas mãos e o atendi rapidamente.
Passei os dados pedidos pela moça e não demorei a cair em um choro soluçante outra vez.
Pedi todas as informações possíveis, perguntei casa detalhe do que se passou e fiquei imensamente feliz quando me disseram que amanhã a tarde poderia ir vê-la... Pelo vidro mas poderia.
Quando o telefone enfim foi desligado, me abracei as almofadas e calei cada um de meus soluços ao ponto de minha garganta doer.
Não era mais um choro de dor, era um choro de alívio, de gratidão aos céus por manter minha estrela brilhante bem.
Miranda estava bem, a cirurgia foi um sucesso.
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Recontratada [CONCLUÍDA]
FanficAndrea jamais imaginou que tudo aquilo que fazia por Miranda ia muito além do trabalho. Depois de partir praticamente sem olhar para trás, o peso do arrependimento a envolveu e logo ela se deu conta do motivo: Estava apaixonada por Miranda Priestly...