Se instalou um silêncio na ligação mais uma vez. Diferente dos outros momentos, neste eu não conseguia respirar fundo e falar alguma coisa. Deixei que minha mãe assimilasse tudo sozinha, sem empurrão algum.
O problema é que assimilar da parte dela veio com palavras que eu não queria, que realmente não gostaria de ouvir.
-Como você... Como você pode fazer isso conosco, com todos nós, com... Com você mesma!
A voz de minha mãe eram quase gritos e eu podia ouvir o choro entre as palavras.
-Quer dizer que estar com a pessoa que eu amo e ser feliz com ela vai ser um problema pra vocês?
Quem chorava agora era eu, jamais pensei que seria tão mal tratada apenas por estar buscando minha felicidade.
-Você está sendo egoísta e pensando só em você, pensando em algo que provavelmente nem vai durar mas que vai carregar mágoa entre nós!
Eu fico indignada, puta merda!
-Ah é? Assim como você ouviu o seu pai quando ele disse praticamente a mesma coisa pra você e meu pai?
O silêncio se estendeu uma vez mais.
Eu já não sabia o que dizer, não queria que isso tudo gerasse uma grande briga.
Acabo respirando fundo, buscando sanidade.
-Olha Mãe, não cabe a mim fazer você baixar seu preconceito e aceitar isso tudo, só acho que você não conhece a Miranda que eu conheço e não tem o direito de me julgar. Com isso, apenas peço que respeite minha decisão.
Ouço a respiração de minha mãe, assim como eu ela acaba respirando fundo também.
-Tudo bem, não cabe a mim mesmo escolher sua vida.
-Ótimo. Vocês ainda virão no final de semana?
-Verei com o seu pai, mas acredito que sim.
-Vai falar com ele sobre isso?
-Falarei com ele.
-Bom então.
-Ok filha, preciso ir agora. Tenho que ir ao supermercado.
-Tudo bem, mãe... E... -meus olhos se enchem de lágrimas novamente. -Eu amo vocês, ok?
-Nós também te amamos, Andrea. Te amamos muito.
-Até.
-Até.
Eu fiquei olhando para o nada por bons minutos, tentando entender o que havia se passado.
Quando peguei minha xícara e iria levantar para ir pra cozinha, duas cabeças ruivas me encaravam da porta, ambas com o olhar cabisbaixo.
-Hey... Bom dia. -lhes disse tentando não parecer triste.
Elas caminharam em minha direção, ambas com as mãos para trás.
Quando fiz sinal para elas se sentarem comigo, tiraram as mãos de trás das costas e ambas apareceram com um pacote em mãos.
Meus olhos se encheram de lágrimas mas eu me contive.
-Oh queridas...
Então elas se sentaram ao meu lado fazendo toda a angústia sentida a pouco tempo atrás praticamente desaparecer.
-Feliz Aniversário, Andy... -Disse Cass largando a caixa em meu colo, logo Caroline fazendo o mesmo.
Puxei ambas para meu abraço, beijei a cabeça das duas e agradeci baixinho.
-Ande, abra logo isso... -reclamou Caroline.
Eu ri, agarrei a primeira caixa com laço vermelho que Cass carregava e a abri.
Tirei o papel de seda e meus olhos rapidamente se encontraram com um par lindo e vermelho da Jimmy Choo...
-Pensei que gostaria de um, fiquei na dúvida entre o vermelho e o preto, mas esse é maravilhoso... -comentou a garota sobre o Anouk maravilhoso.
-Eu amei Carol, muito obrigada. -lhe agradeci verdadeiramente.
Então, deixei este presente de lado e peguei a caixa menor, desenrolando o laço dourado.
Quando abri a caixa, meus olhos travaram. Uau, era realmente lindo!
Nada mais nada menos, do que um lindo relógio da Chanel. Sim, um lindo relógio da Chanel da linha mademoiselle. Eu o havia visto já alguns dias atrás em uma exposição, e nem podia pensar no absurdo que era seu valor.
-Isso é... Demais, vocês...
-Mamãe disse para comprarmos o que realmente gostaríamos de lhe dar, mesmo falando que você reclamaria.
-Vocês são iguais a ela.
Ambas sorriem, me abraçam e eu agradeço uma vez mais por seja lá o que ter nos juntado. Jamais pensei em tal coisa, jamais pensei no meu aniversário assim.
Logo depois, nos juntamos a Miranda na mesa do café. Ela me lança um olhar questionador e sei que quer saber sobre como foi com meus pais. Apenas devolvo seu olhar tentando não ficar abalada e ela acaba torcendo os lábios daquele jeito todo dela.
Fazemos nosso desjejum em silêncio, logo depois as meninas se retiram dando um beijo em cada uma de nós e Roy as leva para a escola.
Pego meus presentes na sala e subo para o quarto com Miranda, ela veste seu casaco, pega sua bolsa enquanto eu visto a roupa da noite anterior e arrumo minhas coisas para ir pra casa.
-Você não vai me falar o que aconteceu na conversa com seus pais? -diz naquele tom de voz baixíssimo, seus olhos encarando os meus pelo reflexo do espelho enquanto ela ajeita o brinco.
-Ela... Entendeu, mas não gostou muito.
Miranda respira fundo, me encara mais uma vez.
-Eles só tem que respeitar, afinal, nenhuma de nós escolheu se apaixonar, não é mesmo?
Eu fico surpresa com a fala dela.
-Foi exatamente isso que disse a ela. -lhe conto.
-Ótimo.
Miranda sorri acanhada e se vira para mim, caminhando em minha direção.
-Vamos lá, vou lhe levar em casa e daqui 40 minutos Roy irá lhe buscar para o trabalho.
-Miranda... -resmungo- não precisa, moro perto e...
-Sem mais, é o seu aniversário e quero fazer isso.
Eu não me oponho mais. Aceito como parte de meu melhor aniversário da vida e então seguimos escada a baixo rumo ao carro.
Os olhos de Roy são pérolas quando me vêem saindo da casa com Miranda.
-Bom dia. -nos diz já abrindo a porta Para Miranda, logo para mim do outro lado do carro. Assim que me sento ao lado de Miranda, Diferente do que eu pensava, ela chegou ainda mais perto de mim e se não bastasse agarrou minha mão, colocando-a em seu colo e acariciando meus dedos.
Por meio segundo, vi Roy nos olhar pelo retrovisor e tudo em mim amoleceu.
Era real, estava acontecendo. Não estávamos nos escondendo ou nada do tipo.
Quando chegamos frente a minha casa, no momento em que Roy desceu para tirar minhas coisas do veículo, Miranda me puxou para perto de si e beijou minha boca. Confesso, mal consegui retribuir, estava em êxtase.
Exatamente quando a porta se abriu, Roy limpou a garganta e nós acabamos nos separando.
-Até logo, querida.
-Até.
Sorry para Roy que ainda parecia estático ao lado da porta, agarrei minhas coisas e entrei prédio a dentro.
É seria um longo dia.
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Recontratada [CONCLUÍDA]
Fiksi PenggemarAndrea jamais imaginou que tudo aquilo que fazia por Miranda ia muito além do trabalho. Depois de partir praticamente sem olhar para trás, o peso do arrependimento a envolveu e logo ela se deu conta do motivo: Estava apaixonada por Miranda Priestly...