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Quando o carro parou frente a casa Priestly e meus dedos tocaram a campainha logo depois, jamais imaginei que o susto que eu levaria seria tão grande. Miranda abriu a porta usando um vestido azul, azul cerúleo, e quando encarei seus olhos... Eles estavam tão escuros, tão de um azul diferente... Um par de olhos tão azul cerúleo.
Ela me deu passagem e eu sussurrei um pequeno boa noite. Miranda estava linda... Bem, ela sempre está linda, mas desta vez... Ela parecia estar linda só pra mim. Isso é loucura?
Ela passou por mim em silêncio e eu automaticamente a segui.
-Aceita um vinho? -perguntou ela ainda caminhando em direção a aquilo que agora eu sabia ser a sala.
-Você quer me deixar bêbada sempre que eu vier a sua casa?
Miranda travou automaticamente e então se virou para me encarar. Eu não resisti a piadinha e o sorriso se formou rapidamente em meus lábios. Ela sorriu também, erguendo as mãos em rendição.
-Longe de mim querer isso.
Então ela voltou, se aproximou de mim e antes mesmo que eu pudesse me dar conta, seu corpo estava colado ao meu, sua boca se encontrando a minha, seus dedos entre meus cabelos.
-Deus... O que estamos fazendo? Hm? -Murmurou ela ainda de encontro a minha boca, sua outra mão em minha cintura.
-Eu estou beijando lhe beijando... E você?
Miranda sorriu contra meus lábios, me beijou mais uma vez e me arrastou para a sala. Meu corpo caiu contra o sofá, o seu sobre o meu, suas mãos me explorando e nossas bocas praticamente declarando guerra.
-Eu devia ser mais educada, não é?
-Você pode ser o que você quiser comigo... O que quiser...
Eu era um poço de desejo. Só sabia querer mais, só sabia querer sentir mais seus beijos.
Mas ela se afastou, levantou me dando um suave beijinho e então eu me sentei enquanto ela ia para o bar.
-Acho que essa sua sala tem um nível altíssimo de ocitocina. -Brinquei.
Miranda riu, serviu duas taças de vinho e se sentou ao meu lado me entregando uma delas.
-O que estamos vivendo, Andrea?
Ela não deu pausa, não esperou nada. Sua pergunta veio direta, me tomando em cheio, fazendo todo o meu corpo palpitar.
-Me diga você, Miranda.
O suspiro que saiu dela foi direto.
-Eu estou lhe perguntando diante das respostas que você me deu desde sexta feira. Você me disse que achava estar se envolvendo demais comigo. Isso lhe preocupa?
Eu praticamente pude sentir os cubos de gelo do balde de água fria correrem por minhas costas.
-Não, não é isso... Eu...
Eu não sabia se falava de meus sentimentos, se os guardava... E mais uma vez senti o medo me tomando. Eu não deveria ter medo! Tomo um gole de coragem -quer dizer, vinho- e então me ponho a falar.
-Eu me apaixonei por você, Miranda. -Joguei.- Eu descobri logo após encontrar com você na rua, logo após aquele mísero olhar... Me dei conta de que eu não fazia as coisas pra você por apenas ser sua assistente. Me dei conta de que aquilo me proporcionava um prazer, um deleite... Uma coisa que eu não sabia explicar bem. Me dei conta estar apaixonada por você quando pensava em ficar com alguém e não conseguia... Me dei conta quando Nate tentou me beijar depois de nosso termino e me veio você na cabeça...
Eu não sei o que é isso Miranda, eu não sei quanto tempo pode durar, não sei se pode dar certo... Mas eu quero viver, quero aproveitar isso, desfrutar ao máximo de algo nunca vivido.
As palavras saltaram de minha boca e eu só consegui respirar fundo, tomar mais um gole de vinho e encarar ela nos olhos.
Miranda tomou mais um gole também, lambeu os lábios e então me encarou.
-Quando você me deixou em Paris, senti que você me deixava muito além da sua vaga na Runway. Sentí que você me deixava. Isso foi bastante assustador. Jamais imaginei que seria assim. Se eu lhe disser que não estou preocupada com o rumo que isso pode tomar, eu seria uma grande hipócrita. -Riu ela, ficando seria logo depois. -Imaginem o que vão falar... Nos duas, juntas... Vão fazer da sua vida um inferno, Andrea.
-E você ainda se preocupa com o que falam de você? Eu lhe conheço mais que muitas pessoas, não sei tudo sobre você, mas sei das mentiras que publicam a seu respeito... Sei que você não é assim, você sabe... Então por qual motivo se preocupa?
Miranda suspirou. Suspirou fundo, bem fundo.
-Há algumas semanas falaram para minhas filhas na escola que o Stephen havia me deixado por que eu era uma mulher frígida e sem coração. -confessou. -Um garoto de 10 anos falou isso para elas. Caroline chegou em casa desesperada entre lágrima enquanto Cassidy mal quis falar comigo. Quando entrei em contato com a escola, o aluno disse a um professor que ouviu os pais falarem isso. Ele apenas ligou meu nome com as meninas. Não me preocupo comigo, me preocupo de como as pessoas são capazes de fazer mentiras para afetar uma criança.
Aquilo me pegou em cheio. Miranda se preocupava com as filhas, com o que elas poderiam ouvir dos outros.
-Miranda, sinto muito por isso... E entendo os seus receios. Se eu tivesse filhos, os defenderia da mesma forma. As pessoas não precisam saber, eu não preciso dizer por aí sobre o que temos... Eu só quero... Eu só quero viver isso. O resto não me importa.
Miranda tomou o último gole da taça e então a largou de encontro a mesa.
-Eu não sei se saberia esconder você do mundo... -Ela sorriu com o canto dos lábios. -Ficar nos escondendo? Ficar fugindo?
-Não Miranda... Não é isso...
Eu me aproximei dela, larguei minha taça ao lado da sua e peguei suas mãos. -Eu só acho que podemos nos preservar o máximo, deixar que tenhamos certeza do que estamos vivendo, deixar que... Que suas filhas saibam de como são as coisas antes que tirem opiniões de fora.
-Você teria vergonha de...
-Ah não! -eu nem a deixei terminar, ela não era nem louca de falar isso! -Você não ouse em falar isso, Miranda! Pelo amor de Deus.
-Ok ok... Entendido.
Os dedos dela acariciaram os meus e então ela levou minha mão até sua boca a beijando suavemente.
-Você é uma ridícula muito incrível, sabia?
Eu não pude deixar de sorrir diante do seu comentário.
-Devo aceitar como ofensa ou elogio?
Ela sorriu, sua boca procurou a minha e como se todo o mundo tivesse desaparecido, como se nada mais fosse importante e apenas nós, ela me beijou suavemente, me beijou como se abrisse meu coração e descobrisse todos meus sentimentos. Eu me entreguei a sua carícia, devolvi o beijo e naquele instante eu sabia que depois do jantar não usaria a lingerie apenas para me encorajar. Os toques de Miranda pareciam querer me devorar da forma mais cuidadosa possível e eu só sabia praticamente implorar por isso.

Recontratada [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora