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Acordei mais cedo do que as outras garotas, se é que podia mesmo dizer que havia dormido. Tive um terrível pesadelo em que Molly Weasley perdia a luta para Bellatrix Lestrange. Enquanto fazia minha higiene, a cena macabra invadiu novamente a minha cabeça. O raio verde de Bellatrix, ao invés de passar raspando por debaixo do braço da Sra. Weasley, a acertava em cheio no peito. E ela caia quase em câmera lenta na pedra fria que formava o piso do salão principal. Abri os olhos e balancei a cabeça espantando a lembrança, a temperatura parecia ter caído uns 10 graus dentro do banheiro e meu corpo se arrepiou em resposta. Percebi que seria exatamente assim se aquilo tivesse acontecido, se estivéssemos tocando a vida sem Molly - como se toda a ternura tivesse sumido do mundo.

Apressei o passo quando passei pelo buraco do retrato da mulher gorda e alcancei o corredor. Eu pretendia ir a ala hospitalar e ver como estava Malfoy antes de tomar café da manhã. Quando chegasse lá, provavelmente, ele ainda estaria dormindo, assim como todo o resto do castelo fazia no momento, e era exatamente por isso que eu estava saindo tão cedo. Não queria ter de explicar porque havia ido visitá-lo e, principalmente, não queria que ele soubesse. Mesmo porque, eu não saberia o que dizer.

Abri a porta da enfermaria com o maior cuidado que pude e caminhei quase na ponta dos pés até a cama, tentando não fazer barulho. Ao chegar perto da estreita cama de ferro batido, fiquei paralisada... Malfoy estava deitado de barriga para cima, as mãos atrás da cabeça. Um observador desatento poderia dizer que seu sono era tranquilo, mas o vinco profundo em sua testa dizia o contrário. Ele não estava inquieto, mas, com certeza, não sonhava com algo muito agradável.

Meus olhos correram de seu rosto para seu peito sem o meu consentimento, estudando o rapaz adormecido a minha frente, e vi que o edredom cobria apenas a parte inferior de seu corpo. A parte superior estava totalmente desprotegida, exposta. Malfoy estava sem camisa! Já era setembro, mas em alguns dias, o calor ainda era sufocante. Fechei a boca, que eu nem sabia que tinha aberto. O sonserino tinha o torso muito bem definido, os músculos trabalhados. E, meu Merlin, que abdome era aquele? Não podia ser obra só do quadribol. De repente, voltei a mim... Por que mesmo eu estava ali? O que eu diria se ele acordasse? Eu nem mesmo deveria me importar com o estado de saúde de Draco Malfoy para começar! Quanto mais despencar até a ala hospitalar para vê-lo... ou admirá-lo - isso descrevia melhor o que eu estava fazendo segundos atrás.

- Bom dia, Granger! - saltei para trás assustada, levando as mãos até a boca para reprimir um grito. Malfoy estava acordado? Há quanto tempo? Seus olhos azuis me encaravam com uma expressão entre confusa e divertida.

- Bo... bom dia, Malfoy. - gaguejei pateticamente, por ter sido pega de surpresa. - Só queria checar como você estava. Como está perfeitamente bem e voltou a falar, já vou indo. - disse, dando um passo para trás e me preparando para virar.

- Não! - ele praticamente gritou. - Fique. Ainda não agradeci pelo que fez na plataforma.

- Bem, de nada. Ainda não tenho certeza de porque fiz aquilo, mas está feito, então. - dei de ombros, tentando parecer casual. Eu estava sendo sincera, eu defenderia praticamente qualquer pessoa que estivesse apanhando injustamente. Talvez, exceto, Draco Malfoy, porque ele nunca apanhava injustamente. Exceto, dessa vez. - Por que você defendeu Harry afinal de contas? - perguntei sem cerimônia.

- Porque parecia a coisa certa a fazer...

Bem, eu estava realmente surpresa com ele pela terceira vez em menos de 24 horas. Draco Malfoy fazendo a coisa certa era algo que não se via todos os dias, quer dizer, era algo que não se via nunca. Acho que devia estar com os olhos muito arregalados. Percebendo a minha incredulidade e confusão, ele continuou:

- Eu realmente acredito em cada palavra do que disse naquela estação, Granger. Todos nós amadurecemos com a guerra. E vamos ser sinceros, já estava na hora de isso acontecer para mim. - ele sorriu com tristeza. - Potter não merecia ouvir aquilo. Mas em uma coisa o Weasley... - ele quase cuspiu o nome de Ron. - ...está certo. A culpa da morte de várias daquelas pessoas é minha. Especialmente a de Dumbledore. Eu fiz todas as escolhas erradas, mesmo que na época as justificasse com a desculpa de proteger minha família. Vocês também tinham famílias e, ainda assim, escolheram lutar contra Ele, porque sabiam que essa era a única maneira de realmente protegê-las.

Side Effect (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora