A antiga sala de Remo estava iluminada e confortável, como sempre. Olhar para aqueles móveis e paredes inundou minha mente de lembranças dolorosas. Pensei no pequeno Ted e em Andrômeda tentando reconstruir suas vidas. E não pude deixar de imaginar se Remo e Tonks escolheram Harry para padrinho dele porque sabiam qual poderia ser o seu destino e, ainda, que não havia ninguém que entenderia mais o que o filho iria passar enquanto crescia do que meu melhor amigo.
Alguém abriu a porta interrompendo meus devaneios. Era a garota de cabelos cor de cobre. Ela parecia ainda mais alta de pé. Andava de forma sensual, como todas as garotas de Beauxbatons e tinha um sorrisinho preso nos lábios suaves. Levantei-me imediatamente.
- Annie Potins, senhorita Granger. Como vai? - ela estendeu a mão delicada, com unhas pintadas em vermelho escarlate para mim.
- Muito bem, obrigada. - cumprimentei forçando um sorriso. Na verdade, estarei ainda melhor quando despachar você para bem longe do Hogwarts!, pensei.
- Soube que precisou ser levada à enfermaria no sábado, espero que não seja nada grave. - disse Potins com ironia.
- Oh, não se preocupe. Apenas exaustão. Salvar o mundo pode ser cansativo, mesmo para as pessoas mais preparadas. - retruquei, com um gesto de desdém.
- Mas a guerra já acabou, senhorita. Ou ainda há algo com que se preocupar? - ela fingiu espanto e preocupação.
- Não, não há. Eu me referia a maratona posterior. Festas, entregas de prêmios, homenagens, o assédio dos jornalistas, entrevistas e mais entrevistas. - uma centelha de irritação passou pelos olhos da garota, mas ela conseguiu disfarçar com rapidez.
- Prometo que serei rápida e tentarei poupá-la dos assuntos mais desgastantes. Podemos começar? - Ela disse, sentando-se na cadeira que um dia pertenceu à Lupin.
Vê-la macular aquele lugar familiar e acolhedor fez o ódio borbulhar dentro de mim e tive que trincar os dentes para controlar a vontade de socá-la, ao balançar a cabeça afirmativamente.
Potins começou com as perguntas habituais. Questionou sobre o período que passamos viajando pelo país em busca das relíquias, sobre as dificuldades e o desafio que isso representou para nossa amizade. Depois a batalha final, no castelo. A Ordem. Fez as mesmas perguntas que eu já havia respondido milhões de vezes e cujas respostas ela encontraria com facilidade em qualquer jornal do mundo bruxo. Então:
- Bem, srta Granger. Dizem que relacionamentos que tem início em situações extremas não costumam durar. Acha que foi por isso que não deu certo entre a srta. e o sr. Weasley?
- Que tipo de pergunta é esta? - as perguntas iniciais eram tão repetidas que eu estava operando no modo automático. E, por isso, levei alguns segundos para processar a guinada de rumo da conversa. Potins sorriu abertamente para a minha expressão de espanto e eu rapidamente me recompus. - Digo, não. Não foi esta a razão.
- Então?!
- Não é um assunto sobre o qual eu gostaria de comentar. Direi apenas que Ronald Weasley e eu não estamos mais juntos e esta foi uma decisão conjunta e amigável. - menti descaradamente.
- Entendo. Soube de fonte segura que esteve presente no julgamento dos Malfoy. A srta. não compareceu a nenhum outro julgamento. Por que justamente o dos Malfoy? - engoli com dificuldade. Mas não era como se eu não esperasse por aquilo.
- Alguns de nós acreditam que nem todos os Comensais da Morte puderam realmente escolher se queriam seguir Voldemort ou não. E que condenar todos eles à morte não é o melhor caminho, ou o melhor exemplo, para as próximas gerações.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Side Effect (Dramione)
Fanfiction[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...