A porta da frente havia desaparecido, provavelmente destruída pelo feitiço de Neville. Em seu lugar, restavam apenas pedaços de madeira pendurados nas grandes dobradiças de ferro. Mas um dos comensais havia se colocado em frente a abertura e disparava contra todos que tentavam se aproximar. A formação agora investia contra ele, enquanto tentava proteger Gina e Harry dos ataques que vinham de outros lados. Eles haviam acabado de fazer uma curva para a esquerda e se encaminhavam para outra tentativa de sair, quando Rodolfo atirou. Meu grito desesperado foi abafado pelos sons ao redor, como se eu tivesse tentado gritar debaixo d'água. Nem eu mesma pude ouvi-lo. Harry ia ser atingido em cheio.
Então, a vassoura atrás dele embicou para baixo, na diagonal exata para cruzar o caminho da Maldição. No mesmo instante, Neville conjurou um escudo entre Harry, seu defensor e o feitiço do mal. E foi como se os três - escudo, vassoura e maldição - colidissem no ar. Houve uma espécie de explosão, que encheu a sala de som e calor. Uma bola de fogo se formou no ar e se desfez quase que com a mesma rapidez. E a próxima coisa que vi, foi o corpo de George desabando junto da vassoura rumo ao caos deixado pela batalha. Não me lembro de ter pedido para me darem cobertura enquanto eu corria. Mas alguém estava bem atento aos meus passos, porque quando um comensal tentou se colocar na minha frente, saiu voando antes mesmo de firmar os dois pés no chão. Assim que me aproximei o suficiente acenei a varinha.
- Aresto Momentum
George desacelerou de repente, e pairou por alguns milésimos de segundo no ar, a centímetros do chão, antes de cair com um baque surdo. Quando o alcancei, ele estava de barriga para baixo sobre a vassoura, que tinha as cerdas queimadas, enegrecidas. A manga da camisa havia sumido e o antebraço esquerdo tinha queimaduras escuras que subiam pelo cotovelo e até perto do ombro. O cheiro de carne queimada ardeu em meu meu nariz e fez meu estômago revirar. E a única coisa em que eu conseguia pensar enquanto esticava a mão para tocá-lo era: Por favor! Por favor! Por favor!.
Senti meus olhos arderem e me forcei a engolir as lágrimas por mais alguns instantes. Reuni toda a coragem que jamais tive e, com cuidado, o rodei de lado. A parte da frente do corpo não parecia tão ruim, apesar de a camisa estar destruída, cheia de rasgos e com pedaços faltando em várias partes. Repassei o que sabia sobre queimaduras e seu tratamento imediato, da maneira bruxa e trouxa, e grunhi de desapontamento. Pela extensão dos machucados, não havia nada que eu pudesse fazer, não sem as poções certas. Ele precisava da ajuda de um curandeiro.
- George? - Chamei com um sussurro. - George?!
Mas minha resposta foi o silêncio. O desespero tomou proporções indescritíveis quando percebi que ele não estava sequer respirando. Tentei inspirar fundo para me acalmar, mas o ar se recusava a entrar nos meus pulmões. Então, desisti de lutar contra a ardência no fundo dos meus olhos e, pelo que pareceu a milésima vez naquela noite, fui tomada pelas lágrimas. Só que não consegui me manter na superfície e afundei no desespero. Deixei-me afogar nele. Afastei com cuidado as mechas de cabelo ruivo que tapavam os olhos de George. Seu rosto estava sujo de fuligem, mas livre de queimaduras. O som da risada do gêmeo Weasley soou de repente nos meus ouvidos, aumentando a dor no meu peito, a agonia - que ameaçava me rasgar de dentro pra fora - deixando-me furiosa. Por mais idiota e sem sentido que o sentimento pudesse ser, eu estava com raiva de George por ter entrado na frente daquela maldição. Agarrei a camisa dele com força tentando desesperadamente descarregar minha frustração.
- Você não pode fazer isso. Não pode! Está me entendendo? Sei que sente falta dele, mas precisamos de você também. Não pode simplesmente nos deixar.
Desci com a lateral do punho sobre o peito dele uma, duas, três vezes. Foi quando ele tossiu. Espalmei as mãos sobre o peito de George e aproximei meu rosto de seu nariz. Ele estava respirando de novo. De forma difícil e chiada, mas respirando.
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Side Effect (Dramione)
Fanfiction[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...