Tentei agir da forma mais natural possível, mas não consegui não espiar por sobre o prato de ovos mexidos, que Héstia havia servido para mim, quando Derick entrou na cozinha para responder ao chamado de Andrômeda.
E é claro que fui pega. Os olhos cor de esmeralda encontraram os meus e senti meu rosto esquentar. Precisei apertar os talheres com força para tentar esconder os tremores que chacoalharam as minhas mãos. Um dos cantos da boca dele se ergueu levemente e foi como se alguém tivesse injetado água gelada nas minhas veias.
A lembrança do que aconteceu no sótão veio a tona e ameaçou trazer a comida, que eu havia acabado de me obrigar a engolir, de volta. Eu só queria me encolher em uma bola, segurar a mim mesma e evitar que as beiradas do buraco na minha alma continuassem a desabar, a aumentar o vazio e a dor. Mas não podia, não naquele momento. Precisava retribuir, fingir que aquela cumplicidade existia de verdade entre nós. E foi o que fiz. Ensaiei um sorriso encabulado que acabou por distraí-lo.
De repente, Gui e Carlinhos estavam ao lado dele, segurando-o pelos braços. Por alguns segundos, Derick pareceu surpreso, então, o pequeno sorriso aumentou e ficou carregado de desdém. Os olhos fizeram questão de não deixar os meus e ficou difícil respirar. Apesar de saber que ele estava preso, eu ainda me sentia acuada. Entretanto, fiz questão de me juntar aos outros.
- Finalmente descobriram, não é?! Foi você, loirinha?
A voz ainda era grave e sedutora, mas havia algo como um tom de ameaça, uma vibração que fazia todos os meus sentidos gritarem PERIGO. Finalmente conheceríamos o verdadeiro Derick.
- Gostaria de ter juntado as peças, mas não. - Luna soou realmente desapontada, apesar de muito calma, mesmo sob o jugo do olhar ameaçador dele.
- É claro que não! Foi a sua amiga sabe-tudo quem matou a charada. Mas tenho certeza que você ajudou. Ninguém mais tem cérebro suficiente para isso e ela tinha poucas informações, até você entrar no quarto dela hoje de manhã. Pelo Lord das Trevas! - Ele se virou de novo para mim. - Quer dizer que aquilo tudo foi fingimento, Granger?! Começo a simpatizar com o Malfoy, quase dá para entender a escolha dele.
A frase foi estrategicamente calculada para me atingir, da primeira à última palavra. Desde de a parte em que ele sugeriu algo a mais entre nós até quando citou o nome de Draco. Eu já devia esperar algo assim. Mas fui pega desprevenida. A intensidade com que ele me olhava pareceu mandar ondas geladas por mim. E eu fiquei paralisada e muda. Até que um casaco de feltro marrom interrompeu a conexão. Héstia havia se colocado entre nós.
- Não vai mais se dirigir a ela. Ou a ninguém sem a minha permissão, está me ouvindo? - ela foi firme.
- Desculpe. É que ela parecia tão interessada lá em cima, minutos atrás.
O barulho estalado, como osso encontrando osso fez com que eu finalmente me movesse. E quando consegui me desvencilhar da figura imponente da bruxa, Luna massageava os nós dos dedos da mão esquerda sob o olhar cuidadoso e - notei sem surpresa - orgulhoso de Neville. Uma mancha vermelha começava a se formar sob o olho direito de Derick e o nariz dele sangrava.
- Isso também funciona.
Héstia riu da careta de dor que Derick não conseguiu esconder. E vi que a sra. Weasley estava se segurando para não fazer o mesmo.
- Agora, vamos começar de novo... Onde eles estão?
- Está perdendo seu tempo. - ele desdenhou.
- Garoto, se não colaborar, eu não vou gostar do que vou ter que fazer. Mas você, vai gostar menos ainda.
- Acha mesmo que pode fazer qualquer coisa para me atingir? Me convencer a colaborar?
A risada com que Derick terminou a frase pareceu cortar o ar, carregado de tensão, como uma lâmina afiada. Meu corpo se arrepiou em resposta. Ele estava muito calmo e confiante para alguém pego em flagrante, preso e que estava sendo ameaçado. Alguém que passaria o resto dos seus dias em Askaban. Na verdade, ele parecia estar se divertindo com a situação, quase gostando dela. Estávamos deixando passar alguma coisa.
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Side Effect (Dramione)
Fanfic[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...