Minha cabeça ainda não havia parado de rodar quando alguém me segurou pelos ombros. As palmas das mãos muito quentes, mesmo para o meu corpo aquecido pela movimentação intensa da batalha.
- O que você fez?... Era a nossa chance... Hermione... Por que?
Harry.
- Havia mais- - tentei dizer.
- Mais o que?
- Mais comensais. - Neville se aproximou. - Entraram em enxurrada pela porta da frente assim que a Hermione chegou até a gente. Não ia dar pra fazer mais nada.
As mãos de Harry afrouxaram o aperto. Mas ainda eram firmes ao meu redor, obrigando-me a ficar ereta e, principalmente, encará-lo. A pele dos meus ombros sob elas parecia queimar.
- Como você soube?
- Eu os vi pela janela. - menti.
Os olhos verdes brilhavam na luz fraca do lampião a gás da calçada. Eram como facas, tentando penetrar minha mente, ler os meus pensamentos. Sustentei o olhar com o estômago revirando e um gosto amargo na boca. Odiava mentir para qualquer um, mas fazer isso com Harry tinha um sabor ainda pior. Finalmente ele pareceu convencido, ou simplesmente desistiu.
- Harry, Hermione, Neville! - Luna foi a primeira a surgir pela porta da frente. Estávamos no meio do jardim do Largo Grimmauld. Ainda era madrugada e, felizmente, a rua estava vazia. Mas não ia continuar assim por muito tempo. - Graças a Merlin!
A loirinha correu e se jogou nos braços de Neville sem a mínima cerimônia. Ele ficou vermelho como um pimentão. Quase dava para ver as orelhas soltando fumaça e sentir o calor que emanava dele de onde eu estava.
- Mas que merda, Harry. O combinado era vocês nos avisarem de onde estavam assim que chegassem lá. - Gui desceu as escadas em uma só passada. Sua pele estava amarelada ao redor das cicatrizes deixadas por Greyback, os olhos vermelhos denunciavam seu cansaço.
- Eu mandei o Patrono! - Neville se desvencilhou com cuidado de Luna, mas a expressão dela mostrava que não havia nenhum sentimento além de curiosidade pelo que eles discutiam. - Mas estávamos nas Ilhas Virgens, no Havaí. Pode não ter funcionado por causa da distância.
- Não era tão longe assim, deveria ter funcionado. Demorado um pouco para chegar, mas funcionado. - Carlinhos respondeu pelo irmão.
- Vai ver ele não fez o feitiço direito! - Percy disse sem qualquer emoção na voz, como se comentasse o tempo.
- Eu estava ao lado dele, e posso garantir, estava perfeito. - fui mais ríspida do que deveria, dada a preocupação de todos. Mas a discussão nem havia começado direito e já estava me tirando do sério. A dor pulsante na parte de trás da minha cabeça tinha sido agravada pela aparatação e as coisas estavam começando a sair de foco. Um leve enjoo tinha se instalado na boca do meu estômago.
Ao contrário do calor úmido e do ar parado que havíamos deixado para trás, ventava em Londres, o que aumentava a sensação de frio em nossos corpos quentes. Mas Harry estava suando como se tivesse corrido uma maratona. As gotas escorriam da base do cabelo até suas sobrancelhas e pelas laterais do rosto. Sua pele brilhava sob as gotículas de água e as bochechas estavam muito coradas. Era quase como se ele estivesse febril.
- Não era como se a gente pudesse ficar esperando para ver se tinha funcionado. - ele praticamente rosnou para o cunhado.
Ainda estávamos a poucos centímetros um do outro, então, estiquei o braço e o toquei na testa. Ele estava ardendo em febre. Quando percebeu meu gesto, Harry afastou minha mão com menos gentileza do que normalmente faria.
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Side Effect (Dramione)
Fanfiction[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...