- Lu... Lucius Malfoy está vivo? - Neville gaguejou. - Narcisa está chorando a morte dele agora mesmo.
- Pode ser só encenação. Quem mais deletaria a gente para eles? - Harry foi cético.
- Mas ela nos deu a lista de propriedades. Não faz sentido! - teimei.
- Não faz diferença! A gente se preocupa com isso mais tarde. - Neville disse firme. - Agora, temos que tirar a Gina daqui.
A risada de Rodolfo ecoou na minha cabeça. Lembrar do nojo em sua voz, quando disse que Gina estava grávida, encheu minha boca com o gosto amargo da bile. Um arrepio gelado percorreu meu corpo e lutei contra as imagens que inundavam a minha cabeça. Contra as gargalhadas histéricas de Bellatrix, enquanto eu me contorcia no chão de mármore da Mansão Malfoy. Gina não passaria por isso, não se eu pudesse impedir.
- Já esperamos demais.
Colocando a mão sobre a de Harry, puxei a porta com cuidado. Estávamos no começo de um pequeno corredor, que possuía apenas mais uma porta e terminava em um janela idêntica à que utilizamos para entrar. Do outro lado, à nossa esquerda ficava a sala onde os dois homens conversavam. Ela ocupava quase todo o primeiro andar e os móveis que a compunham eram quase tão pomposos quanto os da própria Mansão Malfoy. Couro preto e encostos de espaldar alto, prata e verde por todos os lados - no sofá e nas poltronas organizados perto da lareira; na pesada mesa de mogno, com pelo menos 12 cadeiras acolchoadas, colocada debaixo de um lustre de madeira e ferro; e até nos candelabros sobre o aparador perto da parede.
Rodolfo Lestrange estava sentado, no que parecia sua pose mais relaxada, em uma poltrona em frente à lareira. Com as mãos pousadas sobre os braços do móvel, o homem batucava os dedos no couro de forma ritmada. Já Lucius - ainda mais magro e descarnado que da última vez que eu o vira, durante o julgamento no Ministério; porém muito limpo e arrumado com os cabelos loiros contrastando com a sua capa negra - era a personificação da inquietação. Mesmo com aquele corpo esquálido e doente; ainda havia alguma coisa no jeito de caminhar, na postura arrogante e na forma dura com que segurava o cabo da bengala; que fazia eu me arrepiar de medo.
Olhei para Harry procurando por alguma instrução ou dica do que ele pretendia fazer, mas o garoto que sobreviveu encarava as duas figuras com uma fúria assassina. Pisei no corredor com cuidado, praticamente na ponta dos pés, prendendo a respiração e congelei no lugar quando ouvi a tábua ranger. Neville, que vinha logo atrás de mim, fechou os olhos com força, como se pudesse fazer o tempo voltar ou o som não se propagar até ser ouvido, se pensasse nisso com vontade. Ele moveu os lábios silenciosamente em um lamento. "Por que sou sempre eu?", perguntou de forma retórica.
Harry também parou, os músculos das costas tão tensionados que se destacavam sob a camiseta preta. Escutei Neville puxar o ar com força e apertei ainda mais a varinha. A capa de Lucius Malfoy farfalhou quando ele se virou na nossa direção. E pela expressão em seu rosto, eu podia jurar que ele estava tão espantado em nos ver ali quanto estávamos em descobrir que ele estava vivo. Não esperei mais, tirei proveito do momento de hesitação causado pelo choque de ambas as partes e ataquei.
- Estupefaça!
Mas o homem bloqueou meu ataque no último segundo.
- Expelliarmus!
- Avada Kedavra!
Assisti, paralisada, a maldição lançada por Rodolfo atravessar a sala na nossa direção. Estávamos muito próximos, praticamente espremidos no pequeno e estreito corredor. A rajada de luz verde podia podia acabar atingindo qualquer um de nós, ou todos ao mesmo tempo. Então, empurrei Harry para fora do caminho. A luz verde já havia tomado todo o meu campo de visão quando braços envolveram a minha cintura e Neville nos tirou da linha de fogo, nos derrubando no chão bem a tempo. A janela no fundo do cômodo se estilhaçou ao receber o impacto e acabamos sob uma chuva de pedaços de vidro.
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Side Effect (Dramione)
Fanfiction[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...