É melhor você ir

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- Gi... Gi... Gina. - Ronald balbuciou de forma idiota. - Você está bem. Que... que bom que está bem.

- Ainda não... - disse Harry seco, ao surgir de trás da noiva. - Mas vai ficar.

Senti alguma coisa pingar na minha mão e vi que Draco estava chorando de cabeça baixa. Ele se recusava a olhar para Gina e Harry. Quando o menino que sobreviveu começou a falar, o sonserino apertou minhas mãos nas dele, envergonhado, e eu soube que ele se culpava por tudo o que havia acontecido.

- Mas não graças a você! - o moreno completou de forma dura.

Em outros tempos, a expressão no rosto de Ronald teria despertado minha simpatia. Entretanto, diante do que eu havia descoberto, o desespero que derramava dos olhos dele não significou absolutamente nada. Eu não conseguia olhar para ele sem me sentir enjoada, quase doente. Minha consciência insistia em contra-argumentar que Draco também havia ferido muita gente, tentado assassinar Dumbledore, colaborado com os comensais. E que se eu havia conseguido perdoar isso, também descobriria uma maneira de perdoar Ronald Weasley. Mas naquele momento, parecia impossível, totalmente fora de cogitação.

- Harry, eu... - Ronald começou. - Eu estava sob o domínio da Maldição Imperius. Depois que... Depois... Eu ajudei!

- Você sabia que Draco estava do nosso lado! - Harry gritou. - Sabia desde o começo e não disse nada... Por ciúmes. Porque estava obcecado com uma ideia deturpada de justiça. Porque precisava se vingar dos comensais, independente das consequências. Faz ideia da diferença que essa informação teria feito?

- Lily ainda podia estar aqui! - Gina completou, falando pela primeira vez, enquanto levava às mãos até a barriga.

A voz dela era dura, havia amargura e dor. Mas também havia cansaço, tristeza e principalmente, decepção. Draco apertou minhas mãos ainda mais. Retribui o gesto, desesperada para encontrar uma maneira de confortá-lo, de fazê-lo entender que não era culpado. Procurei pelos olhos cor de tempestade. As lágrimas haviam cessado, mas as íris azul-acinzentadas ainda estavam escondidas pelas pálpebras.

- Mas... Vocês não... Não iam acreditar em mim... - o ruivo gaguejou. - Você sempre foi o primeiro a desconfiar do Malfoy! - ele disse a frase para Harry de maneira acusatória, como se aquilo o abstivesse da responsabilidade.

- Sabe muito bem que aprendi minha lição. - Harry rebateu ainda seco, mas em um tom de voz mais moderado. - Da pior maneira possível. Você estava lá quando Snape...

O garoto que sobreviveu deixou a frase morrer. Ninguém mais conseguia sequer pensar naquela palavra, no que ela significou e ainda significava, no que tinha feito com nossas vidas.

- Harry... Gina... Eu... eu sinto muito! Eu não queria...

- Sentir muito não vai trazer a Lily... - a voz de Gina tremeu quando ela disse o nome da filha, mas, de alguma maneira, ela conseguiu se recompor e completar de forma fria. - ou mesmo a Héstia de volta.

- Só... fica longe da gente. - Harry sussurrou triste. Seus olhos verdes brilhavam, cheios de lágrimas.

O rosto de Ronald perdeu o restante de cor que possuía. Ele encarou o amigo por alguns instantes, de olhos arregalados e com a boca ligeiramente aberta. Quando o casal se virou em direção à porta do quarto, o ruivo pareceu finalmente despertar de seu estado de choque.

- Você não pode estar falando sério! - chiou. - Quer dizer, eu sou seu melhor amigo... E seu irmão, Ginevra.

- E ainda assim, nada disso impediu você de mentir, de nos esconder a verdade. - Harry disse, ainda de costas. - De arriscar a vida da sua irmã e da sua sobrinha.

Side Effect (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora