As aulas pareceram se arrastar durante todo o dia. Ron me evitou deliberadamente. Sentou-se com Simas em todas as matérias, não falou comigo, não olhou para mim. Como disseram que fariam, Harry e Gina estavam lá para me ajudar. Eles tentaram iniciar conversas sobre diversos assuntos durante o almoço, mas os esforços foram em vão. Meus outros amigos, leia-se Neville, Luna, Dino e Simas, pareciam ainda não ter decidido o que pensar sobre Malfoy. E, consequentemente, sobre como me tratar depois do incidente. Eles não me ignoraram como Ron, mas também não estavam exatamente felizes por eu ter defendido o loiro na estação. Não podia julgá-los por desconfiar as atitudes dele. Todos ali já tinham sido vítimas de suas armações e maldades. Até alguns meses atrás ele era o inimigo.
Durante o jantar, a tensão era tão grande que o ar parecia pesado e eu quase podia ouvi-lo estalar quando meu olhar cruzava com o de Ronald. Eu estava sentada entre Gina e Neville, estávamos falando sobre as últimas descobertas herbológicas que ele tinha feito junto da professora Sprout e como ele pretendia se formar na área, talvez até ser professor. Enquanto ria de uma das histórias dele - algo sobre como ele ainda tinha dificuldade para lidar com Mandrágoras, um tipo de trauma - levantei os olhos para o salão e encontrei Malfoy me fitando. Desviei rapidamente o olhar, não queria piorar ainda mais as coisas.
Quando acabarmos de jantar, Gina, Harry e eu saímos distraidamente do salão principal discutindo amenidades. Subimos o primeiro lance de escadas e alguém pousou a mão sobre o meu ombro esquerdo. Olhei para o lado sobressaltada, com uma pontinha de pânico começando a se formar na boca do meu estômago. Não era muito agradável ter as pessoas me abordando de surpresa na atual circunstância. Poderia não ter consequências nada saudáveis para mim e, principalmente, para a outra pessoa. Sensível era um estado de espírito constante para mim. Eu ainda me assustava com quaisquer barulhos, ainda esquadrinhava os ambientes minuciosamente com os olhos antes de me permitir ficar minimamente confortável e, quando estava sozinha, andava apressadamente olhando sempre por cima do ombro. Passei do nível de "assustada" para "em total estado de pânico", quando constatei quem era a pessoa com a mão em meu ombro. Era Draco Malfoy! Como se eu já não tivesse problemas suficientes!
- O que você quer? - bufei, realmente zangada. Ele levantou as mãos em sinal de rendição.
- Desculpe. Só queria combinar o horário da ronda de hoje e onde vamos nos encontrar. - ele respondeu.
- Não, eu é que peço desculpas. - disse derrotada. - Se importa de me encontrar no topo da escada do corredor do quinto andar, às onze? - eu estava sendo grossa com ele e ele nem merecia isso, dessa vez. Sei que era muito arriscado pedir para encontrá-lo tão perto do salão comunal, onde Ron poderia nos ver, mas a ideia de andar pelo castelo sozinha, tarde da noite, ainda não era muito convidativa.
- Tudo bem. Combinado. - ele tirou a mão do meu ombro... Ele ainda estava com a mão no meu ombro? e saiu escadaria abaixo. Fiquei olhando ele se afastar e percebi que ele evitava fazer contato visual com as outras pessoas. Uma atitude nada condizente com o Malfoy de tempos atrás. Não que ele olhasse para chão, longe disso. Mas as pessoas pareciam não se intimidar mais com ele. Agora era Draco Malfoy quem desviava os olhos...
***
Por garantia, as cinco para as onze eu já estava do lado de fora do salão comunal, esperando a seguros 30 metros do retrato da mulher gorda. Avistei Malfoy assim que ele pisou no último degrau da escada, não consegui esperar mais e fui até ele, fazendo um esforço enorme para não correr.
- Oi. - me apressei em cumprimentar. - Por onde quer começar? Acho que a gente podia fazer a ronda de cima para baixo. É mais rápido descer as escadas do que subir. Apesar que teremos de subi-las de novo, de qualquer maneira... - o nervosismo estava deixando minha língua fora de controle. Eu emendava uma frase na outra sem nem mesmo respirar.
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Side Effect (Dramione)
Fanfiction[...]Eu ainda conseguia ver e sentir a dor no rosto de Draco. A imagem da lágrima solitária escorrendo pela pele branca ficaria gravada para sempre na minha memória. Assim como as palavras que vieram depois: Não importa. Eu serei o pai dessa criança...