A Condessa morta

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A professora baixinha, gorducha e vestida igual uma perua com um cachecol colorido e jaqueta de couro vermelha estava nos fundos da sala falando com uma das alunas quando Daniel, meu melhor amigo, passou na ponta dos pés pela porta, falhando tragicamente na tentativa de ser furtivo graças à sua altura que mais se assemelhava ao armário do meu quarto. Assim que ele deu um sorriso triunfante do tipo "enganei a velha", ela se virou para o moreno, apontando o dedo cheio de anéis.

— Nem pense que eu não vi você chegar atrasado! Pode pegar permissão na diretoria para assistir minha aula! — acusou com o tom grave, se voltando novamente para a garota que tentava entender alguma coisa no livro de biologia.

Havia várias regras na escola Saint Michael e a mais sagrada delas era que se você chegasse atrasado, precisava justificar e pegar permissão do diretor para entrar na sala. Boa parte dos estudantes riu muito de Daniel, inclusive eu. O garoto apertou os olhos na minha direção e correu até a minha mesa, passando os braços pelas minhas pernas e cintura, me pegando no colo e me colocando de ponta cabeça em seus ombros. Arregalei os olhos diante de tal situação, esperneando, e não foi que ele saiu correndo comigo porta afora?

— Me solta, Daniel! — bati os punhos nas costas dele. Um pouco mais para o meio do corredor ele se ajoelhou no chão, me colocando sentada no piso.

— Você tem problema mental? — exclamei, danada da vida. Daniel apenas riu e se levantou, indo até a porta. Eu o segui, controlando meus impulsos mais violentos de lhe dar um soco.

— Professora! — chamou o garoto, entrando na sala — A Esther também chegou atrasada! — mentiu descaradamente e eu fiz a cara mais incrédula do mundo. Como é que é a história?

— Não precisa gritar desse jeito, não tem ninguém surdo aqui! — devolveu, indo até a mesa e revirando um monte de papeis. De repente todos os estudantes ficaram em silêncio — Os dois vão levar suspensão.

— Espera aí! — me intrometi, indo até a mesa dela — Eu estava dentro da sala, você me viu. O Daniel me pegou no colo e me jogou lá no corredor. Eu não tive culpa!

— Eu? — ele arregalou os olhos negros — Nunca faria isso! Jamais! Olhe para mim, professora — Daniel apontou para si mesmo, encarando-a seriamente — Eu sou do tipo que faria uma coisa dessas?

— Para falar a verdade, sim — interrompeu. Alguns risos no fundo foram controlados pelo olhar autoritário da mulher que começava a ficar vermelha de raiva — E isso vai servir para você, senhorita Middtown. Para aprender a não cooperar mais com as gracinhas dos seus colegas.

Eu podia estar sapateando de raiva. Eu realmente estava muito irritada com ela e ainda ia perder a prova que eu tive de correr e quase ser atropelada por um ônibus para chegar até aqui. Mas já que iria levar uma suspensão de graça mesmo, eu iria fazer por merecer.

— A senhora deveria se envergonhar! Olhe para o rosto dessa pobre criança inocente. — declamei, pegando o rosto de Daniel com uma mão e ele me fitou de soslaio, franzindo de leve a testa — Essa pobre criatura ignorante, esse ser que mal sabe ler e escrever com muita dificuldade, esse infeliz que...

— Vai ficar sem parte do rosto se você não parar de apertar! — interrompeu se livrando das minhas mãos, em seguida examinou o maxilar cuidadosamente — Nos pequenos frascos estão as maiores forças, hein Esther. — comentou com certa surpresa e agora a gargalhada foi geral. Dessa vez o olhar autoritário da professora não fizera efeito e Daniel me lançou uma piscada conspiratória.

— Deixa de drama! — gesticulei com a mão e olhei para a mulher que estava perplexa com a situação. Discretamente agarrei minha mochila que estava na classe da frente, eu já sabia aonde tudo isso ia me levar e o quanto custaria convencer Lucius que foi apenas uma brincadeira sem graça. Eu já estava até pensando em todas as desculpas que iria usar. Mordi o lábio como uma criança quando está prestes a fazer algo que não deveria. — Talvez eu realmente tenha segurado com muita força... — inspecionei e me voltei para ela — A senhora acha que a cara do Daniel ficou torta? Tipo, mais do que ela já é? — perguntei seriamente, piscando duas vezes.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora