Quem disse que você não pode voltar para casa?

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Adeus é o escambal.

Ouvi passos apressados baterem contra o piso logo atrás de mim, e no segundo seguinte Sam e Dean estavam ao meu lado, o loiro segurando a Browning fortemente contra o peito e a expressão atônita.

— O que está acontecendo aqui?! — questionou o Winchester caçula, segurando meu braço para me afastar do vidro e olhar rapidamente lá dentro. E mais rápido do que uma batida de coração, eu puxei a arma da mão de Dean e apontei para a porta, dando dois tiros certeiros, um em cada dobradiça. Em seguida a derrubei apressadamente com um chute desajeitado, quase caindo por cima da mesma.

O anjo estava com uma das mãos prestes a tocar o centro do símbolo que girava com labaredas negras de fogo. As paredes já estavam completamente consumidas pelas grandes manchas escuras que mais pareciam grandes infecções apodrecidas.

— Castiel! — gritei enraivecida e o mesmo me encarou com os olhos arregalados enquanto eu apontava na sua direção e puxava o gatilho sem dó. Eu sabia que não conseguiria vencer o curto espaço que nos separava antes que pudesse atravessar o portal, então tive que improvisar qualquer coisa que o parasse. No mesmo instante ele caiu no chão desacordado e eu joguei a Browning de lado, correndo até lá.

— Ela... Ela atirou nele?! — perguntou o Winchester mais velho, incrédulo enquanto me seguia, agarrando-se aos objetos para não ser levado para dentro do purgatório. Agachei-me por cima de Castiel, lutando contra o vento que tragava tudo para dentro do portal e fazia meus cabelos voarem contra o meu rosto. Somente impedi-lo de atravessar não era o suficiente enquanto a graça de Lúcifer estivesse em sua casca, não somente ele quanto metade do planeta corria um risco mortal de ser explodido.

— Nós temos que fechar isso! — exclamou Sam enquanto perdia uma pistola que saíra voando na direção do desconhecido.

— Mas como? — questionou o irmão, derrubando a mesa para fazer uma espécie de barricada entre nós e o portal que engolia tudo ao nosso redor.

Minha mente estava revirada do avesso, a adrenalina enviando ferozes descargas de pânico enquanto o nosso tempo se esvaía. Mas nós não tínhamos minutos suficientes para gastar, eu só tinha uma coisa para tentar agora.

Puxei o moreno pela perna até pegar a faca em sua cintura, cortando meu pulso com tanta força que sabia que poderia morrer de hemorragia. Deixei o sangue escorrer livremente fazendo uma poça no chão, sob os olhos atentos dos irmãos que não deviam estar entendendo nada. Eu lembrava perfeitamente o símbolo que Castiel havia feito na minha barriga, e esperava realmente que o fato de eu ser o verdadeiro receptáculo da graça de Lúcifer contasse para que eu não precisasse de ervas e nem feitiços em enoquiano. Molhei os dedos enquanto puxava a camisa branca do anjo para cima, deixando seu abdômen a mostra e reproduzindo o símbolo. Logo constatei com pavor que não estava surtindo efeito algum.

— Vamos! — gritei sacudindo-o e notando que o mesmo estava mais pálido e debilitado do que antes, filetes de sangue começavam a escorrer pelo seu nariz — Você não vai me deixar desse jeito, eu não admito isso! — exclamei inclinando-me sobre ele para segurar seu rosto e percebendo que a imagem estava embaçando conforme eu sentia que o estava perdendo para a morte. — Por favor, volta pra mim. Eu te amo tanto, por favor... Por favor... — comecei a murmurar incansavelmente as palavras com a voz falhando. Mãos envolveram meus braços, tentando me arrastar dali, então eu percebi que Dean tentava me puxar em direção à porta conforme o portal estava expandindo-se violentamente do tamanho total da parede.

— Nós temos que sair daqui antes que sejamos tragados! — sentenciou duramente, encarando-me com a expressão derrotada.

— Eu não posso deixá-lo!

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora