Daniel

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Horas mais tarde, depois de ouvir os Winchesters recitarem um sermão sobre os diversos tipos de seres sobrenaturais, como matá-los e como reconhecê-los, Daniel conseguiu me raptar para dar uma última volta na cidade. O apartamento estava ficando pequeno para nós e a hostilidade de Dean, o caçador parecia desconfortável com o fato de Daniel ser um anjo.

Estava no final da tarde e o sol sumia por trás dos prédios do centro da cidade de Elwood. O vento abafado jogava os meus cabelos rebeldes para trás e causava uma sensação boa na pele. Tínhamos combinado de ir amanhã de manhã bem cedo pra Sioux Falls, onde morava Bobby, assim mantendo minha localização oculta. Olhei para cima e vendo as nuvens passarem rapidamente por nossas cabeças, uma pergunta me veio à mente.

— Como é lá? — perguntei, quebrando o silêncio — No céu? — Daniel me encarou surpreso, dando um sorriso em seguida.

— Digamos que é harmônico, mas não é nem de perto comparável a terra.

— Claro, aqui é terrível. Tanto roubo, tantas morte, tanta coisa ruim.

— Você está vendo o copo meio vazio, Esther. Você não faz ideia de como a terra e vocês, humanos, são maravilhosos. — disse nessa hora foi a minha vez de encará-lo com surpresa. — É claro, tudo tem seu lado ruim, mas o lado bom compensa. Os sentimentos que vocês são capazes de sentir são tão indescritíveis... Olhe para isso! — ele abriu os braços, girando ao redor. Estávamos na avenida principal, caminhando pela calçada em meio às pessoas que voltavam dos seus trabalhos enfadonhos. — É lindo.

— Eu não vejo assim. — franzi a testa, olhando ao redor e vendo apenas barulho e confusão.

— No céu é tudo ordem e sobre seguir ordens. Anjos não têm vontades próprias.

— Mas você tem. — constatei e ele assentiu uma vez.

— Aprendi a ter no momento em que vi você pela primeira vez, pequena e assustada. Meu ser se encheu de ternura, Esther. — contou com um meio sorriso e meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Já era a sexta ou sétima vez em dois dias, em breve eu estaria entrando no livro dos recordes como a mulher chorona do ano. Limpei uma das lágrimas que fugira pelo meu rosto, eu não conseguia ter mágoa ou raiva de Daniel, mesmo que ele tivesse mentido para mim.

— Por que você fala coisas assim? Não é justo. — lamentei-me, fungando para enfatizar. Será que eu estava de TPM?

— Desculpe, eu li muitos livros inspiradores. — ele riu — O que eu sinto por você é... Eu não sei explicar, eu amo você.

Parei na calçada, encarando-o meio boquiaberta. Como é? Daniel continuou alguns passos até notar que eu havia ficado para trás, então se voltou para mim, me lançando uma careta confusa segundos antes de começar a rir. — Não dessa forma. Eu digo que amo você como... Uma irmã mais nova.

— Você me assustou. — expirei o ar que estava prendendo. Em nenhum momento nesses meus poucos anos de vida eu havia cogitado esse tipo de possibilidade, não com Daniel. Sacudi a cabeça e busquei mudar de assunto. — Tem coisas que você precisa me explicar.

— Pergunte.

— Como você estava perto de mim antes de eu ir para a escola? — questionei, colocando as mãos nos bolsos do casaco que surrupiei de Dean sem ele notar. O caçador já não ia muito com a minha cara mesmo.

— Lembra do seu amigo imaginário...

— Tommy! — exclame, lembrando de partes da minha infância que eu havia esquecido. Como quando eu falava sozinha com o urso de pelúcia que eu jurava ter voz. Agora eu entendia porque, apesar de falar, ele nunca mexia a boca. — Era você!

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora